Francisco Simões Rodrigues. “Liga MEO Surf 2018 pode ficar marcada pelo início de um embate entre duas gerações”

A um dia de arrancar a prova, com a etapa da Ericeira, o presidente da ANS conta ao i as principais expetativas e novidades desta edição da Liga

Quais são as expetativas para a edição deste ano da Liga MEO Surf?

As expetativas para a Liga são sempre altas e num espírito de renovação da qualidade dos surfistas nacionais de ano para ano. Na realidade, este ano temos dois pontos adicionais que merecem interesse. Um deles é o futuro do surf nacional de uma perspetiva de que a Liga também é a plataforma de afirmação das gerações mais novas – gerações que estão a progredir, e 2018 poderá ser o ano em que irá começar a sentir-se um embate mais forte entre as duas gerações. De um lado, a geração de Vasco Ribeiro, que lidera o surf nacional atualmente, e, do outro lado, a geração mais jovem, de Afonso Antunes, que poderá começar a atacar a hegemonia da geração de Vasco Ribeiro. 

E o segundo ponto?

O segundo ponto de interesse que eu destaco é a Liga enquanto plataforma agregadora de todas as frentes do surf. A Liga tem uma missão muito central, obviamente, que passa pelo desenvolvimento dos melhores surfistas nacionais, mas este ano apresenta também uma agenda lateral bastante diversificada, que também pode ser dividida em dois pilares. O primeiro corresponde a uma série de iniciativas que ajudem os outros tipos de formação envolvidos no surf – e neste caso falo especificamente do Canon workshop, de fotografia, workshop para os treinadores, além da preparação, em conjunto com a Federação Portuguesa de Surf (FPS), de um workshop para os juízes. Num segundo pilar, que trata do capítulo da sustentabilidade, há uma lógica de utilizar o surf enquanto ferramenta de terapia e temos uma agenda muito densa e concreta com a Fundação PT, no sentido de que, por todas as praias por onde passarmos, iremos deixar uma pegada mais limpa. 

É uma Liga amiga do ambiente?

Aparece aqui uma lógica concreta de limpeza das praias ao longo das várias etapas. Esta primeira etapa em Ribeira d’Ilhas, na Ericeira, em plena Reserva Mundial de Surf, não deixa de ser simbólica e um motivo de orgulho, não só para a ANS como para a Fundação PT e para todas as entidades envolvidas, pois é aqui que iremos fazer a primeira iniciativa da primeira atividade concertada à escala nacional. 

E é sobretudo uma ação que pretende despertar consciências?

É. Os melhores surfistas nacionais querem deixar não só a pegada das limpezas da praia, mas também toda a consciencialização e ações educativas da preservação das nossas ondas e praias. É uma mensagem forte dos melhores surfistas nacionais no sentido de continuarmos a ter as praias exatamente como estão atualmente e de preservar aquilo que é a boa qualidade das nossas ondas.

Enquanto presidente da ANS, acha que a Liga portuguesa de surf está ao nível das ligas nacionais de outros países?

Para responder a essa pergunta prefiro utilizar aquilo que os outros dizem de nós, e não ser eu a dizer sobre nós. Sendo Portugal um país pequeno e com as condições económicas que conhecemos, não deixa de ser bastante interessante aquilo que tem sido apontado, não só pelos nossos surfistas nacionais como por surfistas internacionais, pelo que foi feito a uma dimensão doméstica, onde se conseguiu desenvolver uma plataforma de competição e de reunião dos melhores surfistas, puxando o nível de surf para cima, e pelo seu enquadramento. E neste campo falo do aspeto comercial, de todos os patrocinadores, de toda a comunicação e plano que se cria à volta desta competição. Acredito que a ativação que tem de ter tem sido desenvolvida com os melhores padrões internacionais. 

Quais são os que destaca?

Procurando pelo mundo fora casos de referência, podemos encontrar o Super Surf, Liga do Brasil, que já era um projeto muito grande no passado e que agora se está a reinventar. Foi lançada nos últimos anos uma Liga similar em Espanha e penso que haverá também um caso parecido no Japão. De resto, acho que os surfistas portugueses se devem alegrar bastante por terem este tipo de plataforma em sua casa, próximo dos seus centros de treino e das suas vidas desportivas do dia-a-dia. 

A Liga pode ser vista como um campo de preparação para as competições internacionais?

Não deixa de ser uma forma de se prepararem muito bem para os altos voos internacionais. Frederico Morais é o melhor surfista português atualmente, representa Portugal ao mais alto nível na elite mundial e foi um surfista que teve o seu percurso bastante competente e intenso na Liga, e com certeza que ela foi um input na sua formação e para o grande surfista que é atualmente. É o melhor indicador que nós temos do sucesso. 

Por falar no Frederico Morais, como vai ser o processo de entrega do wild card [convite que permite a participação na etapa do World Tour, na passagem do Mundial de Surf por Peniche] este ano? 

O wild card é uma decisão da MEO, que é o principal patrocinador não só da Liga como das etapas portuguesas do surf mundial. A MEO decidiu que o wild card será entregue exclusivamente numa lógica de mérito desportivo. Portanto, neste ponto de vista, quem melhor do que o campeão nacional para receber o wild card? É uma decisão de 2017 que se mantém em 2018. É sempre um fator de interesse para a Liga, para puxar por toda a competitividade, e é um prémio adicional para o campeão nacional. É como um bombom extra para depois se apresentar no melhor palco do surf mundial, que são os campeonatos do WCT. 

A ANS celebrou em julho do último ano 20 anos. Quais são os principais objetivos da associação a curto prazo?

Temos sempre este eixo nuclear de formação de mais surfistas e também de mais qualidade. O principal indicador e objetivo passa pela qualificação para a elite do surf mundial. No plano masculino, e se já temos o Frederico Morais, seria interessante ter também o Vasco Ribeiro. No setor feminino – seja a Teresa Bonvalot ou a Carol Henrique – seria bom termos uma representante, algo que nunca aconteceu. Isso seria um motivo de orgulho para a entidade que representa os surfistas portugueses. 

E qual é o papel que a entidade assume para os surfistas?

Os surfistas portugueses de competição podem sentir que contam com a ANS se quiserem ter uma voz ativa e representativa daquilo que são os seus interesses e do que é melhor para o desenvolvimento do surf em Portugal. Num sentido mais alargado e não só a nível desportivo, o surf, felizmente, tem uma indústria muito própria e um conjunto de serviços também muito próprios, e a ANS é um aliado nesse processo, para que o ambiente vá ficando cada vez melhor e mais sólido. Por fim, queremos fazer com que as gerações vindouras tenham um caminho de aceleração o mais rápido possível para também mais cedo se tornarem grandes campeões e poderem lutar pelos seus sonhos e objetivos. 

 

Amanhã, na edição do i de fim de semana, as entrevistas com os atuais campeões em título da Liga nacional de surf, Vasco Ribeiro e Carol Henrique.