Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor. Pois bem. Rui Rio já passou pela saída de Feliciano Barreiras Duarte – por mais internamente dolorosa que esta tenha sido – e agora, depois da tempestade, espera-se a acalmia.
Se esta semana foi Bruxelas o destino de reuniões mais mediáticas, na semana que vem Lisboa será a capital política do presidente do PSD. Já com novo secretário-geral e a afinar as bandeiras da Oposição (o ontem anunciado projeto de resolução contra a entrada de capital no Montepio pode dar dores de cabeça ao Governo), Rui Rio reunirá a sua Comissão Permanente e a sua Comissão Política Nacional na sede nacional do partido, quarta-feira.
A seguir à parelha de encontros, ao que o SOL apurou, o líder social-democrata receberá os seus líderes distritais na São Caetano à Lapa para uma reunião de articulação e coordenação entre os dirigentes, que já contará também com o novo secretário-geral – José Silvano (ver perfil ao lado).
Descentralização
As distritais, que chegaram a reunir sem o conhecimento de Rio entre a sua vitória nas eleições diretas e o congresso na antiga FIL, serão parte determinante na organização no Conselho Estratégico Nacional – órgão criado pela nova direção para a elaboração do programa eleitoral para as legislativas, coordenado pelo vice-presidente David Justino.
Entre as múltiplas pastas (Relações Externas, Assuntos Europeus, Descentralização, Defesa, Finanças, Justiça, Proteção Civil, Agricultura, Coesão, Ambiente, Economia, Saúde, Solidariedade, Educação e Mar), o PSD distribuirá deputados e dirigentes distritais e do Conselho Estratégico mencionado.
Dito de outro modo: à ambicionada descentralização nacional, Rui Rio acrescentará uma descentralização partidária para compor um género de governo-sombra assim não chamado – como, aliás, o SOL já noticiara.
«As secções temáticas de nível nacional poderão ser sediadas em diferentes cidades, de acordo com a sua temática ou residência dos seus membros, e deverão, em articulação com as estruturas distritais do PSD, propor à Comissão Permanente do Conselho Estratégico Nacional a constituição de secções distritais ou interdistritais, de acordo com critérios a definir em regulamento próprio», diz a nota enviada aos dirigentes e a que o SOL teve acesso.
A reunião desta quarta-feira servirá também para aprovar esse regulamento e para clarificar a estrutura às distritais.
Uma semana depois da véspera dessa reunião, José Silvano, deputado veterano, deverá ser ratificado em Conselho Nacional reunido no Porto, ainda que já tenha iniciado funções antes dessa necessária legitimação. Dia 21, na passada quarta-feira, por exemplo, esteve na tomada de posse do PSD de Oeiras enquanto secretário-geral– apesar de estaturiamente a substituição do secretário-geral do partido requerer votação no Conselho Nacional, onde Rio não tem maioria.
De Maló a melhor
O facto é que o nome de Silvano – um dos dirigentes nacionais preterido por Rio no congresso de aclamação – foi visto com agrado junto dos líderes distritais, em particular após a controvérsia que assolou o currículo académico de Feliciano Barreiras Duarte.
«Sobretudo, depois disto tudo, as polémicas anteriores, mais pequenas, [dos vice-presidentes Elina Fraga e Salvador Malheiro] perderam relevância. Agora, sim, é tempo de trabalhar», saúda um membro da CPN de Rui Rio, ao SOL.
Rio, como referido, já passou o seu primeiro Bojador. Falta saber agora se fará das tormentas uma boa esperança.