PSD. Rui Rio atento à oposição interna

Apoiantes do ex-autarca do Porto condenam os que se estão a preparar para fazer uma «oposição organizada». Mudanças no grupo parlamentar a seguir ao congresso. 

A turbulência à volta da liderança do grupo parlamentar serviu para mostrar que Rui Rio tem muito trabalho a fazer para unir o partido. «Para ele, as eleições acabaram no dia 13, mas pelos vistos para outros não é bem assim», desabafa um deputado e apoiante do ex-autarca do Porto.

A primeira semana, após a eleição com mais de 54% dos votos, foi marcada pela divisão sobre o futuro da direção do grupo parlamentar. Marques Mendes foi o primeiro a defender que «o que se impõe é que Hugo Soares ponha imediatamente o seu lugar à disposição». Não ficou sozinho. Manuela Ferreira Leite, José Eduardo Martins, Paulo Rangel ou Guilherme Silva também apontaram nesse sentido. 

O líder parlamentar, que apoiou Santana Lopes e foi sempre um dos principais adeptos do passismo, optou por não falar e esperar por uma conversa com Rio. Contou com o apoio de deputados como Luís Montenegro ou Paula Teixeira da Cruz, mas viu dois dos seus vice-presidentes seguirem outro caminho. Amadeu Albergaria e Sérgio Azevedo colocaram o lugar à disposição. «Como é evidente saber perder é saber tirar consequências», explicou Sérgio Azevedo. 

Os apoiantes de Rui Rio apontam para uma renovação no grupo parlamentar. «Isto não pode ficar tudo como estava antes. Alguma coisa vai ter de mudar», diz ao SOL um deputado. Marques Guedes é um dos nomes mais falados por, para além da experiência, ser um nome consensual e respeitado por todos dentro do partido. Rui Rio não abriu o jogo. Nas duas vezes em que falou sobre o assunto, primeiro numa entrevista à RTP e no dia seguinte num encontro com Passos Coelho, garantiu que quer resolver o assunto com unidade, mas «sem hipocrisias da parte de quem ganhou e de quem perdeu». As mudanças que Rui Rio quer fazer no grupo parlamentar só vão acontecer a seguir ao congresso. 

O sinal mais evidente de que o novo líder vai ter de contar com oposição interna foi dado por Luís Montenegro. O ex-líder do grupo parlamentar é apontado como uma alternativa no caso de o PSD perder as legislativas de 2019 e fez questão de clarificar que não está disponível para estar ao lado de Rio. «Não estarei fora do combate, mas não estarei na linha da frente», disse, na TSF, ao mesmo tempo que tornou pública a indisponibilidade para integrar a direção do novo líder. 

A frase é esclarecedora e foi entendida por alguns apoiantes de Rui Rio como a prova que faltava de que Luís Montenegro vai correr em pista própria. «Foi pouco prudente. Não é bom para ninguém ele estar já a assumir-se como oposição organizada. A resiliência do Rio é enorme e sabe fazer as coisas. Se ele enfrentou o Pinto da Costa…», afirma um social-democrata.

David Justino. que coordenou a moção do ex-autarca, não deixou os que querem seguir «um caminho próprio» sem resposta. Numa entrevista à Antena 1, o ex-ministro da Educação defendeu que «tem de haver da parte do líder a vontade de unir, e da parte dos que são liderados a vontade de integrar essa união, se não houver vontade, então há que considerá-los como alguém que não quer ser unido e que quer ter um caminho próprio». E avisou: «Estaremos atentos a isso, como é natural». Feliciano Barreiras Duarte, um dos mais destacados apoiantes de Rui Rio, num artigo no SOL (página 24), também avisa que «o país não perceberia nem nos perdoaria se colocássemos interesses de grupo ou de fação acima do superior interesse de Portugal».

Na noite eleitoral, Rui Rio já tinha alertado que «o PSD não foi fundado para ser um clube de amigos ou agremiação de interesses individuais».

Relvas, Montenegro e um líder para dois anos 

O fantasma de que este é um líder a prazo nasceu mesmo antes de se saber quem era o vencedor, mas quando os sociais-democratas já tinham sondagens que apontavam para a vitória de Rui Rio. Miguel Relvas, no final da campanha interna, defendeu que o «PSD vai ter líder para dois anos, se ganhar as eleições continua, se não ganhar será posto em causa». 

As declarações de Relvas, que já tinha classificado Luís Montenegro como «um dos rostos do futuro do PSD», mereceram uma resposta violenta de Rui Rio. Num debate com Santana, o então candidato garantiu que, se ganhasse, não iria permitir este tipo de comportamentos. «Está a abrir a porta a quem não teve coragem de agora ir. Se o clima dentro é já este, já com as rasteiras e com isto e com aquilo, estamos mal, e se eu ganhar vamos estar mesmo muito mal, porque não vou admitir uma coisa destas».

A referência a Montenegro é clara. O ex-líder parlamentar foi pressionado a avançar, mas preferiu guardar-se para mais tarde. 

Quase 3.500 votos de diferença entre Rio e Santana 

Santana Lopes saiu de cena com a garantia de que vai continuar a «combater politicamente» e que não se arrepende de nada. «Eu tinha de fazer este combate e tinha de fazer esta clarificação. Não ficaria de bem com a minha consciência sem fazer este caminho. Se fosse, hoje, mesmo que soubesse o resultado, faria este combate na mesma», disse aos jornalistas, uns minutos depois de ter assumido a derrota. 

Santana Lopes conseguiu ter 19.244 votos, menos 3.484 do que Rui Rio, que venceu com 22.728. Mais de 70 mil militantes do partido estavam em condições de votar e foram às urnas 42.655 mil. 

O resultado de Rui Rio é mais baixo do que aquele que foi conseguido por Passos Coelho quando chegou à liderança. O ainda líder do partido, que enfrentou, em 2010, Paulo Rangel e Aguiar-Branco, conseguiu mais de 60% dos votos.

Pedro Passos Coelho recebeu esta semana o presidente eleito e desejou-lhe «as maiores felicidades» com a garantia de que a transição para um novo ciclo na vida do partido será feita com «muita naturalidade e responsabilidade».

O congresso do partido está marcado para os dias 16, 17 e 18 de fevereiro, no Centro de Congressos de Lisboa. A comissão organizadora é constituída por José Manuel de Matos Rosa e Feliciano Barreiras Duarte.