Para além do futebol, há outra polémica a abalar a Grécia. A Novartis está no centro de um escândalo que envolve dois antigos primeiros-ministros e oito ex-ministros gregos. O Ministério Público investiga corrupção e lavagem de dinheiro num montante que pode ascender a 3000 milhões de euros em prejuízos para o Estado, e as conclusões do inquérito parlamentar aos alegados subornos da multinacional farmacêutica suíça – com o objetivo de ter uma posição dominante no mercado – estão agendadas para o final deste mês ou início do próximo. O parlamento decidirá se os políticos, que estiveram em funções entre 2006 e 2015 e que rejeitam as acusações, devem ser julgados perante um tribunal especial.
O inquérito iniciou-se em dezembro de 2016 com base em informações do FBI, que recolheram testemunhos sobre práticas ilegais da filial grega da multinacional suíça, suspeita de ter subornado – terá usado pelo menos 50 milhões de dólares – vários responsáveis médicos e políticos para vender os seus medicamentos a preço inflacionado. A Novartis já foi condenada nos EUA e na China pelos mesmos motivos.
País de referência O escândalo extravasa as fronteiras do país, uma vez que a Grécia é país de referência para o preço dos medicamentos para todo o sudeste da Europa e para a Turquia. Quando um medicamento fica mais caro na Grécia, encarece também em todos os outros países da região, o que, de acordo com os média helénicos – que têm dado grande destaque aos escândalo -, justifica as somas despendidas pela Novartis para garantir os valores inflacionados.
Além disso, os preços dos fármacos são fixados por uma comissão do Ministério da Saúde onde têm assento os representantes das principais empresas farmacêuticas.
“O custo de medicamentos disparou nos últimos anos em percentagens que eram o dobro das do resto da União Europeia. Assim, pode perceber-se que a baixeza moral e o volume financeiro acumulado às custas do povo grego são assuntos de enorme importância”, disse Stavros Kontonis, ministro grego da Justiça, sobre o caso.
O seu adjunto, Dimitris Papangelopoulos, afirmou que a sua experiência como procurador o levou a “concluir que este é o maior escândalo desde a formação do Estado grego”.
Entre os nomes suspeitos de envolvimento no escândalo surgem, entre outros, Antonis Samaras, antigo primeiro-ministro; Dimitris Avramopoulos, atual comissário europeu para a Migração, Assuntos Internos e Cidadania; Evangelos Venizelos, ex-vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros; Andreas Loverdos, antigo ministro da Educação; e Yannis Stournaras, ex-ministro das Finanças entre 2012 e 2014 – auge da “crise da dívida” – e atual governador do Banco da Grécia.