Francisco Louçã não compra a teoria de que o PS se pode limitar a cumprir o texto dos acordos assinados em 2015 com BE e PCP para chegar ao fim da legislatura e sonhar com a maioria absoluta.
"Ou seja, se o Governo seguir essa teoria, não trata com os seus parceiros dos problemas da governação; precisa deles, mas não trabalha com eles; manda muito, mas conversa pouco", escreve Louçã no Expresso, para lembrar que além do que já está firmado, por exemplo, em matéria de salário mínimo, há uma agenda de esquerda em temas como a contratação de profissionais na Saúde, regras para as carreiras mais longas na Segurança Social e contratação de precários que não pode ficar em suspenso na expectativa de uma maioria absoluta do PS.
Louçã acredita pouco na possibilidade, que alguns analistas dão como provável, de António Costa conseguir uma maioria absoluta nas próximas legislativas e aconselha, por isso, o Governo a não dar como certo o fim das conversas à esquerda até ao fim da legislatura.
"A realidade é que o PS está longe da maioria absoluta, o pouco que lhe falta é imenso ", frisa o conselheiro de Estado, que diz que para esse resultado se concretizar seria preciso o PSD cair ainda mais "abaixo do que é já muito " e o CDS "ficar insignificante".
Por isso, Francisco Louçã avisa que a ideia de que Costa pode descartar já a continuação das negociações à esquerda dando como certa a aprovação do último Orçamento da legislatura porque ninguém quer uma crise política "pode ser uma armadilha para o PS".
O ex-líder do BE classifica como "prosápia" as declarações de uma fonte "anónima" do Governo que disse ao Público que "Centeno não dá margem para aumentos da Função Pública " em 2019. E diz que esse tipo de atuação do Governo pode constituir "a mais evidente garantia de falhanço" do PS.
"Numa palavra, a teoria pede que o PS embata contra a esquerda para ganhar votos à direita ", nota Louçã, que vê riscos neste tipo de cálculo.
"Isso seria arriscar tudo na campanha eleitoral e para resultados duvidosos: falhando, o PS ficaria dependente de Rio para o Orçamento do Estado e o PSD teria em breve a sua oportunidade de escolher o momento de 'ir ao pote', como Passos Coelho um dia elegantemente explicou ", escreve.
Para Louçã, esta estratégia socialista só teria um beneficiário: seria "a única hipótese de sobrevivência da liderança de Rio após 2019".