Para se ser um grande lutador é preciso pontapear como um tailandês, boxear como um holandês, ter a frieza de um russo e, quando tudo correr mal… ter um coração de português». O autor da frase é o kickboxer português Pedro Kol. Contudo, no passado domingo, dia em que o atleta se sagrou tricampeão europeu de kickboxing, no Campo Pequeno, «foi preciso ter não só um grande coração como muita atitude!». «O combate estava renhido», conta ao b,i o lutador de 35 anos. O triunfo no ‘Combate do Ano’, como foi apelidado, trouxe Kol para as luzes da ribalta, mas a história do atleta na modalidade já conta com praticamente duas décadas. Apaixonado pelas artes marciais desde criança, os culpados foram inicialmente os atores e lutadores Van Damme e Bruce Lee, protagonistas dos filmes que «adorava ver na televisão», lembra. Convenceu os pais a inscreverem-no no taekwondo – onde se distingue o ator belga -, com apenas oito anos e mudou-se para o kickboxing com 16. Além disso, sempre que se mascarava, «disfarçava-me de lutador de karaté ou de ninja», recorda-se. Embora nos dias de hoje os desportos de combate se estejam a tornar cada vez mais populares em Portugal, e não só no plano masculino, há 20 anos a ideia estava certamente longe do imaginário da maioria das crianças. Pedro Kol dá o selo de confirmação: «Ninguém na minha família ou do meu grupo de amigos ligava à modalidade». «Nasceu comigo», assegura o desportista multi-titulado. Hoje, o atleta que representou o Sporting até 2011 distingue-se precisamente pelas várias conquistas na modalidade: sagrou-se pentacampeão nacional, tricampeão europeu e campeão mundial. Para o ‘Esparguete Assassino’, alcunha pela qual ficou conhecido graças a um primo («não me importo nada»), o kickboxing foi o único desporto que o completou a «nível físico e psicológico». «Achei que não havia desporto igual e que a modalidade estava a ser mal explorada», afirma o kickboxer que sempre ambicionou ter a sua própria academia. Em 2014, e já licenciado em Ciências do Mar, Kol tirou uma pós-graduação em Gestão e começou a montar o business plan para tornar o projeto real. Aconteceu em abril de 2015, depois de largar o emprego que tinha em Engenharia Ambiental. Atualmente, a Kolmachine, que pode ser encontrada na Av. João Crisóstomo, perto da arena onde se tornou campeão há dias, serve como local «para transmitir os nossos pensamentos, mas acima de tudo uma maneira de estar na vida». Ali aprende-se a «atitude de campeão». Atenção, não a teoria errada, a que defende que só é campeão quem sempre vence, mas a de «nunca desistir, de persistir e tentar realizar os sonhos», explica resumidamente.
Há três anos que Pedro vê concretizados os seus dois grandes sonhos de vida – ser campeão do mundo e abrir uma academia de desportos de combate -, mas agora já lhe é pedida a revalidação do título mundial.
«Sem prometer que irei fazer outro combate já me falam do título mundial, do combate em Macau», revelou. Se as condições das quais não abdica estiverem alinhadas, pois só faz sentido combater ao mais alto nível se tiver «uma equipa que me permite estar completamente focado no combate, delegar tudo e em quem posso depositar 100% da minha confiança», Kol desvenda que o destino, num prazo de seis meses a um ano pode ser mesmo o expoente máximo, o Mundial. «Não tenho nada para provar mas seria o consolidar de uma posição que já tenho». A ausência de patrocínios foi, de resto, uma dos fatores principais para Kol ter estado afastado dos ringues entre 2015 e 2017. «De momento surgiram condições como nunca antes haveria tido», comenta.
Kol, que define a glória de 18 de fevereiro como a vitória mais importante da sua carreira «pelo apoio inacreditável do público português», acredita que a relevância da conquista do cinturão europeu transcende os objetivos pessoais sendo especialmente um mérito com expressão para a modalidade. «Tinha muita pressão porque estava em frente do meu público, mas acima de tudo senti um apoio inacreditável de todos os portugueses. Foi um dia incrível. Não só a nível pessoal, mas sobretudo para a modalidade», realçou.
Apesar de deixar a janela relativamente a um futuro combate entreaberta, Kol não dá datas para marcar na agenda. Só uma coisa é certa: em caso de combate, Kol não tem preferências. «Venha quem vier!», diz confiante.
No fim do dia, e independentemente de competir ou não a nível profissional, a vida do mais recente herói português passará sempre pelos ringues, nem que seja como instrutor de kickboxing, atividade a que se dedica a 100% desde que inaugurou a sua academia. Para o atleta português, a modalidade «tem tido um crescimento exponencial». «Há cada vez mais escolas e isso faz aumentar a concorrência e a competição. Hoje em dia ser campeão de amadores é muito mais difícil comparativamente há uns anos», assume.
Apesar da certeza quase absoluta de que Kol poderá repetir, em Macau, a proeza de 2015, ano em que alcançou o seu primeiro título mundial de kickboxing, à data frente ao lutador chinês Jin Jintuo, o b,i. quis saber quem são, na perspetiva do português, as próximas ‘kolmachines’. O atual campeão da Europa aposta em três promessas: Diogo Neves, «que treina comigo a um nível muito forte»; Diogo Sequeira e Rudimentos. A partir daqui é estar atento!