Não se pode afirmar taxativamente quem rompeu com quem – até porque o mais certo é nunca terem estado verdadeiramente juntos – mas o facto é um: Rui Rio e Pedro Santana Lopes estão hoje em rutura.
O presidente do PSD não acolheu os nomes indicados por Santana Lopes para o Conselho Estratégico Nacional e para as Relações Internacionais do partido – sendo que esses nomes constavam do acordo que ditou a união entre as duas candidaturas depois da eleição social-democrata, no passado janeiro.
O pacto ‘laranja’, fechado no congresso na antiga FIL que ocorreu há precisamente dois meses, incluía indicações conjuntas e assumidas de Rio e Santana para órgãos como o Conselho Nacional (o maior órgão regular do PSD), o Conselho de Jurisdição, o Instituto Francisco Sá Carneiro e o futuro Conselho Estratégico – a que coloquialmente se tem chamado “governo-sombra”. Só para a Comissão Política Nacional – que reune as vice-presidências e os vogais de Rio – é que os negociadores de Santana Lopes (o veterano Pedro Pinto e o então diretor de campanha João Montenegro) não indicaram nomes. O caso mais evidente da tentantiva de união das duas facções em congresso foi simbólico – entraram os dois lado a lado no primeiro dia – e depois mais prático: Santana encabeçou a lista oficial de Rio ao Conselho Nacional, com Paulo Rangel a número 2 e três indicações alternadas para cada um, maioritariamente autarcas da confiança de cada lado.
Depois do congresso, Rio foi patinando, de controvérsia em controvérsia, até finalmente estabilizar no tempo mais recente. Mas entre uma coisa e outra Santana não se coibiu de aparecer na praça pública, escrevendo nos jornais, comentando na televisão, fazendo um paralelo de freios e contra-pesos à liderança que não foi para si. E a vertente solidária – ainda que evidentemente atenta – desse escrutínio parecer ter, agora, terminado.
Ao que o i apurou, Santana Lopes não apreciou nada o facto de as suas indicações para o ‘governo-sombra’ de Rio terem sido ignoradas, apesar de estarem incluídas no alegado consenso entre ambos. “O acordo não serviu só para o congresso”, aponta uma fonte próxima do ex-Provedor da Santa Casa. “É óbvio que estranhou”, revela outra. O desconforto nos santanistas é manifesto, na medida em que sentem que Rio “assim não respeita os 45% do partido que votaram na pessoa [Santana] com quem o compromisso foi assumido”. “Não estamos habituados a que palavra dada não seja palavra honrada… Pelo menos no nosso partido”, remata a mesma fonte próxima de Santana, ao i.
Entre os nomes acordados entre as partes estariam figuras como Carlos Costa Neves (ex-ministro), Fermelinda Carvalho e Humberto Marques (autarcas), Vitório Cardoso (do PSD de Macau) e até António Martins da Cruz, ex-conselheiro de Cavaco Silva, com quem a maioria dos rioístas mais senatoriais trabalharam.
Do lado de Rui Rio, no entanto, a perspetiva é outra.
Para o núcleo do novo presidente do PSD, as escolhas até agora públicas para o Conselho Estratégico Nacional – os “coordenadores” e os “porta-vozes” – são escolhas “de carácter pessoal”, estando o acordo meramente válido para o trabalho que venha a ser desenvolvido com os selecionados previamente por Rio. “Vai haver lugar para todos”, assegura um rioísta. “Nas equipas que vão ser constituídas para cada pasta queremos contar com toda a gente”, repete a garantia.
Quem diverge da perspetiva e não gosta do sucedido é Pedro Santana Lopes – e rompendo a paz entre os dois homens que se candidataram à sucessão ed Passos Coelho há uma consequência quase imediata: Rio fica obrigado a renegociar para conseguir um maioria no Conselho Nacional do PSD, o órgão que não só aprova as listas de deputados à Assembleia da República como pode demitir uma liderança nacional.