PSD. Hugo Soares sai. O fim de uma liderança para-lamentar?

Confirmou-se ontem a notícia que o i dera ainda antes da eleição de Rui Rio: Hugo Soares não fica líder parlamentar do PSD. Seis meses depois de suceder a Montenegro, demitiu-se

No dia dos namorados, o grupo parlamentar do PSD enviuvou.

Ontem, em reunião da bancada, Hugo Soares anunciou a sua demissão da liderança da dita, após pouco mais de seis meses como sucessor de Luís Montenegro.

Fonte próxima do jovem social-democrata de 34 anos garante que este “não se recandidatará” contra o nome preferido por Rui Rio para o seu lugar “em qualquer circunstância”, apesar de algumas vozes terem declarado apoio a essa intenção durante a reunião de ontem.

Desculpe, importa-se de repetir?

Ao que o i apurou junto de deputados presentes, Hugo Soares relatou que “o dr. Rui Rio disse que, salvo raras exceções – dois deputados que ouviu – todos lhe deram nota” de que Hugo Soares deveria abandonar o cargo.

Matos Correia, vice-presidente da Assembleia, terá pedido a Hugo para repetir o relato, “que não teria ouvido bem”, causando um momento tenso na sala. E Paula Teixeira da Cruz, ex-ministra que já viera defender publicamente a manutenção de Hugo Soares, deixou claro na reunião que “o apoiaria caso este se quisesse recandidatar” à liderança de bancada, isto é, mesmo contra um nome preferido pelo novo líder do PSD: Rui Rio.

Hugo manteve silêncio total sobre essa possibilidade, sabendo o i que tal não ocorrerá, como já referido.

O ponto que o demissionário salientou foi outro: Rio ter-lhe dito que a generalidade dos consultados pedira a sua saída, à exceção da parelha não nomeada. “Isso pesou” na decisão de demitir-se. “Não poderia ficar indiferente” a saber que só dois deputados haviam pedido a Rio que o deixasse ficar. “Eu li o que vinha nos jornais”, argumentou Hugo, sendo que estes tanto reportaram a insatisfação de Rio com as suas prestações, como a tendência – e o apelo – para a sua substituição.

Hugo Soares, agora ex-líder parlamentar do PSD – e próximo de um eventual futuro líder do PSD, Luís Montenegro – relembrou de igual modo que “desde início” dissera que trabalharia com qualquer eleito nas diretas de janeiro – ou Rio ou Santana, tendo apoiado o segundo – “desde que isso não ferisse a vontade política do líder eleito”. E, está visto, fere mesmo.

No sábado, contou Hugo, Rio anunciou-lhe que não contava consigo e que desejava “trabalhar com outra direção”.

“Embora o grupo parlamentar do PSD seja um órgão autónomo, não há presidente do grupo parlamentar contra a vontade determinada do presidente do partido”, concedeu.

Em relação ao relativo adiamento da decisão – afinal, as pressões para colocar o seu lugar à disposição começaram logo que Rio ganhou a corrida interna –, Hugo afirmou que direção de bancada – que assim, solidária, se demite com ele – não o fez antes para não deixar um vazio de poder durante tempo excessivo. Agora, com o congresso já no próximo fim-de-semana, não se prolongará esse vazio.

Dos vice-presidentes de Hugo Soares que deste modo saem, três já tinham colocado o lugar à disposição por terem apoiado Santana Lopes e este ter perdido: Amadeu Albergaria, Sérgio Azevedo, Miguel Santos, que fora coordenador político nacional de Santana, e Carlos Abreu Amorim.

Uma liderança para-lamentar?

A liderança parlamentar de Hugo Soares, que começou atribuladamente ainda antes do seu início – com a deputada Manuela Tender a incentivar os colegas a reconsiderar a opção via correio eletrónico –, passando depois por “exigir” ao Ministério Público a revelação dos nomes dos defuntos nos incêndios de Pedrógão Grande e por uma lei do financiamento partidário merecedora de veto literal do Presidente da República – e vocal de Rui Rio –, chega então ao fim.

Os nomes para a sucessão são muitos, como aliás foram aquando da prévia saída de Montenegro, mas, também como aí, devem terminar num só.

Desde a vitória de Rui Rio no mês passado, Marques Guedes, que já exercera a função, recusou; Matos Correia, mestre dos ‘nãos’ a tão desejados postos, repetiu semelhante nega.

O nome de Fernando Negrão foi apontado na segunda semana de janeiro pelo semanário “Expresso”, como um apoiante de Santana capaz de fazer a ponte com os ‘rioístas’. O ex-ministro, sabe o i, não é inteiramente consensual, mas a verdade é que Hugo Soares também nunca foi.

Num jantar entre Salvador Malheiro, que dirigiu a campanha nacional de Rui Rio, e meia-dúzia de deputados próximos do novo presidente ‘laranja’, a hipótese que saiu com mais força do encontro foi Luís Campos Ferreira, que já fora dado pelo i como um dos deputados em ascensão nesta mudança de ciclo.

Ricardo Baptista Leite, Rubina Berardo, Bruno Coimbra e Cristóvão Norte também, e são possibilidades fortes para nova direção do grupo parlamentar, como vices. António Leitão Amaro e Adão Silva, os únicos da direção de Hugo Soares que, contrariamente ao próprio, apoiaram Rio, devem permanecer.

“A escolha”, explicita um dos homens do núcleo de Rio, “é de Rui Rio, só de Rui Rio, e já está tomada”.

Abreu Amorim, que saiu com Hugo Soares e é um crítico de primeira hora do ‘rioísmo’, já veio avisar da possibilidade de o deputado selecionado por Rio para líder parlamentar colher votos em branco em jeito de resposta à “purga”. Afinal, rezam os estatutos, são os deputados que votam a presidência da bancada. Assim como foram os militantes a votar a presidência do partido.

A eleição do novo líder do grupo parlamentar será dia 22 de fevereiro, na próxima semana. A consagração de Rui Rio será antes, já este fim-de-semana.

Rio confirma manchete do SOL

Rui Rio convidou Pedro Santana Lopes para encabeçar a sua lista ao Conselho Nacional no congresso do próximo fim de semana, repetindo o gesto de Passos Coelho em 2010, que convidara Paulo Rangel para o mesmo. A intenção fora avançada no passado sábado pelo semanário SOL. Rio conta com Santana para unir o partido e o ex-primeiro-ministro não está indisponível para convites.