Rui Rio tem uma relação distanciada com os media, na linha de Cavaco Silva e de Passos Coelho. Desde os tempos em que foi secretário-geral do PSD, com o ultra mediático Marcelo Rebelo de Sousa como presidente do partido, Rio evita entrevistas, declarações à imprensa e entrou na corrida à liderança do PSD com uma apresentação formal da sua candidatura com prévia e expressa menção de que faria uma declaração pública sem direito a perguntas dos jornalistas.
É um estilo, a que se manteve fiel enquanto presidente da Câmara do Porto. E não pode dizer-se que se tenha dado mal.
Sem lugar no Parlamento, e não podendo ficar remetido às paredes da S. Caetano, porque falta pouco mais de ano e meio para as legislativas, Rio vai ter de adaptar-se e mudar de hábitos. Mas ninguém espere que se transforme.
Com Rio, os vice-presidentes do partido, seja Mota Pinto ou Morais Sarmento (um deles presidente da mesa do Congresso), David Justino ou Castro Almeida, sejam os ‘rookies’ nestas andanças Salvador Malheiro ou Batista Leite, ou o secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte, e o líder da bancada, Fernando Negrão, vão com certeza ter intervenções públicas mais frequentes do que o próprio líder. Ainda que, claro, em nome e articulados com o presidente.
Rio parte, porém, com uma vantagem enorme em relação aos seus antecessores. Neste peculiar mundo dos media portugueses, em que o palco do comentário político foi tomado e entregue a atores político-partidários, às dezenas em todos os meios de comunicação e particularmente nos programas de informação dos canais televisivos, Rui Rio será o primeiro presidente do PSD a contar com uma primeira linha de comentadores encartados alinhados com a sua estratégia.
Até aqui, e ao contrário do que historicamente acontece com o PSD – em que os militantes-comentadores quase sempre foram desalinhados do partido ou tinham agenda própria (maxime o ex-comentador professor Marcelo) –, só os líderes do PS gozaram sempre de permanente estado de graça entre os opinadores-militantes. Excluindo António José Seguro, que teve num deles o seu assassino político, o tal que, após as europeias ganhas por Francisco Assis, responsabilizou o então secretário-geral por ter conduzido o PS a uma vitória ‘por poucochinho’.
Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Nuno Morais Sarmento, Pacheco Pereira, Luís Álvaro Campos Ferreira, Leitão Amaro, Pedro Duarte, José Eduardo Martins ou até mesmo, a partir de amanhã, Pedro Santana Lopes… farão nos seus espaços públicos de comentário e opinião, com maior ou menor entusiasmo, bom eco das teses e propostas do líder social-democrata. Sem necessidade de cartilha.
Luís Montenegro ou Paulo Rangel, se não estão alinhados com o novo líder, também não irão demarcar-se dele ao estilo suicidário de Miguel Pinto Luz ou Carlos Abreu Amorim, porque disso não precisam para afirmarem o seu posicionamento para o futuro do partido. Ou Carlos Moedas, cujo tempo passado em Bruxelas e na Comissão Europeia já o fez derivar da linha liberal de Passos Coelho para a social-democracia de Rio.
Pode ou não gostar-se do estilo, mas Rio não vai passar pela liderança do PSD como o seu arquirrival portuense Luís Filipe Menezes. Se fez história – para o bem e para o mal – como secretário-geral do partido, tem agora a oportunidade de deixar a sua marca como líder do partido.
Veremos se, e como, a aproveita.
Para já, tirando uns fogachos de francoatiradores, tem todas as condições para dizer de sua justiça. Interna e externamente.
Santana já lhe estendeu a mão, Mendes já tem as suas pontes com Castro Almeida e Álvaro Amaro a regressarem à ribalta, Sarmento e Mota Pinto são apoiantes incondicionais, Pacheco Pereira ficou comprometido com a diatribe que aprontou a Santana na véspera da eleição do líder.
E Ferreira Leite já deu o exemplo no último comentário semanal, apelando a que os gatos desamparem o saco do PSD e deixando claro que ela própria já cortou as unhas.
Pedro Passos Coelho, que nunca contou com tal apoio, despediu-se ontem da liderança do PSD. Sob o aplauso geral dos sociais-democratas. Merecido. E para muitos arrependido. Porque foi um grande líder.