Isabel Meirelles, uma das novas vice-presidentes do PSD, foi favorável à investigação que a Ordem dos Advogados abriu a Elina Fraga, outra das vice-presidentes que chegaram à direção do partido no fim de semana com a liderança de Rui Rio.
Meirelles estava no conselho geral da Ordem dos Advogados quando este, no dia 20 de janeiro de 2017, aprovou o pedido de auditoria às contas da Ordem durante o mandato de Elina Fraga.
“Foi deliberado realizar uma auditoria às contas da Ordem dos Advogados, na sequência de informações transmitidas a este conselho geral pelo senhor bastonário e pelo senhor vogal tesoureiro, tendo este último ficado encarregue de preparar os procedimentos legais de contratação necessários à realização, com posterior apresentação ao conselho, para efeitos de deliberação de contratação”, reza a ata da reunião em que Isabel Meirelles, que era à data membro do conselho geral da Ordem dos Advogados, estava presente, aprovando assim a abertura da investigação à gestão de Elina Fraga como bastonária.
A auditoria, realizada por uma entidade externa à ordem, foi remetida para a Procuradoria-Geral da República após sua conclusão, em junho de 2017 – bem antes de Elina Fraga ser sequer falada para qualquer cargo no PSD e até antes de Rui Rio ser candidato a presidente do partido laranja (ver página seguinte).
A ex-bastonária e agora vice-presidente do PSD tem remetido o pedido de auditoria para o facto de a corrida para Ordem dos Advogados, que perdeu, ter sido particularmente “musculada” – isto é, que o atual bastonário, Guilherme Figueiredo, teria pedido uma auditoria ao mandato da sua antecessora por ter sido seu adversário, mesmo que vencedor.
A verdade é que os quinze membros do conselho geral da ordem que estiveram nessa reunião – incluindo a hoje também vice-presidente do PSD, Isabel Meirelles – aprovaram a auditoria, que tanto tem mediaticamente perturbado a nova direção do Partido Social Democrata, com Elina Fraga a ser obrigada a ir explicar-se às televisões mais do que uma vez.
O i tentou contactar Isabel Meirelles para saber se a nova vice-presidente do PSD tornaria a aprovar uma auditoria à gestão da sua agora colega vice-presidente do PSD, mas não teve sucesso até à hora do fecho desta edição.
Isabel Meirelles e Elina Fraga, escolhidas por Rui Rio para a sua comissão permanente e para a sua comissão política nacional, podem hoje ser colegas de mesa no PSD, mas no que à Ordem dos Advogados diz respeito, o seu historial não é amigável. Além de Meirelles ter aprovado a investigação da ordem às contas do mandato de Fraga, Meirelles também fez parte das listas de Guilherme Figueiredo que se opuseram – e venceram – a candidatura de Elina Fraga.
Se Meirelles informou Rui Rio das razões que a levaram a suspeitar de irregularidades na gestão de Elina Fraga enquanto bastonária da Ordem dos Advogados, o i também não conseguiu apurar junto da própria ou de fonte próxima da mesma.
Se eu mandasse na SIC! Elina Fraga, que foi de bastonária a vice-presidente do PSD, poderá um dia liderar a SIC. Pelo menos assim o aludiu quando foi entrevistada pelo canal televisivo, em reação à notícia de o Ministério Público estar a investigar a já mencionada auditoria.
“Quem está a desviar as atenções é a comunicação social”, criticou. “Se eu mandasse na SIC não estaria a falar numa investigação. Para mim o que conta são as condenações”. E, de facto, Elina Fraga não foi condenada.
Na RTP, a ex-bastonária também deslumbrou, mimetizando a oposição de Rui Rio às violações do segredo de Justiça.
“Os únicos que poderiam dizer ‘as minhas fontes são estas’”, isto é, os jornalistas, “não o dizem uma vez que não são obrigados a fazê-lo”, disse. “Os senhores jornalistas saberão as vossas fontes melhor do que eu. A verdade é que houve uma vez em que eu disse que havia segredo de justiça. Eu sei que há, todos os portugueses sabem que há a violação do segredo de justiça”, continuou a nova vice-presidente do PSD, a quem o “governo ser de esquerda repugna”.