Jerónimo de Sousa considera que a aproximação entre Rui Rio e António Costa é "preocupante, sem dúvida". Para o secretário-geral do PCP, a eleição de Rio como líder do PSD acentuou "a linha de convergência" com Costa, com a eventualidade de se formar um "bloco central mais ou menos formal ou informal".
Uma convergência que, segundo Jerónimo de Sousa, já mostrou ser negativa para o país. "A verificar-se essa convergência o resultado não é bom porque a vida provou isso. Não é apenas a opinião do PCP. Foi a própria vida do nosso país, a política realizada, com um bloco central mais ou menos formal ou informal", afirmou o secretário-geral do PCP à margem de uma visita à empresa OGMA, em Alverca.
À eventualidade do PS negociar questões sociais com uns partidos e questões económicas com outros, Jerónimo chamou-lhe de "geometria variável". "O grande problema é que, traduzindo isso numa expressão de há uns anos atrás com Guterres, é a chamada geometria variável: entendimento com uma parte em questões sociais, entendimento com outra nas questões de fundo, estruturais."
Ora, para o líder comunista, "isto não vai lá com geometrias variáveis, mas com a ruptura com a política de direita que nos tem afligido durante tantos anos e procurar uma saída patriótica e de esquerda", disse.
Jerónimo relembrou ainda que falar de alianças políticas por si não é suficiente, sendo fundamental questionar-se sobre para que servirão.
"Longe de corresponder"
"Esta nova fase da vida política nacional demonstrou a importância da reposição de rendimentos e direitos, mas é um caminho inacabado", referiu o dirigente comunista. "Olhando para a realidade, verificamos que questões que até eram compromissos do próprio governo" não foram respeitados, afirmando ainda que os "posicionamentos que são conhecidos estão longe de corresponder a um caminho que entendíamos necessário".
Esta declaração poderá não ir ao encontro do desejo expresso pelo primeiro-ministro António Costa no último debate quinzenal, quando se dirigiu ao PCP e afirmou "vamos avançar, e com certeza juntos". Questionado sobre esta declaração, o secretário-geral dos comunistas respondeu que "o nosso compromisso principal não é com o PS, mas com os trabalhadores e povo português".
Jerónimo de Sousa recusou qualquer compromisso quanto à aprovação do Orçamento do Estado de 2019, afirmando que o "PCP não se compromete com um voto a favor ou contra sem o conhecimento real dessa proposta".
A TSU
Ontem soube-se que o governo terá deixado cair o agravamento da TSU para os contratos a prazo e para empresas com elevados níveis de rotação de trabalhadores, uma decisão que não preocupa Jerónimo de Sousa, preferindo colocar no centro da questão os contratos efetivos. "Não é com mais ou menos descontos para a Segurança Social ou com políticas fiscais que se resolve o problema da precariedade", mas sim assumindo-se "um princípio fundamental: um posto de trabalho permanente deve corresponder a um contrato de trabalho efetivo".