Violência. Uma semana, dois amantes, duas mulheres mortas

Duas mulheres foram encontradas mortas em apenas uma semana. O corpo de Nélia estava estendido junto aos cadáveres dos cães. O de Vera foi esfaqueado 80 vezes

Em apenas uma semana, duas mulheres foram mortas pelos amantes. Os crimes têm vários pontos semelhantes: as duas vítimas foram encontradas pelos filhos em casa. Ambas foram esfaqueadas até à morte.

Na quinta-feira passada, Nélia Moniz, de 49 anos, foi encontrada morta pelo filho de 14 anos na residência onde viviam, perto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Real. O jovem regressava da escola quando encontrou o corpo da mãe, ensanguentado, no meio do chão. Saiu de casa em pânico e pediu ajuda num estabelecimento comercial perto de casa.

Havia sangue em várias divisões da casa. Quando chegaram ao local, as autoridades não tiveram dúvidas de que estariam perante um cenário de crime – o corpo de Nélia apresentava vários sinais de agressão e esfaqueamento. Ao seu lado estavam os cadáveres de dois cães da família. 

No dia seguinte surgiu uma notícia inesperada: o principal suspeito do crime tinha sido encontrado morto. Adolfo Pinto era amante de Nélia. Vivia no Liechtenstein e tinha uma viagem marcada para a Suíça na sexta-feira. A Polícia Judiciária de Vila Real suspeitava do seu envolvimento no crime por ter fugido do local no carro da vítima, um Mercedes C220, revelou o “Correio da Manhã”.

Adolfo foi encontrado morto em Lamego, ao final da manhã, e apresentava sinais de enforcamento. O carro de Nélia foi encontrado perto do local onde o cadáver foi descoberto.

Um ponto final drástico Dias antes, Vera Lopes sofrera o mesmo destino. Aquilo que começou com uma simples discussão entre um casal terminou com um cenário dantesco. Já passavam das 11h00 do dia 10 de março quando a GNR encontrou o corpo da mulher de 29 anos no interior da casa onde habitava, em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão. Tinha sido esfaqueada mais de 80 vezes e as marcas de sangue estavam presentes nas cortinas e nas paredes. No mesmo dia, a Polícia Judiciária da Guarda deteve João Silva, o homem de 32 anos que acabou por confessar o crime. 

Vera, mãe de três crianças, mantinha relações íntimas com vários homens a troco de dinheiro, mas estava apaixonada por João Silva. Fazia questão de registar todos os momentos que passava com ele num caderno que guardava em casa. O i sabe que o casal namorava há cerca de três anos, mas João encontrou um novo amor e tentou terminar a relação com a companheira. Vera não aceitou a decisão e começou a pressioná-lo com telefonemas e mensagens, chegando mesmo a controlar o seu local de trabalho, uma loja de gomas e algodão doce.

Pessoas próximas de Vera confirmaram que a vítima mantinha outros relacionamentos para subsistir financeiramente, mas o coração estava com João. Chegaram mesmo a tentar convencê-lo a não terminar a relação, mas nada o fazia mudar de ideias.

Determinado a seguir em frente e a pôr um ponto final neste episódio da sua vida, João não encontrou melhor ideia do que dirigir-se a casa de Vera para terminar a relação de vez. Segundo a sua versão, estariam a falar calmamente mas, aos poucos, a conversa começou a subir de tom. Descontrolado, João pegou numa faca de cozinha e começou a esfaquear a ex-companheira. Vera ainda tentou defender-se, mas a violência era tal que não conseguiu escapar das mãos do namorado enfurecido.

Tudo isto se passou enquanto o filho da vítima, de apenas cinco anos, dormia no andar superior. A criança não se apercebeu do que se estava a passar e só de manhã é que encontrou o corpo da mãe estendido no chão. Tentou sair para pedir ajuda, mas a porta de casa estava trancada. Por isso, começou a gritar por amigos da mãe, que avisaram as autoridades.

Para além deste menino de cinco anos, Vera tinha ainda outros dois filhos – um encontra-se a viver com os avós maternos e a outra foi retirada à mãe pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e entregue a uma família de acolhimento.

“Fui eu que a matei” Quando a polícia chegou a casa de João Silva, este estava acompanhado pelos pais. Pai e mãe mostraram-se surpreendidos com o aparato policial, mas João não mostrou grande surpresa perante a visita das autoridades. 

Os pais estavam preocupados com o que se estava a passar, mas nunca imaginaram que o filho pudesse estar envolvido num homicídio. Enquanto o homem era interrogado pela polícia, os progenitores ligaram a CMTV como se o canal de televisão pudesse trazer uma alternativa às suspeitas da polícia. Viram em direto imagens da casa de Vera Lopes, rapariga que parecia não fazer parte do leque de mulheres que João conhecia. E, por momentos, descansaram.

Durante o interrogatório, João negou qualquer envolvimento no crime, mas quando saiu para mostrar o seu carro à Polícia Judiciária não conseguiu conter as lágrimas e admitiu: “Fui eu que a matei.” Disse que não era aquilo que queria fazer, mas acabou por perder o controlo da situação e não conseguiu conter-se.

A partir daqui, João começou a dar detalhes sobre o crime, a arma que usou e como se tinha desfeito dela – depois de esfaquear Vera dezenas de vezes com uma faca de cozinha, atirou a arma do crime para a lareira. Para além disso, não fez questão de esconder os vários cortes que tinha nas mãos, provocados pelo crime violento.

Enquanto contava a sua versão daquela noite fatídica, João mostrou alguns objetos que usou durante o homicídio, que já tinha deitado em caixotes do lixo, o que revelava a premeditação do crime. Um desses objetos são as botas de trabalho que calçava naquela altura: as marcas da sola coincidiam com as que tinham sido encontradas no local do crime. João entregou ainda a chave da casa da vítima, que tinha usado para trancar a porta logo após o homicídio, e umas luvas que usou naquela noite. O seu carro também foi apreendido para recolha de mais indícios. 

João Silva vai aguardar julgamento em prisão preventiva.