Branquear “um par de meias brancas”, uma “loira” e até um “Ricky Martin”. A 24 de novembro de 2011, o antigo procurador teve um encontro no Centro Comercial Central Parque, em Linda-a-Velha, onde tirou algumas notas manuscritas que o MP considera fundamentais para que se perceba toda alegada teia de corrupção que a acusação elenca e que visa também o ex-vice-presidente de Angola Manuel Vicente.
Durante a manhã, várias páginas da agenda de Orlando Figueira foram projetadas na parede da sala onde está a decorrer o julgamento, mas a procuradora Leonor Machado parou numas notas em específico. Estava tudo sob as palavras “Angola Gate”. Desde informações privilegiadas sobre a ligação de Orlando Figueira ao estado angolano até pormenores delicados sobre Álvaro Sobrinho.
Pela sua própria mão é escrito que lhe sugeriram que “estava feito com o Paulo Blanco e o Estado Angolano”, havendo até referências a “dois bilhetes de avião”. Mas se as passagens relativas a Paulo Blanco são óbvias, com a abreviatura “PB”, outras não são assim tão simples.
Nas mesmas notas, há dados sobre um processo que envolvia o banqueiro angolano Álvaro Sobrinho: é referido que entrou com um requerimento no processo 77/10.0 TDLSB – em que se investigava uma mega fraude ao tesouro de Angola.
Em tal requerimento, refere a anotação decifrada hoje por Orlando Figueira, que o estado angolano não queria nada de Álvaro Sobrinho, apenas de Pinto Mascarenhas. O antigo magistrado do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) refere que, nesse ecnontro, soube que teria sido o general Kopelipa a forçar o PGR de Angola a decidir nesse sentido.
Confrontado pela procuradora, primeiro Orlando Figueira disse que não conhecia quem era tal general, mas depois acabou por dizer que sabia quem era.
As anotações davam ainda conta de que Álvaro Sobrinho estava envolvido no “branqueamento de um par de meias brancas” (código, que Orlando disse em julgamento não perceber).
Além disso, refere ainda duas pessoas que estariam ligadas ao banqueiro: “Ricky Martin” e uma “loira”. Também disse não saber identificar estes nomes de fantasia.
O antigo magistrado do DCIAP não deu mais informações sobre este encontro, referindo que as informações que lhe foram passadas naquele encontro eram importantes para o seu trabalho, uma vez que à época ainda era procurador e tinha em mãos casos envolvendo a elite angolana.
Decorre hoje a quarta sessão de julgamento do caso Fizz.