Este jornal lembrou, logo a seguir à eleição interna do PSD, que o santanismo tem por hábito quebrar após derrota.
“Não há santanismo sem Santana”, explicou, na altura, um dos fiéis.
Com o próprio a aceitar fazer parelha com Rio, depois de este lhe ganhar e de modo a unir o partido, foi mesmo assim que aconteceu.
Em 2008, foi também já relembrado, houve uma lista apoiada por um Santana Lopes novamente derrotado, encabeçada por Pedro Pinto, mas Luís Montenegro, que fora porta-voz de Santana durante essas diretas, fizera outra, alternativa, com Carlos Eduardo Reis, que fora então porta-voz da juventude da candidatura do ex-primeiro–ministro.
Dez anos volvidos, o santanismo voltou a divorciar-se.
Desta vez, Montenegro furou a união institucional arquitetada entre Rio e Santana – basta ouvir o discurso ao congresso, quase que de pré-candidatura – e o já referido Reis (filho do ex–eurodeputado e ex-autarca Fernando Reis) encabeçou ele próprio uma lista depois de ter, como Montenegro, apoiado Santana Lopes contra Rui Rio.
Essa lista, que contava com o deputado Sérgio Azevedo (ex-vice-presidente da bancada de Montenegro e que também apoiou Santana em janeiro), furtou a possibilidade de maioria absoluta à lista conjunta de Rio e Santana Lopes ao conselho nacional, tendo ficado em segundo lugar e elegendo 13 nomes. Santana, que encabeçou a lista do novo presidente do PSD, elegeu 34 dos 70 novos dirigentes nacionais do partido.
O conselho nacional é a maior reunião regular entre os sociais–democratas e a sua importância – já menos regular – deriva do facto de votar a lista de nomes para deputados à Assembleia da República.
Apesar de procurar convidar o seu adversário, que aceitou ser o número 1 dessa lista com o eurodeputado Paulo Rangel e com o ex-secretário-geral de Passos Coelho, José Matos Rosa, o novo presidente do PSD não conseguiu uma unidade tão forte que lhe desse maioria absoluta no conselho nacional.
Reis, que esteve bem perto de Santana Lopes ao longo das diretas pelo país, acaba por causar algumas dores de cabeça, surpreendendo o congresso com o segundo lugar. Na última reunião magna, em Espinho, a sua equipa, aparentemente em crescimento, já fora a terceira força mais votada para o mesmo órgão. Agora, foi de sete eleitos para 13, ultrapassando a lista usualmente próxima do ex-líder da JSD Pedro Duarte.
Essa, encabeçada este ano por Bruno Vitorino, da distrital de Setúbal, com apoio de Pedro Alves, da distrital de Viseu, permaneceu no pódio mas baixou para terceiro lugar.
Escutado pelo i, Reis nega que “haja uma lógica divisionista” na iniciativa. “A unidade não é feita num fim de semana, é feita todos os dias. Eu não deixei de ter as mesmas convicções depois do resultado das diretas e não deixaria de fazer esta lista por causa desse resultado” – isto é, depois de Santana, que apoiou em 2018 e 2008, ter saído derrotado.
“Sempre fomos uma equipa abrangente [na lista] e temos apoiantes dos dois candidatos à liderança – e seremos sempre fiéis às nossas convicções.” Este ano, as convicções valeram-lhe mais seis lugares.
A lista de Santana e Rio ficou a um eleito de conseguir a maioria absoluta. Nos conselhos fiscal e de jurisdição e para a mesa do congresso, os dois homens que se enfrentaram na sucessão a Passos Coelho indicaram nomes conjuntos.
Para a direção do Instituto Francisco Sá Carneiro, o think tank do PSD, ao que o i apurou, o seu destino está nas mãos de Pedro Santana Lopes. Ou vai para ele próprio ou para indicação sua.