Fizz. Conchinha não se lembrava de ata e diz que não conhecia Figueira

Angélica Conchicha assumiu ter sido secretária suplente da Atlântico Europa SA SGPS, mas não se lembra de participar nas assembleias

Angélica Conchinha, a representante fiscal da Primagest em Portugal, foi hoje confrontada pelo coletivo de juízes que presidem ao julgamento da operação Fizz sobre a sua relação com a sociedade Atlântico Europa SA SGPS – empresa que detinha o capital do Banco Privado Atlântico Europa (BAPE).  Começou por dizer que não se lembrava de estar relacionada com a sociedade. Perante a insistência do juiz, viria a reconhecer esse historial: “lembrei-me agora que era secretária suplente da sociedade”, referiu.

No seguimento do interrogatório, o juiz voltou a insistir no assunto: “Nunca interveio em alguma assembleia da sociedade?”, perguntou, ao que a testemunha respondeu que “formalmente não”. Confuso com a resposta, o juiz pediu-lhe para explicar o que queria dizer com “formalmente”, ao que Conchinha explicou que, nas assembleias, não estavam “todos sentados na mesma mesa”. 

Com recurso à documentação do processo, o juiz evocou então uma ata de uma das assembleias que assinada por Conchinha, testemunha. Confrontada com a prova, viria a dizer não ter estado na reunião mas ter assinado o documento por confiar.

No seguimento das questões, um dos juízes perguntou: “apercebeu-se da relação entre Carlos Silva e Manuel Vicente?”ao que Conchinha respondeu que não e que “esse nome apareceu num grupo de documentos”, mas que as funções que exercia não permitiam saber quais eram as funções do ex-vice-presidente da Angola.

Como tudo começou A advogada surge envolvida neste caso por ter alegadamente feito transferências para Orlando Figueira que estiveram sobre investigação. Ontem, em tribunal, Conchinha garantiu só ter conhecido Figueira no contexto das notícias sobre este caso.

Segundo o Ministério Público, Manuel Vicente terá corrompido Orlando Figueira quando este ainda era procurador do DCIAP. O ex-vice-presidente da Angola terá pago 760 mil euros a Figueira para arquivar alguns inquéritos que o envolviam. 

No primeiro dia em que terá favorecido Manuel Vicente com um dos inquéritos, o antigo procurador recebeu um empréstimo de 130 mil euros do Banco Privado Atlântico Europa. Segundo o Ministério Público, esse empréstimo terá sido feito a mando de Manuel Vicente.

Já em 2012, o primeiro inquérito contra o ex-vice-presidente da Angola é arquivado e quatro dias depois Orlando Figueira abre uma conta no Banco Privado Atlântico Europa – banco em que Carlos Silva é presidente – onde viria a receber 210 mil euros vindos da Primagest, empresa que, segundo o Ministério Público está ligada à Sonangol, mas que Orlando Figueira afirma ser uma testa de ferro do banqueiro Carlos Silva.

Ao longo do julgamento, Figueira afirmou que não foi corrompido por Manuel Vicente, porque não foi ele que o convidou para ir trabalhar para Angola, mas sim Carlos Silva. O arguido frisou ainda que não conhece Manuel Vicente e que foi contratado para o Banco Privado Atlântico (BPA) pelo banqueiro, depois da sua visita a Luanda, no âmbito da semana da legalidade.

Após a viagem a Luanda, Orlando Figueira afirma ter ficado com a ideia de ir trabalhar para a Angola, o que transmitiu a Paulo Blanco, advogado do Estado angolano, acabando por receber uma resposta positiva. Conta ainda que acordou com Carlos Silva o recebimento de 15 mil dólares para ser diretor jurídico do grupo BPA.

Orlando relembrou ainda no início do julgamento que nunca saiu de Portugal e nunca chegou a assinar contrato com o banco, mas sim com a Primagest, que foi revogado depois de ter trabalhado como consultor no Millennium BCP, passando a trabalhar no AtivoBank, momento em que percebe que estava a ser investigado.