A jota que foi vencer ao congresso do seu partido

Pode dizer-se que foi um dos vencedores da noite sem ter aberto muito o jogo. Se, no congresso do PSD, Montenegro se distanciou de Rio e Santana se aproximou, no do CDS Francisco Rodrigues dos Santos ficou entre o distanciamento e o alinhamento total

Se o volume das críticas internas diminuiu quase até à mudez, há um contraste que mostrou a sua voz mas não chegou a riscar o disco. Cristas venceu pela consagração; Francisco Rodrigues dos Santos ganhou pela enunciação – e pela promessa. Replicando o paralelismo com o passado congresso do PSD, o presidente da Juventude Popular veio dizer que “não pedirá licença” para avançar, tal como Luís Montenegro fez.

Não se pode dizer, todavia, que as suas intervenções tenham constituído anúncio pré-candidatura semelhante. Ficou entre o distanciamento de Montenegro a Rio e o alinhamento total de Santana ao mesmo. Rodrigues fez melhor: saiu de Lamego com o que queria sem dizer nada que não quisesse ao congresso.  Ora veja-se: o líder da ‘jota’ centrista queria o regresso da JP à Assembleia da República, Adolfo Mesquita Nunes prometeu-lhe isso mesmo; o líder da ‘jota’ queria estar na Comissão Executiva do partido, e aí passará a estar, assim como o seu secretário-geral (Francisco Tavares) na Comissão Nacional. 

“O Francisco foi a este congresso fazer aquilo que tinha de fazer: falar e convencer, distinguir sem desunir”, avalia um deputado, apoiante de Cristas e reconhecedor dos méritos de Rodrigues dos Santos. “Mostrou tropas e mostrou pensamento”, conclui o mesmo, escutado pelo i. 

Foram, nesse sentido, os dois momentos de maior simbolismo coletivo no congresso. Quando sábado Assunção Cristas levou ao palco dezenas de novos militantes que a sua liderança trouxe – os mesmos que aplaudiram clips de debates entre esta e Costa a passar nos ecrãs gigantes como se no cinema estivessem. E o momento em que o presidente da mesa do congresso, Luís Queiró, levou a votos um requerimento para impor a uma da manhã como hora limite para as intervenções desse dia, recebendo, depois, chumbo dos vários à espera de vez para falar.

Cada um recebeu três minutos e a disciplina era recompensada com gratidão queirosiana. A maioria, a essa hora, correspondia a militância da Juventude Popular, com aclamações diversas ao seu líder, Francisco Rodrigues dos Santos.  As reações a tal variaram: uns, vítimas de sono, a pedir pressa; outros, lembrados dos seus tempos, compreensivos. “No nosso tempo também era assim. Esperávamos dois anos para falar em congresso. Faz parte. É uma prenda do partido para os militantes”, recorda um parlamentar mais experiente. “O congresso também é isto. Não entendê-lo é não entender os partidos. Não há uma elite esclarecida a falar e os outros a ouvir”, reafirma.

As tropas da ‘jota’, todavia, fizeram-se valer da montra. Se Assunção levou a nova militância em grupo ao palco, Rodrigues Santos levou a JP ao púlpito, militante a militante. “Muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa”, foi uma das frases que o jovem quadro dirigiu, numa das suas intervenções, a Adolfo Mesquita Nunes – que é também visto como um dos nomes certos para o futuro do CDS. A verdade é que há algo que os separa – ou que separou mais explicitamente os discursos da maioria dos intervenientes em Lamego. Uns pelo pragmatismo, outros pela ideologia. 

Os próprios, claro, não se deixaram cair aí. Mesquita Nunes não esqueceu a democracia-cristã, cuja atualização foi patrocinada por Adriano Moreira (ver página 2-3). E Rodrigues dos Santos procurou conciliar os dois eixos, crescimento eleitoral e princípios doutrinários. Afinal, o CDS tem tradição em albergar tanto conservadores como liberais. Às vezes, poderão chocar. Mas este não era esse tipo de congresso. Nem este é esse tipo de tempo.