Quem viu em direto nem queria acreditar. Já nos descontos do Nantes-Paris Saint-Germain, na última jornada da Liga francesa, o árbitro da partida, Tony Chapron, apareceu no chão após levar um encontrão de Diego Carlos, central brasileiro que até já passou por Portugal (FC Porto B e Estoril). O choque foi acidental – toda a gente pôde perceber isso logo desde o primeiro momento. Toda a gente… menos o juiz do encontro, que pensou ter sido vítima de uma tentativa de agressão.
Só assim se poderá explicar a sua própria tentativa de atingir o jogador, com a perna, quando ainda se encontrava deitado no relvado. Falhou nesses intentos, mas acabou mesmo por expulsar o defesa brasileiro. Pouco depois, Chapron já era um sucesso nas redes sociais e o protagonista principal num palco que deveria ser para todos, menos para ele.
«Recebi 20 mensagens de todas as partes do mundo a dizer que este árbitro é uma piada», disparou desde logo o presidente do Nantes, Waldemar Kita – o tal que foi ‘traído’ por Sérgio Conceição -, pedindo um castigo de seis meses para o árbitro.
A justiça desportiva francesa também foi célere. Logo no dia seguinte ao sucedido, suspendeu Tony Chapron ‘por tempo indefinido’ e anulou o segundo amarelo e consequente vermelho a Diego Carlos. O próprio Chapron, de resto, veio a público assumir o erro. «Foi um gesto irrefletido e inapropriado. Quero pedir desculpa ao Diego Carlos. Já enviei uma adenda do relatório ao Comité Disciplinar para que seja retirado o cartão ao jogador do Nantes, porque depois de ver as imagens percebi que o seu gesto foi involuntário. Aquando do choque, senti uma dor aguda e num ato instintivo estiquei a perna contra ele», assumiu o juiz.
Danilo e Armas no Brasil
Este não foi o primeiro caso do género. E, garantidamente, não será o único. Ainda na época passada, por exemplo, aconteceu um episódio semelhante em Portugal: ao minuto 79 de um Moreirense-FC Porto, para a Taça da Liga, Danilo chocou com o árbitro Luís Godinho, aparentemente sem intenção. O juiz da partida, todavia, não achou o mesmo e mostrou o cartão amarelo ao médio portista – era o segundo, portanto equivaleu a expulsão. Aqui, a diferença residiu no facto de Luís Godinho não ter tentado retaliar – nem se ter retratado da decisão mais tarde, já agora.
Outros casos houve em que o árbitro tentou – e conseguiu -, de facto, retaliar. Como aquele ocorrido na Liga do Kuwait, em 2013: ao assinalar grande penalidade a favor do Al-Arabi, o árbitro Saad Al Fadhi desencadeou a revolta dos jogadores do Al-Nasr, que o ladearam em protesto. Sentindo-se encurralado, o juiz não se conteve e deu um soco a um dos futebolistas – que por sinal até estava a tentar apaziguar os ânimos -, pontapeou-o e expulsou-o, mostrando também o vermelho a mais dois jogadores da mesma equipa. Após o penálti ser convertido, outro dos jogadores do Al-Nasr chutou uma bola diretamente contra Al Fadhi e também foi encaminhado para os balneários.
Em 2016, num jogo de juniores na Argentina entre o Conventos e o Boca Juniors, o árbitro apareceu em campo denotando claros sinais de embriaguez – chegou a cair no meio do campo. Continuou a conduzir o jogo, até assinalar um penálti muito duvidoso. Após mandar repetir a cobrança, e perante os protestos dos jovens jogadores, agrediu um deles, acabando por ser levado para a esquadra pela polícia. O teste de alcoolemia revelou 1,5g/l de álcool no sangue…
Pela mesma razão, Sergei Shmolik foi banido pela Federação bielorrussa em 2008, depois de ‘arbitrar’ um encontro entre Naftan e Vitebsk – num jogo em que mal conseguiu sair do círculo central do campo. É, desde então, uma sensação no Youtube. Tal como o checo Marek Pilny, que na época passada se apresentou ao serviço como quarto árbitro num encontro da I Liga daquele país entre o Pribram e o Slavia de Praga visivelmente alcoolizado, acabando por ser expulso do recinto.
O caso mais preocupante, porém, será aquele que chegou do Brasil no último verão. Durante a partida entre o Oriente e o Industrial, num campeonato regional amador de Minas Gerais, o árbitro Camilo Eustáquio foi agredido por um atleta após assinalar uma grande penalidade contra o Industrial. Ato contínuo, correu para o banco de suplentes e tirou… uma arma da mochila, voltando a correr para o interior do campo, onde o presumível agressor já não se encontrava – terá fugido do estádio quando percebeu as intenções do árbitro, que também é (ou já tinha sido) polícia militar. Absolutamente incrível.