Tudo visto e somado, a grande divergência nas eleições para a liderança do PSD realizadas há um mês resumiu-se a um ponto: Santana Lopes recusava qualquer aliança futura com o PS, Rui Rio mostrava-se aberto a ela.
Santana Lopes dizia não aceitar que o PSD servisse de muleta ao PS, permitindo-lhe encostar-se hoje à esquerda e amanhã à direita, eternizando-se no Governo.
Rui Rio defendia o contrário: se o PSD conseguisse atrair o PS para o seu lado, arrancálo-ia aos braços da extrema-esquerda, o que seria bom para o país.
A discussão podia ser muito interessante – mas era totalmente inútil.
Já vamos ver porquê.
Imaginemos que depois das próximas eleições o Partido Socialista precisa de fazer alianças para governar (o que não é certo, pois as coisas encaminham-se para uma maioria absoluta).
Nessa situação, o que será melhor para o PS: juntar-se ao PSD ou continuar a aliar-se à esquerda?
A resposta é óbvia: aliar-se à esquerda.
Enquanto o PSD só poderá oferecer-lhe deputados para formar maioria, a esquerda oferece-lhe, além dos deputados, uma coisa importantíssima: a paz social.
Começo a pensar que muitos empresários preferirão hoje um Governo de esquerda a um Governo de direita ou de bloco central – que faria voltar as manifestações às ruas, as greves, a contestação por tudo e por nada.
É verdade que, em aliança com a esquerda, António Costa está impedido de tomar algumas medidas que incentivariam o crescimento económico, sobretudo de apoio à iniciativa privada.
O PCP e o BE verão sempre as empresas privadas como ‘bastiões inimigos’ e vetarão as ajudas do Estado.
Mas António Costa também nunca trocaria a paz social, que tão bons resultados tem dado, por meia dúzia de medidas.
E além disso sabe que, se virasse costas à ‘geringonça’ para se juntar ao PSD, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista não lhe perdoariam, fazendo-lhe daí para a frente a vida negra.
Portanto, o apoio que Rui Rio admite dar ao PS para viabilizar um Governo é pura e simplesmente uma ficção.
O PS rejeitá-lo-á.
E isso colocará Rio numa posição muito difícil, porque sujeita-se a ser humilhado pelo PS – ao oferecer-lhe um apoio que ele desprezará.
E este é só mais um exemplo da dureza do caminho que Rui Rio tem para trilhar.
Com a economia a crescer, o défice a descer e o desemprego a cair, julgo que nem os eleitores de direita verão vantagem em mudar de Governo.
As pessoas estão satisfeitas.
Até o facto de terem voltado a endividar-se mostra que encaram despreocupadamente o futuro.
É certo que Rui Rio tem, em teoria, muito espaço para ocupar.
Ao encostar-se à extrema-esquerda, o PS entregou todo o centro e a direita ao PSD e ao CDS.
O problema é como conquistar esse espaço.
Dizendo o quê?
A Rio não basta fazer oposição clássica: é preciso encontrar uma ideia mobilizadora e que os portugueses agarrem.
E isso passa por convencê-los de que:
1. A ‘geringonça’ está esgotada e o país daqui para a frente vai começar a perder o gás;
2. Portugal está a crescer menos do que podia, e no futuro ainda se afastará mais dos países em situação semelhante à nossa (veja-se a Espanha);
3. Só poderemos recuperar o atraso com uma política descomplexada de apoio à iniciativa privada e de captação do investimento.
Rui Rio não pode ter medo das palavras, até porque não tem nada a perder. Tem de se demarcar abertamente da esquerda, assumindo-se como o líder que quer conquistar o centro e a direita.
Tem de lutar pela redução do peso do Estado e pela descida dos impostos para os particulares e as empresas.
Deve bater-se contra as tentativas da esquerda para reverter a privatização dos CTT, depois de ter revertido parcialmente a privatização da TAP, mostrando que isso é um sinal terrível para quem quer investir.
Deve rejeitar as mexidas na legislação laboral pretendidas pela esquerda.
Deve explicar que as coisas estão a correr bem porque se tomaram medidas no tempo da troika que estão a dar bons frutos – sendo um disparate querer voltar ao passado.
Rui Rio não pode recear o confronto com a esquerda, escusando-se a enfrentar certos lóbis politicamente corretos: só os líderes que lutam podem ter sucesso.
Sá Carneiro, Cavaco Silva, mesmo Passos Coelho fizeram ruturas – e só ganharam com isso.
Um líder timorato, adepto das meias tintas, com medo de romper equilíbrios, não leva ninguém atrás.