João Amaro de Matos é vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa com o pelouro da Internacionalização. É doutorado em Gestão, com especialidade em Finanças, pela escola de negócios francesa INSEAD (Instituto Europeu de Administração de Empresas) e é professor de Finanças na Nova desde 2005. É ainda doutorado em Física pela Universidade de São Paulo. Autor de 13 artigos científicos e de um livro publicado pela Universidade de Princeton. A Nova foi surgiu entre os primeiros 50 lugares do rankings mundial britânico, Quacquarelli Symonds (QS), que avalia os departamentos das universidades, e em entrevista ao SOL o reitor conta de que forma essa distinção pode atrair alunos para a instituição e o impacto «extraordinário» que traz entre as instituições de Ensino Superior na Europa. Num mundo cada vez mais global, João Amaro de Matos conta ainda que a Nova tem vindo a estabelecer várias parcerias em países como o Peru, Chile, Argentina ou Brasil.
Como olha para os rankings?
Os rankings que são mais conhecidos, mais divulgados e mais competitivos são os rankings das escolas de Gestão. É fácil perceber o impacto desses rankings, porque as Escolas de Gestão, por mais variados que sejam os países, são todas relativamente idênticas e fáceis de comparar. Posso facilmente dizer que uma Escola de Gestão é melhor do que outra, numa ou noutra dimensão, porque são comparáveis. Os rankings das universidades são animais muito mais complexos, porque as universidades são entidades muito mais heterogéneas. Não têm o mesmo grau de unidade interna. Uma universidade como a NOVA, por exemplo, tem uma faculdade gigantesca como a Faculdade de Ciências e Tecnologia, com 14 departamentos e oito mil alunos, e tem faculdades tão pequeninas como a de Direito, que tem pouquíssimos alunos. Uma universidade é um objeto nada homogéneo.
A NOVA foi recentemente distinguida num importante ranking internacional…
É verdade. Foi o QS (Quacquarelli Symonds), baseado em Londres. Foi editado agora em março e é um ranking que dá os resultados por assuntos. O QS percebeu que o que caracteriza as universidades são coisas muito diferentes umas das outras. Há universidades muito antigas e outras que são muito modernas, e por isso não são comparáveis. Uma das coisas que faz a reputação de uma universidade é, aliás, precisamente a tradição e, portanto, não se pode comparar Oxford, Cambridge e Harvard com, por exemplo, a Universidade de Aveiro ou outra igualmente recente. Não é justo e não é razoável. Por isso, o QS começou a fazer um ranking das universidades como um todo, mas depois começou também a fazer rankings para universidades mais recentes e modernas – com menos de 50 anos. A Universidade Nova de Lisboa é a única universidade portuguesa que está no top 50 e aparece em 41.º lugar. Além disso, o QS faz também um ranking por áreas de conhecimento – há universidades que são muito boas em Ciências da Vida, em Medicina ou Biologia, há outras que são excelentes em Engenharia ou Ciências Naturais, outras em Ciências Sociais e Humanas. Estabeleceu cinco áreas diferentes de conhecimento, e a NOVA, entre as universidades europeias com menos de 50 anos, está no top 10 de cada uma dessas áreas de conhecimento.
E qual é a importância dessa distinção para a NOVA?
É fantástica. Há cerca de 30 mil universidades no mundo, e mais de metade delas têm menos de 50 anos porque a maior parte das universidades do mundo foram criadas no pós-guerra, a partir dos anos 60. É com essas que nos devemos comparar, porque essas é que são realidades comparáveis. Para que se fique com uma ideia do panorama, em Portugal, aliás, só há três universidades antigas – Coimbra, Évora e a Clássica de Lisboa. Todas as outras foram criadas nos anos 60, 70 e 80. Acho que as pessoas não têm ideia disso. A lição deste ranking é: a NOVA de Lisboa está entre as melhores do mundo, em 41.º lugar, e entre as europeias com menos de 50 anos. Está no top 10, em todas as cinco áreas de conhecimento. A NOVA é o Cristiano Ronaldo das universidades.
As distinções em rankings atraem alunos estrangeiros para a NOVA? Os alunos dão importância aos rankings?
A minha experiência nas Escolas de Gestão é que sim, absolutamente. Os rankings têm muito impacto, enquanto nas universidades têm menos. E atenção: a NOVA está muito bem colocada em vários rankings, mas há outras universidades portuguesas que também têm grandes méritos. E, em última instância, aqui estamos a trabalhar para todo o sistema universitário português. E isto também eleva o nome de Portugal, no Ensino Superior europeu. Portugal está muito na berra, há muitas pessoas que vêm para cá porque reconhecem a qualidade do nosso ensino, a nossa capacidade de colocar muito bem os alunos nas melhores empresas e, claro, o estilo de vida, o custo de vida mais barato… Do nosso lado, acho que a partir do momento em que nós saibamos ler e interpretar os rankings, vamos conseguir fazer campanhas com muito mais efeito.
A internacionalização da NOVA é verificável também através dos papers que tem em conjunto com outras universidades internacionais, não é verdade?
Sim. A internacionalização da nossa investigação é de facto brutal. Acho engraçado que, mesmo dentro das nossas faculdades, há muito pouca noção de quão dinâmica é a investigação. Nos últimos cinco anos, a Universidade de Durham, muito conhecida na área de Ciências Sociais e Humanas, fez connosco 13 papers. Com a London School of Economics foram 15. Com a Universidade de Warwick foram 340 papers, em todas as áreas de conhecimento. Com a Universidade de Lancaster, temos 356 papers. Com Cambridge, nos últimos cinco anos, temos 416. E em Oxford, 432 papers – metade da área de Ciências e Tecnologia. Com o University College London, 456 papers. É absolutamente impressionante.
Que estratégias têm sido postas em prática pela NOVA para atrair estudantes estrangeiros?
Lançamos o Semestre Pré-Universitário. É uma coisa que introduzimos este ano com grande sucesso. Ao invés de fazermos uma atração à pesca, um a um, de alunos estrangeiros, o que tentamos fazer é uma coisa diferente e original no panorama universitário português: um semestre de adaptação antes de admitirmos os alunos nos cursos universitários. Há um incentivo claro em atrair alunos fora da União Europeia, de universos completamente diferentes e muito heterogéneos. Por isso, durante esse semestre, os alunos adaptam-se à cultura universitária e da instituição e, no final, temos a capacidade de julgar se estão em condições de ser admitidos nas nossas licenciaturas ou não. É muito mais eficiente do que fazer um exame de admissão. É muito mais eficiente do que pedir as notas do secundário.
Em que países é que a NOVA tem apostado mais?
Temos parcerias só com universidades de topo e somos extraordinariamente seletivos. Na América Latina, temos parcerias com a Colômbia, Peru, Chile, Argentina e, com um enfoque especial, o Brasil. Acho que os países que estão a crescer e cuja economia está extraordinariamente correlacionada com o Brasil são apostas muito importantes. África também é: é o lugar onde toda a gente quer estar, mas ninguém percebe exatamente como se consegue integrar. Todas as universidades inglesas estão presentes em África e na Ásia também, na Índia. Além de parcerias com universidades, nós temos uma tradição enorme de participar em projetos de capacitação: a NOVA tem projetos de capacitação na Ásia, como na América Latina, como em África.