Os tripulantes da Ryanair continuam a acusar a companhia área de pressão e até mesmo de bullying. O alerta é feito ao i por um trabalhador da base portuguesa ao admitir que o ambiente de perseguição e de penalização consoante as vendas que são feitas a bordo têm vindo a aumentar cada vez mais. “Continua a existir um clima de medo e de ameaça. Todos os tripulantes têm de obedecer a determinados objetivos e de seis em seis meses aparece uma lista onde são discriminadas as vendas que são feitas por cada tripulante e os que não cumprem os objetivos ou são chamados à atenção ou são transferidos para bases com menos voos como forma de castigado porque passam a ganhar menos”, revela a mesma fonte.
Para expressar o seu descontentamento, os trabalhadores da Ryanair mantêm a greve que está convocada para os próximos dias 29 de março e 1 e 4 de abril. “Acredito que a adesão vá ser grande porque há uma onda de descontentamento cada vez maior”, realça ao i.
A penalizar ainda mais esta situação está a relação laboral que continua a ser precária e “sem fim à vista”. “Os contratos de trabalho são feitos através de duas agências de trabalho temporário irlandesas, regidas pela lei irlandesa, e renovado continuamente de três em três anos, sem nunca conseguirmos passar para os quadros da empresa”.
Também a implementação de um salário base que tem sido prometido pela companhia aérea continua sem avançar. Ainda assim, a mesma fonte critica os valores que estão em cima da mesa: um ordenado base a rondar o salário mínimo (cerca de 580 euros), acrescido de 4,8 euros por hora de voo. “Depois dos descontos que são feitos em Portugal, tanto para as Finanças como para a Segurança Social, o ordenado deverá rondar os 900 e poucos euros. Um valor muito aquém do que é pago na concorrência e com a implementação do salário base, o pagamento das horas de voo cai drasticamente”, salienta.
Companhia desvaloriza Apesar das fortes críticas por parte dos trabalhadores, a Ryanair continua a afirmar a que a greve dos tripulantes de cabine na Páscoa não irá avançar por considerar que os profissionais em Portugal estão “satisfeitos”. Quanto às acusações feitas, de que a companhia aérea de baixo custo não cumpre a legislação laboral portuguesa e tem vindo a deteriorar as condições de trabalho nos últimos anos, Michael O’Leary garante que “as condições até têm vindo a melhorar”.
“Os nossos tripulantes de voo estão a ter direito a folgas no final de cada semana e a aumentos nos salários que resultam em mais 25 a 45 euros por ano”, destacou, referindo que estes acréscimos são de quase 20%.
Ainda assim, o responsável admite que, “se a greve for avante, haverá voos cancelados”.
Recorde-se que a Ryanair perdeu, em setembro, no Tribunal de Justiça da União Europeia depois de ter tentado forçar os colaboradores que trabalham em bases fora da Irlanda a verem as disputas serem tratadas em tribunais irlandeses.