Abrindo a página oficial do PSD são três os primeiros nomes eleitos para o conselho nacional – a maior reunião regular dos sociais-democratas com poderes de aprovação de listas ao parlamento e de destituição do presidente do partido -, e são eles: Santana Lopes, Paulo Rangel e Carlos Eduardo Reis. Este último, aqui entrevistado, é o mais jovem e menos conhecido desse pódio. Fez percurso na JSD, acompanhou Santana Lopes nas diretas e encabeçou a lista mais votada no congresso a seguir à de Rio, que era liderada por Santana.
Aconteceu no congresso ouvirem-se jornalistas perguntar “quem é o Carlos Reis”? Essa discrição política acabou depois deste congresso?
É natural que haja uma curiosidade mediática. Mas não temos de ser mais visíveis só porque tivemos um resultado significativo. Temos de ser mais visíveis se tivermos algo de importante a dizer. O que importa a propósito do congresso é que há uma responsabilidade no novo ciclo político que deriva do resultado, claro, da adesão que a lista teve e, sobretudo, de um conjunto de pessoas que se reveem na nossa forma de estar na política.
Ficou surpreendido com o resultado?
Não. Quem conhece o partido não poderia ficar. Já tínhamos feito uma lista no último congresso, que fora aí a terceira mais votada. Alguma imprensa apelidou a nossa iniciativa de “a tradicional lista ‘do Carlos e do Sérgio [Azevedo]’”, mas a verdade é que é apenas a segunda vez que encabeço uma lista ao conselho nacional. Sinceramente, sempre esperei que crescêssemos. Claro que as circunstâncias eram difíceis – são sempre – e contava com nomes que acabaram por ir na lista oficial (de Rio e Santana). Mesmo assim, crescemos.
A quem se refere?
Um deputado e um presidente de câmara.
Portanto, não beneficiou da insatisfação dos que não couberam na lista oficial?
Não, antes pelo contrário. Diga–me um dirigente distrital que esteja na nossa lista que não estivesse no último congresso em Espinho. São praticamente os mesmos, com alguns reforços, mas os primeiros dez são quase iguais. Se não tivesse existido uma lista conjunta (Rio/Santana), o nosso resultado teria sido maior.
Mas a sua iniciativa foi uma reação a esse acordo entre Rui Rio e Santana Lopes?
De todo. Eu entendo o sinal que Santana Lopes quis dar e entendo ainda mais a atitude que Rui Rio quis fazer passar. Mas, para mim, a união do partido não se faz via método de Hondt. Antes de unir protagonistas é preciso unir ideias. Em 15 dias, entre as diretas e o congresso, não se pode juntar tudo para fazer um número para a comunicação social.
Acha que a lista conjunta (de Rio e Santana) fez desse número um flop?
Em número de eleitos, o resultado da lista oficial é bom e melhor que o dos últimos congressos. Mas estavam ali dois candidatos à liderança do partido. E, por isso, não considero o resultado nada de extraordinário. É um erro pensar que o nosso resultado, por outro lado, tem a ver com descontentamento por lugares. A forma como as coisas foram feitas também tem importância e há quem não o tenha percebido. Os 40% de votos brancos na comissão política nacional não são mero acaso. Eu não concordei com a estratégia porque acho que a união se faz todos os dias e não num fim de semana; porque acho que é possível construir com todos durante os dois anos de mandato. Sem pressas.
E inclui-se nessa construção?
Eu, no que puder ajudar, ajudarei Rui Rio a ser primeiro-ministro de Portugal. Claro que é o líder que escolhe a sua equipa porque a equipa é sempre o melhor reflexo do próprio líder, as suas pessoas de confiança, e que Rui Rio saberá com quem quer trabalhar. Nós estamos aqui para contribuir, para ajudar a crescer, e daremos o nosso contributo no conselho nacional como já damos nas localidades e regiões pelo país.
Se Santana tivesse ganho, teria feito a sua lista na mesma?
Se Santana tivesse ganho, a minha ambição era trabalhar com ele.
Já o tinha apoiado nos tempos da JSD, em 2008, como porta-voz da juventude. Dez anos depois, voltou a apoiá-lo. Porquê?
E hoje voltaria a apoiar e a votar Pedro Santana Lopes. Basta lembrar a convenção nacional que organizou para saber o valor do seu projeto para o partido e para o país. Eu não mudo de opinião num mês. Santana Lopes teve uma oportunidade para reescrever a História e os militantes não o deixaram porque não esqueceram 2004 ou não esqueceram o que acham que foi 2004. Não fiquei contente, mas a democracia, às vezes, é assim.
Falando em reescrever histórias, acha que os 61% de deputados que não votaram em Fernando Negrão para líder parlamentar quiseram reescrever o resultado das diretas?
Eu tenho um defeito – e não quero aqui desvalorizar o papel dos deputados – que é achar que quando discordamos de alguma coisa devemos dizê-lo frontalmente.
Está a dizer que quem discordava deveria ter-se apresentado a votos contra Negrão?
Obviamente. Uma candidatura alternativa teria um significado, e o resultado seria o menos importante.
Acha que os políticos têm hoje medo de perder?
A gestão de Rui Rio e Fernando Negrão em torno da liderança parlamentar foi, ao que me dizem, autista. Eu não sei se foi ou não foi. Mas acho que fragilizar a escolha de um líder eleito [Rui Rio] e brincar com a maior bancada da Assembleia porque estamos chateados com o congresso não é correto. Rio foi eleito com 54% dos votos dos militantes e 15 dias depois tinha o apoio do seu opositor [Santana Lopes]: não apoiar a sua escolha para líder parlamentar é inconsequente. Quem faz uma coisas dessas ou pretende fragilizar a liderança do partido ou tem uma estratégia. Eu ainda estou à espera de ver a estratégia, confesso–lhe. Mas quero deixar claro: eu, se fosse deputado, votaria Fernando Negrão. E, como já lhe disse, voltaria a apoiar Santana se as diretas fossem hoje. Uma coisa não invalida a outra. Ambas têm a ver com aquilo que eu acreditei – e acredito – ser melhor para o PSD.
Em 2008, da última vez que o Carlos Eduardo Reis apoiou Santana, apoiou depois uma lista ao conselho nacional de Luís Montenegro. Desta vez, foi o Carlos a encabeçar uma lista. As histórias casam?
Não. Aquilo que se manteve nestes dez anos é o meu respeito pelos dois políticos que referiu. Podemos é dizer que esse meu apoio a Luís Montenegro foi visionário [risos] porque ele foi depois um grande líder parlamentar. Mas a única coisa que se repetiu de 2008 foi não conseguirmos que Santana Lopes fosse eleito presidente do partido.
Para si, houve excesso de ideologia nesta eleição interna? Como se define nesse sentido?
No início, houve, sim. Se quiser entrar por aí, eu sou um verdadeiro PSD: personalista, com o Estado onde é necessário, mas dando às pessoas a liberdade de trilhar o seu próprio caminho. Quando as diferenças entre PS e PSD se esbatem, o que realmente conta são as propostas na prática, não é a teoria. Há uma agenda mais fraturante, hoje cada vez mais fraturante, que para mim nunca deve deixar de ser votada – favoravelmente ou não – precisamente devido ao que já lhe disse: as pessoas devem assumir as suas crenças. Se quiser, a minha primeira opinião é essa: dizer sempre a minha opinião. A liberdade de voto não pode servir para esconder a falta de coragem para ter opiniões. Mas para responder à questão ideológica inicial: se o PS foi muito prático na forma como escolheu governar o país, o PSD deve escolher ter uma agenda para as pessoas.
Que agenda?
Uma agenda de progresso. Enfrentar o problema demográfico, enfrentar o problema na segurança social, enfrentar o problema na saúde. É um pouco mais novo que eu, mas já pensou que não vai ter reforma se as coisas continuarem a caminhar assim? Não podemos ser um país que se gaba do seu crescimento económico mas cativa tanto nos hospitais que os médicos são pressionados a dar alta aos pacientes. Tem de haver um equilíbrio entre crescimento nos números e crescimento na qualidade de vida das pessoas. O PS já mostrou que não o consegue fazer. O PSD tem de mostrar que é esse o seu objetivo. Mais do que esquerda ou direita, é preciso um projeto para o país. Eu não preciso de dizer que sou de centro-direita para me distinguir do Partido Socialista; preciso, em primeiro lugar, de mostrar às pessoas que governamos melhor do que o Partido Socialista. Esse é o objetivo. Se não for, apontar à maioria absoluta torna-se uma impossibilidade. E as maiorias absolutas não podem ser uma impossibilidade para o PSD.
Os dois candidatos à liderança eram de uma geração a seguir à de Passos Coelho. Há uma geração de alternativas jovens com receio de avançar no PSD?
Não sei se têm receio ou não, terá de lhes perguntar. Mas esta eleição interna foi, com certeza, uma oportunidade perdida para muitos que partilham essa ambição. Adiou-se um tempo, se quiser. Era uma oportunidade para entrar com um discurso diferente, com uma equipa fresca, de percorrer o país sem a pressão do resultado. É uma oportunidade que não aparece todos os dias. Passos Coelho, em 2008, não a desperdiçou e acabaria por ser primeiro-ministro. Lembra-se?