O Democracia21 (D21) quer afirmar-se como um partido liberal de direita. Porém, neste momento, ainda é apenas um movimento cívico a recolher assinaturas para se oficializar como partido político. “As linhas principais que defendemos é menos intervenção do Estado, menos impostos e reformas em setores como a segurança social e a saúde”, disse ao i Sofia Afonso Ferreira, a fundadora do movimento.
“Somos liberais nos costumes, mas partimos de uma premissa diferente da esquerda”, explica, confessando ter tido alguma dificuldade em explicar às pessoas qual a principal diferença entre o novo movimento e os partidos de esquerda. “Nós achamos que o Estado não deve interferir na vida das pessoas, é apenas um árbitro e não um jogador. A esquerda defende o contrário, que o Estado esteja quase omnipresente na vida das pessoas e regule tudo”, explica. Por exemplo, temas como casamento ou eutanásia são, para o D21, “decisões das pessoas” e não devem ser regulados pelo Estado.
Sofia tem consciência de que as ideias que defende podem ser vistas como populistas ou até mesmo associadas ao neoliberalismo. No entanto, afirma que “tem de se lutar um bocadinho porque não podemos continuar ad aeternum a viver neste estado de socialismo mole e de engorda-Estado”.
A ideia de constituir um partido apareceu depois de ter deixado a militância no PSD e de se ter afastado do novo partido Iniciativa Liberal (IL). “Eu passei por lá [IL] muito brevemente, mas não me pareceu que fosse ainda o partido de que estávamos à espera”, afirma, destacando que o D21 tem “um cariz mais de direita”, enquanto na IL “assumem que não são nem de esquerda nem de direita, o que é um conceito um pouco estranho em Portugal.”
No curto tempo que esteve na IL chegou a ser apontada como cabeça-de-lista às eleições. “Eles é que me indicaram”, diz entre risos, “eu nunca me indiquei para nada; como digo, nem militante fui.” No entanto, assume que “a IL acabou por contribuir” para o lançamento do D21, “porque lançou um debate sobre um novo partido liberal e ficou tudo muito expetante”, incluindo ela própria.
Sobre a saída do PSD, a fundadora do movimento D21 explica que o anúncio de não recandidatura de Pedro Passos Coelho “foi um pouco determinante” para que abandonasse a militância social–democrata. Não concordou nem com a candidatura de Rui Rio nem com a de Pedro Santana Lopes, e “ficar independentemente de quem ganhasse” não lhe dava “garantias de mudança”. “Infelizmente, o último mês veio dar-me um pouco de razão nisso: não só não constituiu nenhuma mudança como penso que o PSD está a dar passos errados.” A liderança de Rui Rio teve, para Sofia Afonso Ferreira, um “início desastroso”. Todavia, recorda que “é necessário dar–lhe mais algum tempo”.
Na opinião da fundadora do D21, só “Luís Montenegro talvez fizesse a diferença”. “Ele também tomou uma posição muito dura e direta no último congresso e conseguiu reunir uma série de apoios à sua volta”, o que faz com que seja “talvez a única pessoa” que veja a “substituir Rui Rio e dar outro rumo ao PSD”.
A disputa interna dos sociais-democratas levou à saída de militantes do PSD para outros partidos, como o D21. Segundo a fundadora, o movimento tem tido “muitos apoios e muitos contactos, inclusive algumas pessoas que saíram do PSD”.
Mulheres e jovens ao poder Uma política com jovens, mulheres e sem quotas – é assim que Sofia a idealiza. “Eu penso que a geração abaixo da minha, que tem 25/30 anos, que está agora a entrar no mercado de trabalho, que são contribuintes por excelência e que vão suportar tudo – impostos e o resto –, está extremamente mal representada”, denuncia Sofia Afonso Ferreira.
“Aliás, não é por acaso que as eleições do PSD foram entre duas pessoas de 60 anos. E se olhar para os grupos de trabalho, os vice-presidentes e por aí fora, a estrutura é bastante envelhecida e isso é prejudicial”, acrescenta.
Sobre as mulheres na política, especialmente numa altura em que se discute a alteração à lei da paridade, com um aumento na percentagem de representação de género, Sofia Afonso Ferreira assume-se a favor da participação das mulheres, mas não das quotas. “Eu sou contra as quotas, não subscrevo, não gosto do conceito das quotas”, explica. “Penso que isto é uma ratoeira para o futuro porque há áreas como, por exemplo, nas universidades – e agora até na ciência – em que as mulheres já estão em maioria.”
Apesar de ter “consciência” de que as mulheres estão “mal representadas, não só na política mas em muitas áreas”, a fundadora do movimento D21 garante que vai dar prioridade ao mérito e não ao género. “Não quero fazer um partido de mulheres nem quero respeitar quotas aqui dentro. Eu sou pelo mérito, não é por ser mulher ou homem, eu quero é pessoas com bom currículo, com boas ideias que, acima de tudo, percebam o que é isto de ser um partido liberal”, esclarece.
Sofia Afonso Ferreira poderá vir a ser a primeira mulher a fundar um partido político – isto caso consiga angariar as 7500 assinaturas. “Eu sou a fundadora mas, depois, temos homens e mulheres, claro”, afirma, acrescentando que neste momento já tem perto de 3200 assinaturas. “E, por acaso, as mulheres, até agora, têm estado em minoria, mas eu tenho feito muita força para trazer mais mulheres” para a política.