Em novembro de 2016, rezava a capa do SOL que «Santana não desiste de ser líder». Em março de 2018, há quem não esqueça essa máxima.
Perante o começo mórbido da liderança de Rui Rio – eleita contra Santana Lopes, mas consagrada com o apoio de Santana Lopes -, há ‘santanistas’ que incentivam o seu ex-candidato a não deixar de o ser.
Dito de outro modo: com Rio privado de qualquer período a que possa legitimamente chamar-se ‘estado de graça’, o santanismo vê com agrado o modo como Pedro Santana Lopes tem mantido o escrutínio atento à liderança nacional do ex-presidente da Câmara do Porto. Ao que o SOL apurou, os apoiantes de Santana vêm mesmo incentivando o próprio a não desconsiderar a possibilidade de avançar caso Rui Rio caia antes de setembro.
«A máquina continua oleada. Pelo menos, mais oleada do que aquela que aterrou na São Caetano à Lapa», ironiza um deles.
«Tem um dever perante aqueles que votaram nele. Uma responsabilidade. E Rio vai perdendo tropas a cada dia que passa», aponta outro. «A solidariedade institucional [de encabeçar a lista de Rio ao Conselho Nacional] não pode chegar para tudo. Vamos ver como é que as coisas se desenvolvem. Se o partido começa a fazer oposição ou não. Se ele avançar, estou com ele, continuo com ele», assegura o mesmo. «Se foi o único com coragem para avançar contra Rio, que não teve medo de António Costa e das legislativas de 2019, tem uma obrigação caso Rio não se aguente. Estes primeiros 40 dias da nova liderança só vieram dar razão a Santana: afinal as ‘trapalhadas’ não eram dele; eram de Rio», remata.
Ao SOL, contudo, Santana Lopes garante que quer «ficar sossegado» e não se meter «em confusões».
Montenegristas receiam futuro
Se Rio ganhou as diretas e Montenegro ganhou o congresso, os mais próximos deste último receiam o futuro de médio prazo do homem que prefeririam ver como presidente do seu partido.
O SOL sabe que o facto de Luís Montenegro já não estar no Conselho Nacional no partido e de não incluir, previsivelmente, as listas para a Assembleia da República nas legislativas de 2019 preocupa os ‘montegristas’.
«Ele fará muita falta no Conselho Nacional. Ninguém aglomerava forças como ele ali», observa um deputado, que lamenta a não candidatura à sucessão de Passos Coelho. «Fora do Parlamento agora, fora do Parlamento em 2019, com o programa de televisão a não ser extraordinário, não sei», concede uma parlamentar também do PSD.
António Costa ter recentemente descartado a hipótese de um Bloco Central em coligação com o PSD – a hipótese mais concreta para a liderança de Rio sobreviver a uma derrota frente ao Partido Socialista – veio tranquilizar os ‘montenegristas’, mas o certo é que o ex-presidente da bancada do PSD ainda nem se despediu dos deputados eleitos consigo e já começa a deixar-lhes saudades.
Rio dá razão a Pinto Luz
A carta que não teve resposta teve, afinal, algum sentido.
Depois de Miguel Pinto Luz, ex-presidente da distrital de Lisboae vice-presidente da Câmara de Cascais, ter exigido ao recém-eleito líder do PSD que chumbasse o Orçamento do Estado do PS para 2019 – e por isso ter sido duramente criticado -, Rui Rio veio anunciar que muito dificilmente («É muito díficil») que o partido não chumbe o último OE de Costa antes das eleições.
«O PSD poderá votar a favor de um Orçamento do Estado apresentado por este Governo? Acho que é muito difícil que este Governo, apoiado pelos partidos da extrema-esquerda, esteja capaz de apresentar um orçamento que possa ir ao encontro dos princípios que o PSD tem defendido e que ao longo destes anos o PS não tem feito», disse Rio, esta semana.
Na semana em que a carta de Pinto Luz fora tornada pública, a direção de Rui Rio descartara a prévia rejeitação de um Orçamento do Estado que «ainda ninguém conhecia».