Mário Centeno estreia-se segunda-feira na condução dos trabalhos do Eurogrupo. A agenda da primeira reunião como líder do fórum que reúne os ministros das Finanças dos países da zona euro tem como ponto forte o programa de assistência à Grécia, mas também as conclusões da sétima missão de vigilância pós programa de assistência financeira a Portugal.
Na primeira semana de trabalho como presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, que iniciou mandato no sábado passado, teve na Alemanha e na França, principais economias europeias e do euro, os seus principais focos de atenção. Uma entrevista ao principal jornal económico germânico e uma visita a Berlim, onde vê sinais «muito encorajadores», para uma reunião com o homólogo germânico, estiveram em destaque, já depois de um encontro em Paris com o Presidente, primeiro-ministro e ministro das Finanças franceses.
Na conclusão da sétima missão pós-programa, realizada entre 28 de novembro e 6 de dezembro de 2017, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu sinalizaram que consideram que a recuperação económica portuguesa «voltou a ganhar ímpeto» mas o ajustamento estrutural planeado «está em risco de se desviar significativamente» dos objetivos. Daí que Bruxelas e Frankfurt apontem que Portugal tem «conter o crescimento da despesa pública» e «utilizar os ganhos resultantes de uma redução da despesa com juros, para acelerar a redução da dívida pública».
O Eurogrupo – com Centeno a presidir aos trabalhos, Portugal será representado no Eurogrupo pelo secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix – irá também analisar o programa de assistência à Grécia, o único ainda em vigor. Para a reunião está prevista ainda uma discussão sobre os passos a dar para a concretização daquela é umas das prioridades de Centeno: o aprofundamento da União Económica e Monetária.
Resistência às crises
Este foi um dos temas que estiveram em discussão logo no início do mandato do novo presidente do Eurogrupo. Em Paris, onde recebeu de Jeroen Dijsselbloem o sino com que este, antecessor de Centeno no cargo, dava início às reuniões do Eurogrupo, o ministro das Finanças português defendeu que existe «uma janela de oportunidade única para aprofundar a união económica e monetária, tornando a nossa moeda comum mais resistente a futuras crises».
Mário Centeno salientou que «não se poupará a esforços para encontrar os consensos necessários». Conseguir os consensos para uma reforma da união económica e monetária é apontado como o maior desafio ao mandato de Centeno. Para esta reforma parece haver já entendimentos, como a conclusão da união bancária ou a criação do Fundo Monetário Europeu, mas a criação da figura de um ministro das Finanças europeu ou a forma como poderá ser reforçado um orçamento de resposta a crises parecem ser temas mais problemáticos.
Na opinião de Mário Centeno, a Zona Euro está em boa condições económicas, com uma posição orçamental equilibrada e posição externa muito favorável, pelo que será preciso «concluir marcos muito importantes como a união bancária» e «discutir uma capacidade orçamental que promova o investimento».
No início do seu mandato, Mário Centeno parece também estar em sintonia com Berlim. O ministro das Finanças da Alemanha, que recebeu o novo presidente do Eurogrupo a meio da semana, considera também que «a Zona Euro está melhor do que nunca» e vê 2018 como um ano de recomeço, garantindo que a Alemanha quer contribuir para o avançar na União Económica e Monetária, mas também na União Bancária.
Peter Altaimer, que substituiu Wolfgang Schäuble no cargo, salientou Portugal como uma história de sucesso, afirmando que «a presidência de Centeno no Eurogrupo produzirá efeitos positivos», mas salientando que é «preciso reduzir os riscos antes de partilhar os riscos». Mário Centeno concordou em «continuar a implementar medidas que reduzam o risco».
Ainda antes do encontro em Berlim, em entrevista ao Handelsblatt, o novo presidente do Eurogrupo disse que pretende ter as medidas para reformar a Zona Euro prontas até junho, considerou que «os sinais que estamos a receber da Alemanha são muito encorajadores».
Sobre ser conhecido com anti-Schäuble, Centeno afirmou que «essa classificação não corresponde e está totalmente fora de ponto. O Governo português está a promover uma consolidação orçamental e ao mesmo tempo a convergir com a União Europeia. Pelas discussões que tive com Wolfgang Schäuble, sei que ele elogia ambas as coisas: um país deve crescer de uma forma equilibrada e deve ter uma posição orçamental equilibrada».