A vitória de Rui Rio foi um sinal de que os militantes querem renovação e mudança em relação à liderança de Passos Coelho?
Acho que esta eleição, em primeiro lugar, deve ser um momento de entusiasmo no partido. As bases mobilizaram-se na campanha. Foi uma campanha que aconteceu, globalmente, com elevação, se comparamos, por exemplo, com a campanha do Partido Socialista e até com outras campanhas do PSD. E, por isso, existem todas as condições para o partido prosseguir unido. Rui Rio esteve muito bem, no discurso de vitória e durante a campanha, relativamente ao passado. Há um reconhecimento e orgulho no percurso histórico do PSD, mas também há renovação. Há a renovação natural que surge com a mensagem e o perfil do novo presidente e com as pessoas que ele vai trazer.
O passado, nomeadamente a governação de Passos Coelho, é um assunto arrumado?
Acho que o assunto da relação do PSD com o passado ficou bem resolvido. Ao contrário do que aconteceu no PS que, depois de José Sócrates, andou a fazer da relação com o passado uma guerra monumental. No nosso caso não há comparação. Nem há comparação entre as pessoas, porque o país, em geral, reconhece que Passos Coelho contribuiu muito para ultrapassar uma fase difícil e pôr o país a recuperar. Estes momentos são sempre uma combinação de continuidade e renovação.
Isso implica manter ou alterar a liderança do grupo parlamentar?
A situação na bancada, em geral, é uma situação de tranquilidade e de disponibilidade para trabalhar com o novo líder. O grupo parlamentar vai ser um instrumento de força para ajudar Rui Rio a construir uma alternativa. Vejo isso com tranquilidade. O próprio Hugo Soares disse que a situação dele como líder vai ser discutida com o novo presidente do partido. Essa conversa há de acontecer e o assunto vai resolver-se tranquilamente entre os dois. O que eu tenho visto esta semana é que há uma grande vontade da esmagadora maioria – para não dizer que essa vontade é total – dos deputados do PSD de serem um instrumento de força no combate que Rui Rio vai fazer, independentemente das divergências que existiram na campanha.
Quem veio colocar o problema da liderança foram pessoas do PSD. Houve várias pessoas a defender que Hugo Soares deveria colocar o lugar à disposição.
Esta questão vai ser discutida e eu confio que esse assunto vai ser resolvido com toda a tranquilidade, sendo certo que o grupo parlamentar estará unido para ajudar o líder.
O seu nome também já foi falado para a liderança do grupo parlamentar.
Essa é uma questão que não existe. Não existe. Não é um cenário que seja para colocar. Não é por aí.
Miguel Relvas disse, no final da campanha interna, que o novo líder pode durar só dois anos. Isto não prova que vai ser difícil unir o partido?
Cada um dos candidatos tinha pessoas que trabalharam muito para a unidade no passado e pessoas que, em vários momentos, tornaram, isso mais difícil. É normal que, aqui e ali, existam opções diferentes de algumas pessoas. O que eu sinto da parte das estruturas e da parte dos militantes é que há uma vontade genuína de ajudar.
Não concorda que este seja um líder só para dois anos…
Os mandatos são sempre de dois anos, mas o partido, globalmente, não está a trabalhar com esse cenário, porque nós não trabalhamos assim. Nós sabemos o que aconteceu nas últimas legislativas. Toda a gente dizia, em 2014, que o PSD iria perder e ganhou. O que acontece no último ano é, de facto, decisivo. O que significa que há aqui uma oportunidade e aquilo que eu espero de todos os militantes é que, sem perdermos a pluralidade, procurem contribuir. As eleições não estão decididas e decidem-se sempre no ano das eleições. António Costa foi eleito convencidíssimo que ia ganhar e um ano depois estava a perder as eleições. Não perdeu por pouco. Isto deve pôr o PSD numa posição de otimismo. É difícil, mas há razão para otimismo e existe a necessidade de voltarmos a fazer alguma coisa para sermos mais ambiciosos. Os países que passaram dificuldades como nós, como a Irlanda ou Espanha, estão a crescer muito mais do que Portugal. Nós voltamos a divergir da Europa e isto não é aceitável. É muito pouco para criar a igualdade e para retirar pessoas da pobreza como nós precisamos. É muito pouco para darmos oportunidades aos jovens para não saírem. Há aqui um espaço muito grande para o PSD mostrar que não nos podemos resignar a esta mediocridade a que este Governo nos está a condenar.
Não deve ser fácil passar essa mensagem quando as pessoas têm mais dinheiro no bolso e os resultados são bons?
Transformar isto em intenções de voto tem sido difícil e é assim sempre quando o ciclo económico é favorável. Dou-lhe dois exemplos: Sócrates e Trump. Quer Sócrates, nos primeiros anos, quer Trump, agora, beneficiaram de uma fase boa do ciclo económico. Isso faz com que as asneiras e as escolhas erradas de governação não sejam visíveis. Nós lembramo-nos como é que foi no princípio com José Sócrates. É uma realidade que acontece sempre nas democracias.