O mercado imobiliário português está ao rubro. As mediadoras bateram recordes de vendas e também de faturação, refletindo a dinâmica a que se assiste no setor. Trata-se do reflexo da melhoria da economia, mas também da maior facilidade de acesso ao financiamento junto da banca e da procura cada vez maior por parte dos cidadãos estrangeiros. E os números falam por si: as três maiores imobiliárias – Remax, Era e Century 21 – venderam mais de 82 mil imóveis só no ano passado. E mais significativo é o montante envolvido nestas operações: ultrapassou os cinco mil milhões de euros.
A opinião junto das mediadoras é unânime: o mercado externo veio dar um grande fôlego ao setor e o seu peso é cada vez maior no total das transações realizadas.
Mas vamos a números. Entre janeiro e dezembro do ano passado, a faturação da Century 21 superou os 35 milhões de euros, o que representa um aumento de 35% face aos 26 milhões de euros registados no mesmo período do ano anterior. Foram realizadas 10.988 transações, o que traduz um aumento de 37%, em relação às cerca de 8 mil efetuadas em 2016. No ano passado, os negócios mediados na rede da marca cresceram 20% para os 712 milhões de euros.
Ainda assim, o valor médio de venda dos imóveis, a nível nacional, fixou-se nos 129 mil euros, o que traduz uma descida de cerca de 13% face ao valor médio de transação de 148 mil euros registado em 2016. No ano passado, a tipologia mais procurada pelos portugueses foi o T3.
Já a Remax encerrou o ano com um total de volume na ordem dos 3,3 mil milhões de euros, relativos a cerca de 60 mil transações, 76% das quais de compra e venda de imóveis. Este número representa um crescimento de 17% no volume total de transações e de 37% em volume de negócios.
A imobiliária justifica ainda este crescimento com o aumento de oferta de alojamento local. «Os novos estabelecimentos licenciados, na sua grande maioria na região de Lisboa, são um dos fatores que em muito tem contribuído para impulsionar o volume de negócios e de transações Remax em todo o país e em particular na região da Grande Lisboa».
A este factor há que juntar ainda a constante procura por investimentos em imóveis de luxo. «Localizados em zonas premium da cidade, com condições de comodidade acima da média e com vistas privilegiadas para o rio, para as principais artérias da capital ou mesmo para as zonas históricas, continuam a ser tendência que este ano de 2017 viu a imobiliária líder no segmento de luxo em Portugal – Remax Collection – crescer significativamente em termos de transações e volume de negócios», esclarece.
Também a ERA revelou que tinha vendido 1.550 milhões de euros em imóveis num total de 12 mil transações, o que representou uma faturação de 87 milhões de euros em comissões de mediação imobiliária. Para este ano, as perspetivas são animadoras. A empresa estima que «2018 venha a ser um ano ainda melhor e traçou como objetivo vender imóveis no montante de dois mil milhões euros. Se atingir esta meta, a rede de agências ERA irá faturar 100 milhões de euros em comissões de mediação imobiliária, atingindo assim o equivalente a 1% do produto interno bruto (PIB) de Portugal», revelou.
Transações internacionais
Os clientes estrangeiros representaram cerca de 19% do total das transações Century 21 Portugal e subiram 9% para as 2087, em comparação com as 1.923 operações de clientes internacionais realizadas no mesmo período do ano anterior, com a predominância de clientes oriundos de países como a França, Brasil, China, Bélgica e Reino Unido. No ano passado, mais de 50% das transações internacionais foram dominadas por franceses, cerca de 16% foram efetuadas por brasileiros e 13,2% por chineses.
As zonas mais procuradas foram Lisboa, Cascais, Porto, Algarve, Costa de Prata, ou ainda outras regiões do país que «começam a despertar um interesse cada vez maior, como Setúbal e Alentejo».
Já na Remax o peso do mercado externo desceu ligeiramente, passando de 13,9% para 13,1% do volume total de transações realizadas – os clientes portugueses representaram 87% das transações da mediadora e 83% da faturação da rede. Mas foram os brasileiros que mais compraram casas nesta rede, destronando os franceses (líderes em 2016) e os chineses (líderes em 2015).
Este peso cada vez maior dos cidadãos estrangeiros é admitido pela própria Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), que revela que o investimento estrangeiro para compra de habitação em Portugal teve uma representatividade na ordem dos 20% em 2017.
De acordo com os dados da associação, o mercado francês mantém-se no top dos estrangeiros que mais investem no país (29%) mas é o investimento brasileiro que mais tem crescido, representando já cerca de 19% da compra de casas por estrangeiros em Portugal. No top cinco seguem-se os ingleses (11%), os chineses (9%) e os angolanos (7,5%).
Para o Presidente da APEMIP, Luís Lima, esta ascensão dos brasileiros não é uma surpresa. «Há cerca de três anos que tenho chamado a atenção para o potencial que o investidor brasileiro representa para o imobiliário nacional, que se acentuou não só com a instabilidade política, social e económica que o Brasil atravessa, mas também com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, que fez com que muitos brasileiros que haviam investido na Florida, como é tradicional, procurassem alternativas seguras, como o imobiliário português» declara, prevendo que esta representatividade possa continuar a crescer no decorrer de 2018.
Em Lisboa e Porto, são já os brasileiros que dominam a compra de casas por estrangeiros (com uma representatividade de 24% e 27%, respetivamente), no entanto, no Algarve e no âmbito nacional, são os franceses que ocupam os lugares cimeiros.
Para o presidente da APEMIP, o desafio prende-se agora com a tentativa de travar a quebra no investimento chinês. «Os chineses ainda representam 9% do total das vendas a estrangeiros, mas não podemos deixar de realçar a quebra deste investimento no panorama nacional. É necessário que os procedimentos do programa de autorização de investimento para atividades de investimento sejam rapidamente normalizados, para evitar eventuais impactos negativos e desconfianças que os atrasos (na emissão e renovação de vistos) que hoje se verificam possam ter junto destes cidadãos», salienta.
T2 e T3 são as tipologias mais desejadas por estrangeiros e Lisboa, Porto e Algarve continuam a ser as regiões mais procuradas pelos investidores internacionais que querem apostar no segmento habitacional português. No entanto, para Luís Lima, em 2018, esta procura deverá dispersar-se por outras regiões do país. «Há cada vez mais investidores interessados em apostar na compra de casa em locais fora das rotas habituais. Muitos, porque têm laços familiares que os unem a determinadas regiões do país, outros porque procuram alternativas de investimento através da aposta no turismo rural, por exemplo. As perspetivas são boas, e trarão também a estas regiões novas dinâmicas económicas que promoverão o seu desenvolvimento».
Raio-x do mercado
Quanto aos compradores nacionais, de acordo com a Century 21, cerca de 55% dos portugueses que efetuaram transações de compra situavam-se na faixa etária entre os 40 e 50 anos, e cerca de 40% tinham menos de 40 anos. Cerca de 94,7% dos compradores são casados, 78,9% são empregados e 21,1% são empresários. «A esmagadora maioria dos compradores optou pela aquisição de apartamentos e apenas 5,3% adquiriram moradias. A tipologia mais pretendida foi a T3, e a tipologia T2 registou a segunda preferência de compra dos consumidores», disse a imobiliária.
Em termos de valores de transação, 26% das casas foram transacionadas por preços abaixo dos 100 mil euros. A maioria dos compradores, mais de 42%, adquiriu imóveis com valores entre os 100 mil e os 200 mil euros, apenas 26,3% dos compradores optaram por imóveis entre 200 mil e 500 mil euros e só 5,3% das aquisições foram efetuadas por valores superiores a 500 mil euros.
Em relação aos proprietários que, em 2017, venderam imóveis nesta rede 63,2% tinham entre 40 e 50 anos, mais de 26% situavam-se na faixa etária entre os 50 e os 60 anos e apenas 10,5% com menos de 40 anos. A esmagadora maioria dos proprietários, 94,7%, apresentava o estado civil de casado, cerca de 86,8% detinham situação profissional de empregados e apenas 13,2% a de empresários.
Já a Remax revelou que os apartamentos são a tipologia de imóvel preferida dos investidores em território nacional, ao representarem 63% das transações imobiliárias realizadas. As habitações de três e quatro assoalhadas, T2 e T3 respetivamente, lideram assim as escolhas de compradores e inquilinos nacionais, com 43% e 31% do total registado no período. Já Lisboa, Sintra e Oeiras foram em 2017 os concelhos que registaram um maior volume de transações, seguidos de Cascais e Almada.
A mediadora admitiu, no entanto, que comparativamente a 2016, as moradias tendem a ganhar cada vez mais terreno, ao registarem um crescimento de 1,3% (pontos percentuais), assumindo, no último ano, 20% das preferências dos investidores.