Num movimento raro e com consequências sangrentas e imprevisíveis, as forças norte-americanas na Síria atacaram na madrugada desta quinta-feira uma grande formação de 500 homens ligados ao regime de Bashar al-Assad que, segundo Washington, atacava sem provocação posições das milícias apoiadas pelos Estados Unidos, onde também se encontravam militares americanos.
Não se sabe ao certo quantos homens morreram do lado de Assad, mas o número que esta quinta circulava pelos meios de comunicação sírios e norte-americanos indicava que pelo menos cem pessoas morreram combatendo por Damasco. Do lado dos Estados Unidos, não houve mortos e apenas se registou um ferido das milícias curdas e árabes apoiadas por Washington.
O ataque americano, segundo afirmam ativistas no norte do país, foi volumoso, envolveu vários meios aéreos e infligiu em poucas horas um golpe profundo nas tropas do regime a nordeste.
A “escaramuça”, como descrevia um dos comandantes curdos no terreno à Reuters, durou três horas e ocorreu nos arredores da cidade de Deirezzor, que Assad reconquistou recentemente ao moribundo grupo Estado Islâmico.
A zona é muito rica em petróleo e na sua maioria está ocupada pela aliança de combatentes curdos e árabes apoiada por Washington e conhecida como SDF – em inglês, Syrian Defense Forces. Assad quer ganhar terreno, mas as SDF, que também conquistaram aquela zona ao Estado Islâmico, e que na sua maioria se compõem pelas milícias curdas que ocupam o norte do país e querem criar um estado autónomo no pós-guerra, não desejam abrir mão dos avanços.
Na versão americana, as tropas de Assad avançaram de madrugada com veículos lança rockets, tanques e disparos de artilharia, violando a linha de apaziguamento em mais de oito quilómetros. Os EUA, que tinham homens nas fileiras das SDF, responderam com aviões C130, caças F-22 e F-18, drones, helicópteros Apache, artilharia e veículos lança rockets.
O combate de três horas pode revelar-se apenas um incidente isolado, denunciar uma nova estratégia agressiva da parte do regime sírio ou até afetar as relações entre Estados Unidos e Turquia, que parecem próximos de um confronto no norte do país.
O governo turco de Recep Tayyip Erdogan ataca por estes dias e com severidade as tropas curdas no norte do país, que em muitos casos pertencem às SDF sob proteção americana. Para o governo turco, os curdos não passam de satélites sírios do grupo separatista PKK, mas, para os Estados Unidos, as milícias armadas do norte são um parceiro indispensável no terreno e um ator geopolítico importante.
Os combates da madrugada deram-se longe do foco das operações turcas das últimas semanas, mas sinalizam que os Estados Unidos estão dispostos a muito para proteger os aliados curdos. É um alerta a Erdogan contra uma expansão das operações sírias que vem defendendo.