Em tempo de distritais, bloco central não é opção

O PS vai a votos entre 9 e 10 de março para eleger as presidências das federações do partido. Os candidatos únicos são a maioria e a hipótese do acordo à direita não está em cima da mesa.

O PS vai a votos em março nas federações de Portugal continental, naquele que será o primeiro teste à dicotomia PS à esquerda/PS à direita. No entanto, das 19 distritais, apenas cinco apresentaram mais do que um candidato à presidência e é unânime que o PS deve manter-se à esquerda.

No distrito de Leiria, José Pereira dos Santos, que concorre contra a recandidatura de António Sales, deputado na Assembleia da República, afirma estar «ideologicamente mais perto da geringonça do que do bloco central». «Eu não acredito que venha a haver bloco central com António Costa», garante, referindo que conhece o primeiro-ministro desde a direção da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde ambos integraram a mesma lista como vogais.

«Como eu conheço bem o Costa, ele próprio diz ‘vamos conversar com o PSD mas isto está a funcionar bem à esquerda’, portanto não me parece que o PS possa ser a boia de salvação de um partido à deriva que é o PSD», acrescenta Pereira dos Santos.

No entanto, o candidato não descarta a possibilidade de haver apoiantes da solução Costa-Rio. Na sua opinião, «o bloco central teria sido mais fácil com António José Seguro do que com António Costa», numa crítica clara à lista concorrente encabeçada pelo segurista António Sales.

Já Sales, atual presidente da federação, garante: «O meu secretário-geral chama-se António Costa. É a António Costa que eu tenho toda a lealdade, é com ele que estou para os próximos desafios do futuro do PS».

Em relação ao bloco central, a posição é a mesma do adversário. «Neste momento existe um enquadramento parlamentar que todos conhecemos, com o PCP, Bloco de Esquerda e PEV. OPS tem-se dado muito bem com este enquadramento parlamentar, tem sido muito bom para os portugueses porque repôs salários, direitos laborais, melhor e mais emprego», explica Sales.

No entanto, a posicionamento ideológico do PS não está em causa, assegura: «Todos os dias nos reposicionamos e nos centralizamos naquilo que é o nosso verdadeiro reposicionamento ideológico. Neste momento não se coloca sequer qualquer tipo de inflexão para o bloco central».

Em Aveiro, na federação presidida pelo secretário de Estado Pedro Nuno Santos, incumbido da gestão da ponte entre o Governo e as esquerdas, também estão dois candidatos na corrida. De um lado, com o apoio do atual presidente, Jorge Sequeira, o atual vice-presidente da distrital. Do outro, Pedro Vaz.

«Espero que [este sufrágio] sirva para uma clarificação dentro do PS», afirma Pedro Vaz. «Eu sou claramente contra uma hipótese do PSfazer um bloco central», acrescenta, pois entende «que aquilo que estamos a fazer atualmente no Governo tem sido positivo para o Governo» e, por isso, o «PS não deverá fazer esse acordo».

Pedro Coimbra, recandidato à federação de Coimbra, defende que «o PS tem o seu rumo próprio». «OPSgoverna o país, tem um acordo estável e que tem sido e será duradouro com os nosso parceiros», considera o atual presidente, que é também deputado na Assembleia da República.

Sobre o bloco central, Coimbra lembra que Rui Rio «recuou, avançou, recuou e lateralizou» a possibilidade de negócio. «O PS está concentrado na governação», acrescenta. 

O SOL tentou contactar Jorge Sequeira, candidato a Aveiro, e Luís Antunes, candidato a Coimbra, mas sem sucesso.

Porto e Lisboa

Em Lisboa, há uma candidatura única e é a de Duarte Cordeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e número dois de Fernando Medina. 

A norte, na distrital do Porto, ainda não sabe se a recandidatura já anunciada de Manuel Pizarro terá adversário direto. O prazo de apresentação ainda está aberto, apesar dos militantes que não regularizaram as quotas já não serem contabilizados para as votações. O SOLnão conseguiu entrar em contacto com qualquer dos candidatos. Renato Sampaio, presidente da concelhia do Porto e crítico do acordo de Pizarro com Rui Moreira, disse no entanto ao SOL que não exclui a hipótese de apoiar o vereador da Câmara do Porto.

Sobre o assunto do bloco central, Renato Sampaio não vê estas eleições como um teste à dicotomia PS-Esquerda/PS-Direita. «Será a direção nacional e o congresso nacional a definir a estratégia do PS, quevai ser sempre no sentido de manter um bom diálogo com a sua esquerda parlamentar ao mesmo tempo que apelará ao eleitorado que lhe permita ter um bom resultado nas eleições legislativas».

‘Estamos aqui para ver’

No distrito de Bragança, uma zona tradicionalmente marcada pelo PSD, a proposta de um PS à direita também não está em cima da mesa. Carlos Guerra, recandidato à liderança da federação, declara: «Estamos bastante confortáveis com a forma como o PStem atuado» juntamente com o PCP, BE e PEV. «Claramente não é um assunto que nos preocupe», acrescenta.

O atual presidente e recandidato acredita que «ainda estão presentes marcas dos quatro anos [de Governo de Passos Coelho] de um abandono muito grande do distrito». «Deixaram muita gente magoada», afirma, referindo-se à população mais idosa que viu as suas pensões reduzidas e os centros de dia e lares fechados.

«Também o novo PSDainda não deu mostras de qual vai ser o seu posicionamento do que são os direitos básicos da população – saúde, segurança, ensino. Digamos que estamos aqui para ver».

O adversário direto de Guerra, e deputado eleito pelo círculo de Bragança, Jorge Gomes, acredita que se a atual solução governativa «dá garantias, como tem dado, de sucesso para o país, não se mexe».

Este acordo «veio provar que deixou de existir um arco de governação que era do PS para a direita. Hoje, há provas que todos os partidos podem fazer parte de uma solução governativa».

No entanto, Jorge Gomes recorda que este acordo não inviabiliza consensos com outros partido, seja o PSD ou o CDS. E até vê com bons olhos a possibilidade de uma nova geringonça nas próximas eleições, caso o PS não atinja a maioria absoluta. «Os resultados que têm vindo a ser demonstrados são extremamente positivos e se não houve razões para a rotura, porque haveria rutura?», questiona o deputado socialista.

Candidaturas únicas

A maioria das candidaturas às federações apresenta-se sozinha. Tirando Aveiro, Bragança, Coimbra, Guarda e Leiria, as restantes distritais apresentam apenas um candidato.

Das federações contactadas pelo SOL, nove são recandidaturas únicas, num total de treze recandidatos. No Baixo Alentejo avança com Pedro Carmo, Braga com Joaquim Barreto, Castelo Branco com Hortense Martins, Évora com Norberto Patinho, Portalegre com o deputado Luís Testa e Santarém com António Gameiro.

As lutas diretas, na maioria dos casos, são com recandidatos, à exceção de Aveiro, em que Pedro Nuno Santos não apresenta a recandidatura. 

A data de entrega de candidaturas de Viseu e Vila Real termina só na próxima semana, mas não estão previstas novas listas adversárias aos recandidatos Francisco Rocha e António Borges, respetivamente.

Algarve, Lisboa, e Aveiro são as únicas federações que não têm recandidato na corrida. As federações de Setúbal, Região Oeste e Guarda não responderam às tentativas de contacto.

Regiões autónomas com tempos diferentes

Nas ilhas, as datas para as eleições são diferentes. Na Madeira, a eleição realizou-se no dia 19 e viabilizou Emanuel Câmara como presidente da federação e, indiretamente, Paulo Cafôfo para o Governo Regional. A nomeação do presidente do Funchal para as eleições de 2019 foi anunciada durante a campanha do atual presidente.

Nos Açores, a reunião para determinar as datas do processo eleitoral está agendada para dia 17 de março. Só depois será conhecido o regulamento que determinará os prazos para apresentação de candidatos e para o sufrágio.

Artigo publicado na edição impressa do SOL de 25 de fevereiro de 2018