Se uma pessoa trabalha numa creche ou num lar, pressupõe-se que tenha doses extra de paciência. Se trabalha num veterinário, que goste de animais. No caso de um museu, que aprecie arte. E se porventura for selecionador de um conjunto feminino de futebol? Toda esta conversa vem a propósito do anúncio feito pela federação inglesa de futebol (FA) esta terça-feira, dia em que anunciou Phil Neville no cargo de selecionador feminino de Inglaterra. A controvérsia em torno desta escolha chegou instantes depois e tudo por causa de algumas mensagens partilhadas há sete anos pelo próprio ex-jogador do Manchester United e do Everton nas suas redes sociais.
Tweets sexistas “Relaxem, estou de volta. Acabei de bater na minha mulher. Já me sinto melhor” foi um dos posts partilhados, em 2011, por Neville no seu Twitter oficial, numa mensagem que fez acender a possibilidade de existência de violência doméstica. Um ano mais tarde escreveu na mesma rede: “As mulheres querem igualdade em tudo menos na hora de pagar as contas. #hipócritas”. Como se não bastasse, Neville voltou a tweetar e a gerar polémica. Depois de ser questionado sobre a razão de se dirigir apenas aos homens na sua publicação, “bom dia a todos os homens”, o lateral explicou que achava que as mulheres “estavam ocupadas a preparar o pequeno-almoço, a vestir as crianças e a fazer a cama”. Confrontado com as suas palavras, Neville pediu desculpa e garantiu “que elas não refletem os seus valores e os seus princípios”, acrescentando que se sente “honrado” com o desafio. A imprensa internacional inglesa diz saber que a FA estava a par dos tweets sexistas de Phil Neville antes de o nomear, estando agora o organismo que rege o futebol feminino do país sob pressão para explicar publicamente o processo de recrutamento para o cargo de selecionador. Aos 41 anos, o antigo internacional é o novo selecionador inglês até ao Europeu de 2021 e rende Mark Sampson, despedido em setembro por “conduta inaceitável e inapropriada” no período em que esteve à frente da equipa feminina do Bristol, entre 2009 e 2013. Há quatro meses, após investigações levadas a cabo pela FA, ficaram provados os comportamentos racistas de Sampson para com Eniola Aluko, na altura avançada do emblema inglês.
Contestação máxima Embora os tweets tenham sido a principal razão do desagrado público na nomeação de Neville, há outras razões que levam à discussão em relação a esta escolha, recaindo estas últimas sobre o futebol em si. É que, por incrível que possa parecer, Neville chega a este lugar sem nunca ter orientado uma única equipa feminina ou masculina, tendo somente desempenhado funções como treinador-adjunto do irmão, Gary Neville, no Valência, em 2015/16, e de David Moyes, no Manchester United, em 2013/14.
À parte todas as incertezas, dúvidas e protestos, Sue Campbell, diretora da FA para o futebol feminino, acredita que se irá construir “uma brilhante equipa com Phil”. “Quando ele apareceu como um dos candidatos, sabíamos que tínhamos a pessoa certa”, defendeu.