Coreia do Norte. As histórias dos Kim e dos seus passaportes falsos

Kim Jong-un e o pai terão usado documentos brasileiros forjados. Por um passaporte falso caiu em desgraça o herdeiro natural do regime

Os passaportes brasileiros falsos de Kim Jong-un e do pai, Kim Jong-il, agora descobertos pela Reuters, são aparentemente apenas mais um rasto que se volta a notar das identidades falsas e documentos forjados a que o regime norte-coreano recorreu no passado para obter vistos para viajar.

Não é a primeira vez que as histórias de passaportes falsos dos Kim chegam à imprensa internacional. Desde que o mais velho dos filhos de Kim Jong-il foi detido no aeroporto de Tóquio, em 2001, com um documento forjado da República Dominicana que as principais figuras do regime figuram no radar das polícias internacionais.

A história de Kim Jong-nam foi mesmo sempre a descer a partir desse momento em que a polícia japonesa o chamou de parte para lhe dizer que não acreditava na sua nacionalidade dominicana e que ele não era quem aparentava ser.

De Tóquio a Kuala Lumpur, a vida do irmão mais velho de Kim Jong-un não correu bem. No aeroporto japonês foi apanhado, no malaio foi morto, fez no dia 13 um ano, envenenado, numa operação rápida aparentemente orquestrada pelos serviços secretos de Pyongyang. Kim Jong-nam tornara-se um incómodo com as suas críticas ao governo da Coreia do Norte e à atuação do seu irmão que, em dezembro de 2011, assumiu a liderança que lhe estava destinada desde 1994.
O próprio Kim Jong-un terá entrado no Japão com identidade falsa em 1991, ainda era uma criança de nove anos (ou 11, de acordo com outras fontes), para visitar a Disneylândia – a história foi contada em 2011 pelo japonês “Yomiuri Shimbun” –, já nessa altura com um passaporte brasileiro. Diga-se de passagem que o irmão, quando foi apanhado em 2001, já tinha 30 anos e a sua desculpa foi a mesma: queria visitar a Disneylândia.

O que não se sabe sobre o atual líder norte-coreano é se, em 1991, com oito anos, o seu passaporte de entrada no Japão já o identificava como Josef Pwag, filho de Ricardo Pwag e Marcela Pwag Joou, nascido em São Paulo a 1 de fevereiro de 1983. E se o documento, tal como o agora revelado pela Reuters, terá sido emitido pela embaixada do Brasil em Praga.
Sabemos, isso sim, que o documento não foi o mesmo, porque este passaporte tem data de emissão posterior, 26 de fevereiro de 1996 – a mesma data que figura no passaporte falso do seu pai, o falecido líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-il. O nome que nele consta é o de Ijong Tchoi, apelido bem diferente do filho, mas a mesma cidade de nascimento: São Paulo.

Segundo o site UOL, citando o livro “North Korea under Kim Chong-il – Power, Politics and Prospects for Change”, Ricardo Pwag, o nome que figura como pai de Josef “Kim Jong-un” Pwag seria o pseudónimo de Pak Yong-mu, membro do círculo íntimo do pai do atual homem-forte do regime de Pyongyang. Acrescenta o site que seria mesmo o responsável por conseguir prostitutas para Kim Jong-il e familiares.

Os dois passaportes, considerados legítimos por uma fonte do Ministério das Relações Exteriores à Reuters – no sentido em que são documentos originais brasileiros enviados para preencher nos serviços em Praga –, estão agora a ser alvo de investigação pelas autoridades de Brasília.

A agência de notícias não conseguiu chegar à conclusão se os passaportes foram mesmo utilizados para solicitar e conseguir vistos. E se algumas das folhas teriam o carimbo de entrada em algum país.