A fase de instrução do caso dos comandos, que visa apurar responsabilidades pela morte de dois jovens que em setembro de 2016 frequentavam o curso de Comandos, arrancou ontem no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Requeridas por alguns dos militares acusados pelo MP, as sessões da instrução prosseguem hoje e o debate instrutório está previsto para o final do mês. Finda esta fase, o juiz decidirá se o processo segue ou não para julgamento, o que possivelmente acontecerá ainda durante o mês de fevereiro.
A sessão de ontem consistiu na audição da médica Cláudia Lopes, requerida pela defesa de um dos arguidos, que segundo o “JN” não soube esclarecer se o socorro externo foi solicitado a tempo naquele dia em que o calor e a dureza das provas terá causado mal estar a vários instruendos, situação que viria a ser fatal para Dylan Silva e Hugo Abreu, ambos com 20 anos.
A acusação do Ministério Público neste caso foi conhecida em junho do ano passado. Dezanove militares com responsabilidades no 127.º curso de Comandos foram acusados de 489 crimes, entre os quais crimes de abuso de autoridade e ofensas à integridade física. O 1.º sargento Gonçalo Fulgêncio e os 1.º cabos Fábio António e José Pires somam o maior número de acusações, respondendo por 59 crimes.
O MP considerou que os arguidos agiram com desprezo pelas consequências gravosas que provocaram e que sabiam que a penosidade física e psicológica a que sujeitaram os jovens que participavam na recruta excediam os limites da Constituição e pelo Estatuto dos Militares das Forças Militares. Racionamento de água e exercícios violentos são algumas das matérias em apreciação.
Em setembro, alguns dos militares acusados pelo MP avançaram com o pedido de abertura de instrução.
Ontem o advogado de defesa de um dos jovens que perdeu a vida no curso, ouvido pela RTP, disse compreender a abertura de instrução, confiando ainda assim no avanço do caso para julgamento.
Apesar da polémica, a formação dos Comandos prosseguiu e os responsáveis garantem que foram aprendidas lições. Melhorias no apoio sanitário foram uma das medidas frisadas em setembro do ano passado pelo porta-voz do Exército.