A Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) contratou, em dezembro de 2016, a empresa Mistura Singular para ajudar a profissionalizar a gestão da Casa da Sorte, uma das mais antigas empresas nacionais de lotarias e outros jogos. Em causa estava um crédito de quase 22 milhões de euros, apurou o i. A Mistura Singular conta com Manuel Castro de Almeida – ex-autarca e recém-eleito vice-presidente da comissão política nacional do PSD – como presidente do conselho de administração e tem ainda como acionistas os irmãos Marques Mendes.
Por indicação do banco, a Casa da Sorte passou a ser gerida por José Marques Mendes – que detém 18% da Mistura Singular, empresa especialista em recuperação de PME em dificuldades, onde desempenha também a função de administrador executivo, enquanto o seu irmão Luís Marques Mendes detém 14% da empresa.
A Casa da Sorte avançou com um pedido de processo especial de revitalização (PER) depois de se ver a braços com uma dívida de quase 36 milhões de euros, cujo principal credor é o banco liderado por Félix Morgado. Estes créditos referem-se a vários contratos de financiamento e estavam garantidos através da penhora sobre quotas dos donos da empresa.
Já em 2016, a instituição financeira tinha avançado com dois processos em tribunal contra a Casa da Sorte, pedindo em cada uma das ações um valor na ordem dos 26 milhões de euros.
Também no ano passado, o Montepio tentou vender os créditos vencidos, mas acabou por suspender o processo depois de reportar ao Banco de Portugal que suspeitava haver conflito de interesses em relação aos potenciais interessados, apurou o i.
Na altura surgiram três candidatos: uma sociedade sul-africana; o grupo Ultra (que entre outros negócios detém uma casa de câmbios); e Pedro Laureano, sócio minoritário da Casa da Sorte.
Outros credores Além da Caixa Económica Montepio Geral, há outros bancos na lista de credores da Casa da Sorte, como o BIC (atual EuroBic), que tem a receber 4,6 milhões de euros; o Novo Banco (perto de 1,2 milhões de euros); e o BCP (mais de 500 mil euros).
O Estado é outra das entidades que reclamam dinheiro da Casa da Sorte. A Autoridade Tributária tem a receber 2,7 milhões de euros, relativos a IRC e a processos de imposto do selo, enquanto a Segurança Social reclama mais de um milhão de euros por contribuições devidas entre 2012 e 2017.
A esta lista de credores junta–se ainda o clube de futebol Os Belenenses, que reclama mais de 3,5 milhões de euros devido a um contrato de cedência de exploração que motivou uma ação judicial do clube lisboeta contra a Casa da Sorte em janeiro de 2017.
As dívidas da Casa da Sorte incluem ainda faturas de dezenas de milhares de euros a vários prestadores de serviços, como sociedades de advogados e empresas de telecomunicações e energia, entre outras.
Empresa A Casa da Sorte foi fundada em Braga, em 1933, por António Augusto Nogueira da Silva. Estendeu a sua atividade ao Porto, em 1938, e a Lisboa, em 1940. Passou a sociedade anónima em 1972, afirmando-se como a “maior organização portuguesa de lotarias e apostas mútuas e a casa que maior quantidade de prémios grandes tem distribuído”, assim como “maior requisitante oficial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.
António Nogueira da Silva, antes de morrer, deixou a empresa aos seus empregados, que foram vendendo as suas participações ao longo dos anos. Conta atualmente com cerca de 120 colaboradores. No final de 2016 apresentou um prejuízo de mais de cinco milhões – um valor que contrasta com os resultados alcançados em 2015, quando apresentou um lucro na ordem dos 80 mil euros.
recuperar negócios A empresa escolhida por Félix Morgado, a Mistura Singular, apresenta-se como “um parceiro eficaz na valorização das empresas com as quais colabora, pela competência de gestão e soluções de viabilização”, diz na sua página de internet.
A ideia, de acordo com o site oficial, é apoiar empresários e investidores na recuperação e desenvolvimento das empresas “cujo potencial de valorização assenta em mudanças nas competências de gestão”.
Na sua estrutura conta, como presidente do conselho de administração, com Manuel Castro Almeida, antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional do governo de Pedro Passos Coelho, que foi durante três mandatos presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira. Este fim de semana foi nomeado por Rui Rio como um dos vice–presidentes da comissão política nacional do PSD.
Já José Marques Mendes, irmão do antigo líder do PSD, é fundador e CEO da Mistura Singular.