Pelas pontas do mundo

Admiro quem para lá do prazer da aventura por si só traz na bagagem memórias e imagens desses sítios que, de tão inóspitos ou paradisíacos, parecem cenários irreais, quase montados num computador e não pela natureza.

Há portugueses a fazê-lo pelos mais diversos motivos. Há duas semanas Ângelo Felgueiras, que passou 57 dias na Antártida, contou a sua história. Ângelo, que se emocionou quando viu o Polo Sul e também já esteve no Polo Norte e no Evereste, desmistificou , numa entrevista ao i, os motivos que o levam a optar por este tipo de aventuras. «Simplesmente tenho vontade de ir a sítios que preenchem o meu imaginário, queria ver como são». 

Também Maria Cristina, mulher de mão cheia que criou uma fundação para ajudar as crianças dos bairros de lata de Dhaka, a capital do Bangladesh, já esteve no Polo Sul e vem em breve a Portugal contar a sua história.Maria Cristina, que já entrevistámos nestas páginas, foi a primeira mulher portuguesa a chegar a este Polo e a subir o Evereste – tudo para angariar fundos para o seu projeto humanitário.

Esta semana contamos no b,i. a história de outro português que viaja por outros lugares intocados do planeta, desta feita para recolher imagens em time-lapse. Paulo Ferreira, um informático de Gondomar, é pouco conhecido em Portugal mas já ganhou duas vezes o prémio de melhor documentário sobre natureza nos Hollywood Independent Documentary Awards, «uma espécie de Óscares do documentário independente». O primeiro prémio chegou com as imagens das auroras boreais da Noruega, o segundo com as filmagens da Patagónia. Paulo, que foi agora a Los Angeles receber a distinção pelo projeto Patagonia – a Ponta do Mundo, quer que o seu trabalho sirva de alerta para os problemas ambientais com uma tónica positiva, mostrando os cenários intocados pelo Homem e que assim devem continuar. Numa altura em que, pela televisão portuguesa, correm imagens dilacerantes de um rio envenenado, as obras do documentarista relembram-nos da importância da luta por essa essência pura e distante da natureza. Uma lição para o futuro.