PSD. Rio ignorou opinião dos deputados para a liderança parlamentar

Foi sozinho que o líder eleito escolheu o novo presidente do grupo parlamentar. Depois do jantar de “auscultação” aos deputados, em que o nome de Campos Ferreira foi o mais falado, Rio deu o aval a Fernando Negrão. Se a ameaça de votos brancos começou por vir do passismo, agora o tabuleiro virou

Rui Rio foi eleito sob três esperanças: maior sensibilidade social do que Passos Coelho, menor isolamento na liderança do que Passos Coelho e melhores resultados eleitorais do que Passos Coelho. Secreta ou publicamente, os apoiantes da sua candidatura a presidente do PSD apostaram nessa trindade de mudança. 

Ontem, contudo, e ainda antes da liderança propriamente dita começar, caiu a primeira dessas três esperanças: o isolamento em torre de marfim de que Passos era acusado na São Caetano à Lapa – de decisões muito centralizadas e diversas vezes à margem da maioria dos deputados – foi o mesmo isolamento com que Rui Rio escolheu o novo líder parlamentar do PSD.

A decisão – até do próprio Fernando Negrão – havia sido remetida para o congresso, que começa hoje à noite, mas o anúncio foi antecipado, evitando-se misturar águas. Ontem, somente um dia depois de a bancada eleita no tempo de Passos se demitir, Fernando Negrão anunciou que é candidato ao lugar que foi de Hugo Soares durante seis meses. 

Rio escolheu sozinho 

O ex-ministro enviou uma mensagem aos colegas de bancada, a que o i teve acesso, e deu uma conferência de imprensa em que oficializou a intenção. 

O primeiro vice-presidente – isto é: o responsável pela coordenação política da nova direção – será o deputado Adão Silva, amigo pessoal de Rio e um dos únicos vices de Hugo Soares que apoiou o nortenho nas diretas. A maioria restante, que apoiou Santana Lopes, dará lugar a rostos que facilitem a transição do ‘passismo’ para o ‘rioísmo’. Até aí, tudo bem. 

O problema está no facto de Fernando Negrão, que a semana passada já se dissera publicamente “preparado” para a liderança parlamentar, não ser o favorito entre os deputados apoiantes de Rio para assumir o posto de Hugo Soares. 

O i sabe que o avanço de Negrão – com o conhecimento e aval de Rio – causou surpresa e até revolta nos parlamentares ‘rioístas’, que sempre favoreceram Luís Marques Guedes e que, após a sua recusa, se haviam aproximado de Luís Campos Ferreira como possibilidade. 

Menos vices 

A escolha de Rio, independente das opiniões daqueles que o apoiaram na Assembleia, gera então desassossego entre os mesmos. E o desejo de reduzir o número de vice-presidências na direção de bancada também. 

Se não surpreende ninguém que os mais próximos do passismo se afastem da linha da frente, surpreendeu bastantes que os lugares nessa linha minguassem, ao que apurou o i. 

“O problema não tem nada a ver com Negrão. Não é pessoal. Nem sequer tem a ver com o facto de ter apoiado Santana Lopes [como Hugo Soares fez]. O problema é que a vontade consensual era de ver uma nova liderança de bancada, com autoridade e estabilidade no grupo parlamentar. Sem Marques Guedes isso torna-se difícil. Levanta-se a questão de ‘porquê mudar’?”, lamenta um dos deputados que votou Rio na eleição interna do mês passado. 

Auscultação ignorada 

Luís Marques Guedes, que já fora líder parlamentar durante a presidência de Manuela Ferreira Leite ao leme do PSD, que fora ministro do governo de Passos Coelho e que já fora também falado para regressar à função aquando da saída de Luís Montenegro no verão passado, teria essa facilidade, de ter respeito institucional tanto junto dos ‘passistas’ como de Rio. 

Negrão vê, assim, dificuldades. Por um lado, de uma ala mais ortodoxa que defendia a manutenção de Hugo Soares e não aprecia a mudança de ciclo que chega com a saída de Passos Coelho. Por outro lado, junto daqueles que desejavam essa mudança de ciclo – os rioístas – mas não com Negrão a líder parlamentar.

O jantar de auscultação aos deputados ‘rioístas’, no início do mês, em Coimbra, que serviu para Salvador Malheiro, diretor de campanha de Rio, colher opiniões sobre liderança parlamentar, tendo sido Campos Ferreira o nome mais falado, acaba, deste modo, ignorado por Rio. 

Revolta sem rebelião 

O i sabe que não passa pela cabeça dos ‘rioístas’ rebelarem-se contra a escolha do novo presidente do partido – até porque haverá oposição interna que sobre durante os próximos dois anos – e até Hugo Soares deixou ontem claro, em entrevista à SIC Notícias, que uma candidatura única – a de Negrão, portanto – seria o ideal para a bancada.

Não deixa de ser revelante, todavia, que as críticas que antes se apontavam a Passos sejam já dirigidas a Rio, quando o ex-presidente da Câmara do Porto ainda nem chegou à sede nacional.

Na mensagem que Fernando Negrão enviou a todos os deputados, foi manifestada “uma forte vontade de inclusão”. Agora, falta a ver se os deputados a proporcionarão com ele.