O presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, está a ser investigado por tráfico de influências. A informação foi confirmada ao i pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
“O inquérito encontra-se em investigação, não tendo conhecido despacho final”, revelou a PGR. Em causa estão suspeitas do crime de tráfico de influências, não tendo sido ainda constituídos arguidos. O inquérito corre também contra outro dirigente do Sporting.
Esta não é a primeira vez que o nome de Bruno de Carvalho vem associado a problemas na justiça: no final do ano passado, a imprensa noticiou que o MP estava a investigar uma denúncia feita por Paulo Pereira Cristóvão relacionada com a transferência do jogador Tanaka. Pereira Cristóvão alegava que o empresário de jogadores guineense João Carlos Pinheiro intitulou-se representante de Bruno de Carvalho neste negócio, tendo pedido dinheiro ao agente Paulo Emanuel Mendes. Este montante seria depois entregue ao presidente do Sporting, após passar por uma sociedade em Cabo Verde, da qual Bruno de Carvalho era sócio. A denúncia revelava que este esquema já tinha sido usado noutros negócios.
Um mês depois, Bruno de Carvalho usou a sua página no Facebook para revelar que estava a ser investigado pelas autoridades portuguesas no âmbito de uma denúncia anónima sobre “supostas ameaças a árbitros”. “Está mais que visto de onde é que isto vem. Hoje em dia é facílimo. Qualquer cidadão pode fazer queixa de outro de forma anónima atirando-lhe para cima a prática de crimes de homicídio, pedofilia, violação, roubo, corrupção ou seja aquilo que for. O Ministério Público, a partir do momento em que recebe a denúncia, falsa ou verdadeira, é obrigado a investigar (…) Não valorizem estas falsidades porque é isso que os nossos rivais, acossados, querem para nos desviarem do nosso foco”, escreveu na altura.
Em maio do ano passado, o presidente dos ‘leões’ esteve envolvido numa outra polémica: o ‘caso do túnel de Alvalade’. Em novembro de 2016, quando o Sporting venceu o Arouca por 3-0, Bruno de Carvalho e Carlos Pinho, presidente do clube adversário, desentenderam-se na zona dos balneários, levando mesmo à intervenção dos stewards e da Polícia de Segurança Pública – esta altercação levou a uma investigação da FPF. O processo disciplinar que daí saiu tinha como arguidos os dois presidentes, o futebolista do Arouca Velasquez, o diretor desportivo do Arouca, Joel Pinho, filho de Manuel Pinho, e o diretor de campo Luís Carlos Guerreiro Ferrão, entre outros.
O caso da ‘fruta’ O mundo do futebol tem sido manchado por várias polémicas, principalmente entre ‘os três grandes’. Um dos casos mais mediáticos foi o ‘Apito Dourado’, um escândalo de corrupção que incriminou o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, e do Boavista, Valentim Loureiro, entre outros. Este caso envolvia suspeitas de tráfico de influências, corrupção, coação sobre equipas de arbitragem e até agressões.
Um dos momentos mais marcantes ficou conhecido graças a uma escuta telefónica – numa conversa entre Pinto da Costa e o empresário António Araújo, antes do jogo dos ‘dragões’ frente ao Estrela da Amadora na época de 2003/04, é feita uma referência a “fruta”. Segundo o testemunho de Carolina Salgado, ex-companheira de Pinto da Costa, este era o “código para meninas”. O árbitro Jacinto Paixão, que moderou aquela partida, confessou mais tarde que o FC Porto chegou a oferecer-lhe prostitutas: “É verdade que o Porto nos ofereceu raparigas como era habitual fazer, tal como aconteceu no jogo Porto-Académica (4-1), de 2002/2003”, jogo que não foi investigado no âmbito do Apito Dourado.
‘Vouchers’ e e-mails Um outro escândalo mais recente é o dos vouchers e dos e-mails do Sport Lisboa e Benfica – na semana passada, o Ministério Público revelou que decidiu juntar as duas investigações, explicando que existem matérias e personagens coincidentes nos dois casos.
No caso dos vouchers, já existe um relatório final entregue pela Unidade Nacional contra a Corrupção e da Polícia Judiciária, avançou a revista “Sábado”. Esta polémica foi denunciada em direto por Bruno de Carvalho, em 2015 – em causa estão ofertas aos árbitros nos jogos da equipas de futebol do Benfica. O Ministério Público decidiu investigar o caso, mas no mundo desportivo a decisão foi outra: o Conselho de Disciplina da FPF arquivou o caso e o Tribunal Arbitral de Desporto recusou o recurso interposto pelos leões.
Já a polémica dos e-mails partiu de uma denúncia, também através da televisão, do diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques. Em causa está correspondência do presidente das ‘águias’, Luís Filipe Vieira, e o assessor jurídico da SAD dos encarnados, Paulo Gonçalves, com outros membros do futebol português, nos quais eram dadas, alegadamente, informações privilegiadas relacionadas com a Liga, como por exemplo, avaliações de árbitros.
Outro dos temas abordados nestes e-mails é a suposta ‘compra’ de árbitros: “Num email para uma funcionária do Benfica, Paulo Gonçalves pede um quarto em nome de José Ferreira Nunes no seu hotel e dois convites numa deslocação a Dortmund. A que propósito é que tem estas deferências? Tem porque foi alguém que esteve ao seu serviço até deixar de fazer as classificações dos árbitros”, denunciou Francisco J. Marques no Porto Canal.
O escândalo que deu pena de prisão Vale e Azevedo é um dos nomes mais mal-amados do futebol. O antigo dirigente encarnado viu-se a braços com a justiça mais do que uma vez e chegou mesmo a ser condenado.
Vale e Azevedo esteve no Estabelecimento Prisional da Carregueira, em Sintra, até junho de 2016 onde cumpriu parte de uma pena de 11 anos e meio de prisão, em cúmulo jurídico, por crimes de burla e apropriação indevida de dinheiro e outros ilícitos económicos e financeiros nos processos Ovchinnikov/Euroárea, Dantas da Cunha e Ribafria. Para além disso, o antigo presidente do Benfica foi condenado a 10 anos de prisão por crimes relacionados com as transferências dos jogadores Scott Minto, Gary Charles, Tahar e Amaral – Vale e Azevedo foi acusado de se apropriar de quatro milhões de euros do clube e acabou por ser condenado por peculato, branqueamento de capitais, abuso de confiança e falsificação de documento.