A pausa humanitária patrocinada pelo governo russo nos arredores de Damasco funcionou pela primeira vez esta quarta-feira, mesmo que apenas de forma parcial, precisamente ao longo das cinco horas que vão desde o início da manhã até ao início da tarde.
Nesse período o regime sírio não bombardeou com os seus caças e tão-pouco disparou rockets e artilharia contra os bairros rebeldes cercados e a apenas 20 minutos de autocarro do Palácio onde vive Bashar al-Assad.
Mas se é verdade que as cinco horas sem bombardeamentos se cumpriram esta quarta, também é verdade que o resto do que promete a trégua anunciada segunda-feira pelo Kremlin continua por materializar-se: não houve retirada de feridos, não saíram famílias e não entrou o material humanitário que as organizações reivindicam em nome dos 400 mil residentes em Ghuta Oriental.
As cinco horas, porém, esgotam-se com rapidez e os bombardeamentos aéreos contra o enclave rebelde regressaram com violência da parte de tarde. E esta quarta não foram apenas os caças e os disparos à distância: num dos vértices dos domínios rebeldes sírios de Ghuta, o amontoado de tropas do regime destacado para a conquista do enclave rebelde tentou uma nova operação para conquistar terreno nos bairros densos e intrincados que no pré-guerra alojavam operários e agricultores, na sua maioria sunitas.
A estratégia de pequenas pausas nos combates e propostas unilaterais – não internacionais – de corredores humanitários é uma repetição da tática executada com sucesso nos últimos meses de 2016 em Alepo. Também no centro rebelde o regime de Assad e aliados fizeram uma combinação de bombardeamentos intensos com dias de interrupção e avanços discretos no terreno que culminaram na conquista da cidade.
Vladimir Putin disse esta quarta que colaborou com o governo turco e que, juntos, conseguiram tirar “um grupo considerável de pessoas” dos bairros de Ghuta Oriental, mas não havia organizações no terreno que o comprovassem – uma fonte militar síria confirmava até à France-Presse que não passaram quaisquer civis pelos corredores protegidos pelo regime.
O governo turco argumentou também que o cessar-fogo aprovado no fim de semana no Conselho de Segurança das Nações Unidas – que ruiu ainda antes de estar erigido – nada interfere nas suas operações contra os grupos armados curdos no norte do país e respondeu com violência a norte-americanos e franceses, os dois aliados da NATO que mais pressionam Ancara para que interrompa as suas operações. Ancara disse também que o governo francês e Emmanuel Macron estão a alastrar “informações falsas”.