Em 2021, mais de metade da economia global vai derivar da economia digital. As operações, vendas e relações empresariais com base na digitalização vão alimentar o crescimento em todas as indústrias. Em 2020, os investidores vão focar-se na utilização de plataformas de ecossistemas, no valor dos dados e na métrica da relação com os consumidores para avaliar as empresas e os negócios. Em 2019, a expectativa é que a despesa global com capital para a transformação digital chegue aos 1,7 biliões de dólares, um aumento de 42% em relação a 2017.
No ano passado, a Europa registou um recorde de investimentos feitos por empresas tecnológicas – 19,1 mil milhões de dólares. No entanto, e segundo o ‘European Tech Report’, na análise do investimento tecnológico per capita os países europeus estão muito atrás de por exemplo, Israel, onde são investidos 304 dólares por habitante, ou os EUA, onde este valor chega a 246 dólares. A Suécia, com 123 dólares, e a Irlanda, com 111 dólares, lideram a lista dos países europeus. Segundo o relatório, em Portugal, em 2017, o investimento em tecnologia per capita foi de quatro dólares, mas a análise aponta que o país está entre os com maior potencial para investimento tecnológico, o que parece estar a verificar-se.
«O futuro é tecnológico», resume ao SOL o CEO e cofundador da WeDo Technologies, para quem este tipo de investimento, que permite a «criação de riqueza…sustentada», é «fundamental» para o crescimento económico do país. Mas segundo Rui Paiva «estamos apesar de tudo no inicio, […] existe muito buzz mas os resultados ainda estão na fase inicial». No entanto, «continuar assim o futuro avizinha-se risonho», opina.
No ano passado, e a continuar este ano, Portugal tem sido um dos locais de excelência para investir. São várias as empresas multinacionais que já se instalaram ou têm planos para desenvolver negócios no país, mas também as firmas portuguesas que apostam no desenvolvimento tecnológico. As empresas internacionais «encontram em Portugal um país com infraestrutura tecnológica, talento digital, cultura internacional, cultura de startups, com um conjunto de ingredientes que tornam atrativo a instalação em Portugal de operações», explica o presidente da direção da ACEPI – Associação da Economia Digital. Ao SOL, Alexandre Nilo Fonseca acrescenta ainda que a «posição geoestratégica de Portugal, na relação com África, na relação com as Américas e no limite até na sua boa relação económica com a própria China e obviamente fazendo parte da União Europeia» torna «Portugal um país bastante atrativo».
Também o diretor executivo da Agap2IT considera que estes investimentos «são boas indicações para a economia» que tem «cada vez mais condições atrativas para o investimento de organizações digitais». Jorge Batista acrescenta ao SOL que «centros de competências de alcance global, os talentos gerados pelas nossas faculdades e os soft skills dos colaboradores portugueses são cativadores» da atenção das grandes multinacionais tecnológicas.
Da Google à Amazon, passando pela Mercedes
E são vários os exemplos destas firmas que têm anunciado ou já investiram em Portugal. O mais sonante é o da Google, que irá instalar no parque empresarial Lagoas Park, em Oeiras um centro de gestão de fornecedores, focado nos mercados da Europa, Médio Oriente e África. Serão cerca de 500 novos postos de trabalhos, a maioria relativa a posições de engenharia.
Também foi noticiado que a Amazon, gigante do comércio eletrónico mundial, pode chegar oficialmente a Portugal ainda no primeiro trimestre deste ano. Segundo o JdN, a gigante do comércio eletrónico está em conversações para se instalar na «zona nobre da Boavista», no Porto.
A Invicta foi também a cidade escolhido pela dinamarquesa Vestas, construtora de aerogeradores para parques eólicos, para instalar um centro de investigação de base tecnológica. O investimento situa-se entre os cinco e os dez milhões de euros e vai criar algumas centenas de postos de trabalho até 2020. Até ao final do ano passado terão sido abertas 80 vagas e a perspetiva é subir o número nos próximos dois anos.
Também no Porto está instalado um centro tecnológico da Euronext. No espaço, que tem 140 colaboradores, é gerida a infraestrutura tecnológica e são criadas novas soluções na área dos serviços financeiros.
A Zalando, loja online de roupa e sapatos online, prevê para este ano a instalação em Lisboa do seu terceiro centro tecnológico internacional. O centro terá 50 trabalhadores, mas até 2020, o número pode chegar aos 150, entre engenheiros especializados em frontend e backend, gestores de produto e designers.
A Uber também escolheu a capital portuguesa para instalar o seu Centro de Excelência para a Europa, que promete criar 250 empregos diretos até ao final deste ano. Servirá para formação de motoristas em toda a Europa e a melhoria de serviços, políticas e processos internos.
Também em Lisboa, o Hub Criativo do Beato foi o local escolhido para a Mercedes-Benz instalar um centro digital.Batizado de Mercedes-Benz.io, é o primeiro centro de fornecimento de serviços digitais e de soluções globais de software da Daimler, dona da marca, a nível mundial. O Mercedes-Benz.io terá 150 especialistas a trabalhar no desenvolvimento dos serviços digitais, plataformas online e aplicações da Mercedes-Benz, além de marketing e vendas.
Há muitos outros exemplos destes investimentos, que, na opinião de Jorge Batista, acontecem porque «as empresas tecnológicas portuguesas têm vindo a pôr no mapa o país e a gerar interesse por parte de grandes players globais», uma vez que a «qualidade do trabalho desenvolvido pelos centros de competências localizados em Portugal tem sido um fator importante para a captação do interesse de novos investimentos internacionais».
Na perspetiva do responsável da Agap2IT, empresa tecnológica portuguesa, o país «é hoje um dos principais mercados a investir devido ao talento técnico e à experiência das empresas nacionais em centros de competências de ação global». São também vários os exemplos, e recentes, do investimento tecnológico de empresas portuguesas, com destaque para as infraestruturas.
Dados, dados e mais dados
Em relação ao setor de infraestrutura digital, o país conta com grandes projetos, como os novos data center da NOS em Carnaxide e da REN em Riba d’Ave, a ampliação do DataCenter da Altice Portugal na Covilhã.
Na semana passada a Altice Altice Portugal anunciou que vai investir mais quatro milhões de euros no seu DataCenter da Covilhã, o maior do país e um dos dez maiores do mundo. No início do mês foi elencado como opção para armazenar e tratar parte do enorme volume de dados gerado pelas observações do maior radiotelescópio do mundo, o projeto SKA (Square Kilometer Array).
Dias antes tinha sido a NOS a anunciar que investiu 1,5 milhões de euros na construção do novo centro de dados Imopolis II em Carnaxide. E já ontem a REN revelou um investimento de dez milhões de euros no novo data center em Riba de Ave, uma infraestrutura que «permite reforçar significativamente a segurança da Rede de Telecomunicações de Segurança (RTS) e dos demais sistemas de informação críticos da Rede Nacional de Transporte operada pela Rede Elétrica».
Também a tecnológica portuguesa Compta anunciou no início do mês que quer abrir o sexto centro de inovação em Viseu até junho deste ano. A empresa revela que tem estado a intensificar relações com as universidades e institutos politécnicos de modo a contratar jovens talentos. Para Rui Paiva, a «disponibilidade de ‘mão de obra’ qualificada» é a maior dificuldade que se coloca ao investimento em tecnologia em Portugal.
«Infelizmente temos muito poucas pessoas formadas/licenciadas em Tecnologia. As universidades (e os candidatos) têm de multiplicar por 10 o número de formandos», salienta o CEO da WeDO Technologies, fundada em 2001 e uma das principais empresas tecnológicas portuguesas.
«O mercado da inovação e tecnologia atual está em constante crescimento. É necessário que esta expansão seja acompanhada pela formação de um número maior de talentos», corrobora Rui Batista.
O diretor executivo da Agap2IT, diz que este tipo de investimento permite «gerar postos de trabalho altamente qualificados com salários mais competitivos, captar talento internacional e fomentar um clima mais empreendedor» e lembra a concorrência para atrair este tipo de investimento que vem da «Irlanda, Leste Europeu e a sempre eterna Índia». Também Rui Paiva lembra que a concorrência «vem de quem tem mais ‘mão de obra qualificada’, de quem tem menores custos de estrutura e de quem tem uma politica fiscal/laboral mais estável, eficiente e eficaz».