Rio veio dar a Costa a possibilidade da ‘tripla’

É difícil não interpretar o texto de Pedro Nuno Santos como um recado fortíssimo contra a consagração da dupla Rio-Costa

E ste Congresso do PSD vem, paradoxalmente, consagrar não uma mas duas lideranças:  a de Rui Rio, formalmente, e a de António Costa, a prazo.  

Ao ter colocado, desde a campanha interna, como um dos seus grandes objetivos a capacidade de retirar a esquerda do novo ‘arco da governação’, Rio oferece a Costa uma nova possibilidade de manutenção no poder. Nas próximas legislativas, se a economia continuar a correr bem, Costa joga nas eleições com o poder de uma tripla no totobola: pode conquistar uma vitória com maioria absoluta, possibilidade que as sondagens não excluem; renova os acordos à esquerda se os comunistas e os bloquistas não forem penalizados pelo eleitorado; faz um acordo com o PSD. Rio e os seus apoiantes decidiram, sabe Deus porquê, entronizarem a liderança de Costa e isso foi um erro estratégico cujas consequências são ainda difíceis de determinar. Costa não pode sorrir mais. Metade do PS (ou mais de metade) não se oporá a um bloco central nem a um apoio parlamentar do PSD, como já aconteceu no tempo de António Guterres com Marcelo como líder da Oposição. 

Para Costa, negociar com Rui Rio será igual – ou eventualmente mais fácil – do que negociar com o PCP e o Bloco de Esquerda. Costa é um excelente negociador mas, acima de tudo, um pragmático. Nasceu para isso. Ainda que tenha promovido uma ‘viragem à esquerda’ depois da sua ascensão à liderança do PS – relativamente ao consulado de António José Seguro – efetivamente essa viragem foi mais retórica do que real. As circunstâncias impuseram os acordos à esquerda, que, esses sim, foram um avanço para lá da retórica. 

Uma das peças políticas mais interessantes da semana é o artigo que o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, escreveu no jornal Público. 

É difícil não interpretar aquele texto como um recado fortíssimo para dentro do próprio PS em vésperas de consagração da dupla Rio-Costa. Pedro Nuno Santos é genuinamente defensor de um PS voltado para a sua esquerda. Ao dizer que Rio traz «o velho liberalismo económico renovado e intensificado», Pedro Nuno Santos tenta separar as águas dentro do PS. Mas não é evidente que o PS o ouça.