«Os humildes sofrem quando os poderosos combatem entre si».
Fedro
O atual Governo liderado pelo Partido Socialista, em coligação parlamentar com os partidos políticos da extrema-esquerda – usando aquilo que poderemos qualificar, política e juridicamente, de ‘parlamentarismo unilateral de conveniência’ –, já governa Portugal há dois anos e quatro meses.
Ou seja, já cumpriu quase 60% da sua legislatura de quatro anos. Contrariando convenções políticas de décadas, a pretexto de uma nova interpretação (e deriva) jurídico-constitucional do sistema de governo português, impôs ao país uma solução governativa nunca antes testada.
Entre outras evidências, destaca-se que, pela primeira vez, temos na história eleitoral democrática portuguesa um Governo liderado por quem perdeu eleições e uma oposição liderada por quem ganhou eleições.
Ao mesmo tempo, concorre com tais evidências a inovação jurídico-constitucional e parlamentar de que temos na prática a extrema-esquerda portuguesa no Governo – assumindo até, em várias políticas públicas, um protagonismo superior ao do Partido Socialista.
E se o país – não só o país político mas também ‘o país que funciona’, e que faz coisas bem feitas – já se resignou a este parlamentarismo unilateral de conveniência (que o Presidente da República tem vindo paulatinamente a refrear), ao mesmo tempo aguarda que exista uma oposição política forte, esclarecida, combativa, alternativa, capaz de mobilizar os portugueses em nome do futuro e do Portugal mais moderno. Sintonizando as expectativas dos jovens, das classes urbanas e dos empreendedores.
O PSD tem essa obrigação. De fazer o seu luto definitivo pela saída do Governo em 2015. De saber interpretar e protagonizar, junto dos portugueses, um novo desígnio para o país. De se abrir à sociedade, adotar a cultura do mérito, temperar o seu lado ‘pimba’ e cartel, modernizando-se e reconciliando-se com os portugueses.
Sem deixar de ser coerente. Fazendo o luto sem perder a coerência. Dizendo verdades que incomodem. Como, por exemplo, que, ao contrário do que a ‘geringonça’ diz, a austeridade não acabou. Mudou foi de estilo. E de vítimas.
Porque o atual Governo, para satisfazer quem protesta e quem reivindica, tem tomado várias decisões gravosas para o futuro do país. Aliás, o Governo tem defendido mais quem reivindica do que quem mais precisa. Adiando reformas fundamentais em várias áreas da governação, essenciais para o futuro do país.
Muitas vezes, ao ouvirmos o atual primeiro-ministro, ficamos com a sensação de que quer dizer aos portugueses algo do tipo: «A minha austeridade é melhor do que a do PSD/CDS». Mas não deixando de, na prática, assumir que existe austeridade.
Há matérias que o PSD tem de colocar obrigatoriamente na agenda política. A qualidade da democracia, a revitalização do sistema político, a correção de várias desigualdades não só económicas e sociais mas também territoriais. Bem como debelar os principais défices do país: o défice democrático, o défice produtivo, o défice alimentar, o défice energético e o défice tecnológico.
Estes défices mostram bem que as políticas públicas de médio e de longo prazo precisam de estudos, propostas e soluções de médio e longo prazo. E de plataformas de entendimento, o mais amplas e sólidas possíveis. A bem de Portugal e dos portugueses.
E o PSD tem condições para liderar, como nenhum outro, esta empreitada política. Porque a genética reformista do PSD confere-lhe condições especiais para estar na frente deste combate, para ultrapassar estes défices de Portugal.
Em contraponto com a atual governação socialista e frentista de esquerda e de extrema-esquerda, que foge como o diabo da cruz das verdadeiras e necessárias reformas.
Conveniente
Exemplo de história e de cultura
Foi conhecido recentemente um papiro com 1800 anos, dirigido por um antigo soldado romano à sua família, encontrado no final do século XIX. De seu nome Aurelios Polios, este soldado dizia ter muitas saudades de casa. «Rezo noite e dia para que estejam bem de saúde, e presto obediência contínua aos deuses em vosso nome», lia-se na carta. Este papiro foi escrito no ano 214 antes de Cristo – mas só um século depois é que foi decifrado. E o seu estudo publicitado no Bulletin of The American Society of Papyrologists. Um exemplo de história e cultura notável.
Inconveniente
Listas transnacionais
A tentativa de aprovar, já para as próximas eleições europeias de 2019, listas transnacionais, foi reprovada e bem reprovada. Para isso acontecer revelou-se fundamental o trabalho de Paulo Rangel, que se opôs com inteligência e força às diretivas partidárias europeias, que o queriam à força toda. Para um país como Portugal, as listas transnacionais seriam muito negativas. Vamos aguardar até quando se conseguirá suster o seu avanço.