City. À beira do mágico cinco

Hoje há dérbi de Manchester com a equipa de Guardiola a poder conquistar o quinto título da sua história. O United tem 20…

City. À beira do mágico cinco

Seria de arromba, convenhamos. Sagrar-se campeão a cinco jornadas do fim perante o grande rival da porta ao lado, o Manchester United de José Mourinho, daria a Pep Guardiola uma das maiores alegrias da sua carreira pejada delas.

E, no entanto, o cenário pode tornar-se autêntico já esta tarde, no City of Manchester, que estará cheio que nem um ovo na expectativa do quinto título da vida do clube, tão longe dos 20 conquistados pelos vermelhos de Old Trafford.

A verdade é que o City tem vivido sempre na sombra do seu adversário desta tarde. Fundado em 1880 com o nome de St. Mark’s West Gorton passou a Ardwick Association Football Club em 1884 e, finalmente, a Manchester City em 1894. Foi já com a atual nomenclatura que conquistou o primeiro grande troféu da sua história, a Taça de Inglaterra de 1904.

Mas temos de avançar até 1968 para observarmos os dias mais dourados da existência do City. Até lá apenas uma vez campeão (1936-37) e mais duas Taças de Inglaterra (1933-34 e 1955-56).

1968, portanto.

Reparem que em 1965, o Manchester City arrastava-se pela II Divisão com uma total falta de popularidade entre os seus supporters mais arreigados. Chegava a jogar perante menos de oito mil espetadores no velho estádio de Maine Road. Foi então que surgiram no clube Joe Mercer e Malcolm Allison, esse mesmo, que foi treinador campeão no Sporting. 

Mercer era um antigo defesa do Everton e do Arsenal e que, como técnico, recuperara o Aston Villa de um afundamento parecido na divisão secundária. Malcolm Alexander Allison, conhecido pelo apodo de Big Mal, vira a carreira de futebolista interrompida muito cedo por causa de uma tuberculose e foi resgatado ao Plymouth Argyle para servir como adjunto de Mercer, o que correu bem a princípio mas, devido ao seu feitio conflituoso, acabou numa guerra sem quartel entre ambos.

Allison era um dos alvos preferidos da sempre ativa imprensa tabloide britânica. Os seus casos amorosos valiam boas primeiras páginas, sobretudo quando se tornou público o seu relacionamento com Christine Keeler (recentemente falecida), a modelo que fez explodir o Caso Profumo.

Big Mal gostava de exibir a sua excentricidade, os seus copos de champanhe e os seus volumosos charutos. Uma bela tarde resolveu aparecer num treino do Crystal Palace, onde jogava, com uma famosa artista porno da altura chamada Fiona Richmond. Foi o bom e o bonito. Os companheiros cheiraram o esturro à distância e puseram-se a fancos. Allison e Fiona foram fotografados nus na piscina do clube.

Êxitos!!!

Também tivemos, em Portugal, uma boa dose das excentricidades de Allison, em Alvalade, em Setúbal e em Faro, e foi visível a sua degradação alcoólica que o conduziria à demência antes da morte, em Outubro de 2010.

A parceria entre Mercer e Allson foi algo de único na história do Manchester City.  Na primeira época devolveram o clube à divisão principal. Em 1967-68 os citizens eram de novo campeões de Inglaterra. E não só. A Taça de Inglaterra seria conquistada na época seguinte e, em sequência, a Taça dos Vencedores de Taças de 1970 (final contra os polacos do Gornik Zabrze numa competição na qual se cruzaram com a Académica) único troféu internacional do City até hoje.

Não durou muito a estabilidade entre os dois treinadores. Com prejuízos graves para o clube. Allison recebeu um convite para treinar a Juventus em 1971. Convencera-se de que Mercer iria deixar de ser treinador principal e que o posto lhe seria entregue. Mas Joe Mercer não estava disposto a sair. A relação entre ambos degradou-se rapidamente e atingiu um ponto de não retorno.

Recusando os italianos lançou-se numa guerra contra o seu superior que viria a ser realmente afastado pela direção do City, seguindo para Coventry. Mas não lhe sobreviveria muito tempo mais. No verão seguinte, perante uma cada vez maior hostilidade dos adeptos, era por sua vez obrigado a demitir-se.

Voltaria em 1979, mas o City entrara noutro daqueles seus terríveis períodos de declínio que muitas vezes pareceram irreversíveis. A década de 80 trouxe sete treinadores diferentes, de forma sucessiva e sucessivamente condenados ao fracasso. Em 1996 descia às profundezas da III Divisão. Atingia um dos momentos mais tristes da sua história. Seria preciso entrar num ciclo de investimentos milionários para atingir o lugar onde está hoje: inevitável campeão inglês no segundo ano de vigência de Pep Guardiola.

Estilo

O catalão já o referiu por mais do que uma vez e há que dar-lhe o devido mérito: «Mais do que ganhar títulos no Manchester City consegui pôr uma equipa inglesa a jogar o estilo de futebol que mais me agrada».

O City de hoje é um dos clubes mais poderosos do mundo e aposta forte na Liga dos Campeões na qual nunca foi para além de uma meia-final – e não deverá ser este ano que o conseguirá.

Foi preciso, no entanto, sobreviver ao controlo de  Thaksin Shinawatra, um milionário ex-primeiro ministro tailandês que, por motivos políticos, entrou em colapso financeiro. Finalmente, o aparecimento do Abu Dhabi United Group começou a refletir-se no investimento em jogadores e técnicos de classe inconfundível. 32.5 milhões de libras trouxeram o brasileiro Robinho do Real Madrid. Seguiram-se Roque Santa Cruz, Kolo Touré, Adebayor, Carlitos Tevez e por aí fora.

Em 2011, com Roberto Mancini no banco, voltaram às grandes vitórias arrecadando a Taça de Inglaterra e eliminando na meia-final o Manchester United, algo que não sucedia desde 1975. No ano seguinte houve aquele explosivo United, 1 – City, 6, em pleno Old Trafford. E o título! Dramático como se recordam. Conquistado na última jornada, em casa face ao Queens Park Rangers, graças a dois golos tardios de Sergio Aguero, ambos para lá dos 90 minutos e quando já se festejava ali ao lado o vigésimo do United.

O último campeonato inglês ganho pelo Manchester City teve a assinatura do treinador chileno Manuel Pellegrini e data da época de 2013-14. Pelo meio, os rivais de vermelho foram campeões uma vez – 2012-13. Daí para cá houve Chelsea (2014-15), Leicester City (2015-16) e Chelsea outra vez (2016-17). Agora é, inevitavelmente, hoje ou para o próximo fim de semana, tempo de Guardiola. Saiu disparado das boxes desde a primeira jornada e tem dominado a Premier League de forma supersónica. Veremos se José Mourinho não estraga a festa azul de sábado à tarde…