O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já visitou ultimamente mais vezes Moscovo que Washington. Foi uma chamada telefónica de Vladimir Putin ao primeiro-ministro hebreu, no sábado passado, que colocou um travão à escalada de declarações mais belicistas da parte de responsáveis políticos e militares israelitas.
A Rússia tem um interesse estratégico na Síria, como provam a suas bases militares e o facto de mais de 50 mil soldados russos já terem passado por este terreno de guerra. Para além disso, a derrota militar do daesh no terreno não diminuiu o barril de pólvora que se tornou o país, com várias forças aéreas, com interesses contraditórios, a bombardearem o terreno: os israelitas, que apoiaram discretamente o daesh, a atacarem forças do hezbollah libanês, que combatem ao lado do regime de Assad, e os seus comboios de reabastecimento iraniano; os EUA a apoiarem com bombardeamentos os opositores do Exército Livre Sírio, e por vezes as milícias curdas, quando a Turquia não está no terreno; os turcos a tentarem matar o máximo de curdos sírios que podem; a velha força aérea síria a atacar o Exército Livre da Síria, os restos do daesh, e as forças ligadas à Al-Qaeda; e os russos a apoiar com a sua força aérea as ações do exército sírios, mas tentando evitar um conflito direto com as forças aéreas dos EUA, Israel e da Turquia.
O abate de um F-16 israelita no sábado passado, o primeiro avião de combate hebreu abatido desde 1982, enquanto bombardeava posições militares iranianas, perto de uma base aérea russa, base T-4 perto da cidade de Tadmor, veio aquecer ainda mais o caldeirão.
Em declarações feitas ontem, o secretário-geral da ONU, António Guterres apelou para as várias partes do conflito sírios “trabalhassem para baixar imediatamente o nível de violência e restringir o conflito”.
A situação está longe de estar pacificada. O governo e os militares israelitas consideram, cada vez, mais provável a existência de um conflito que coloque tropas israelitas e iranianas em conflito direto.
Por seu lado, os sírios prometem novas “surpresas” para Israel em caso que insista em bombardear o seu território. “Temos a plena confiança que o agressor [Israelita] ficará muito surpreendido, porque pensa que esta guerra – uma guerra de agressão que sofre a Síria há anos – nos tornou incapazes de responder aos seus ataques”, declarou Ayman Soussan, vice-ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, em conferência de imprensa em Damasco.