A troca de palavras entre Catarina Martins e António Costa foi toda à volta do défice e foi dura. A líder bloquista começou por questionar se os 700 milhões de euros emprestados pelo Estado ao Novo Banco no âmbito do negócio com a Lone Star, está ou não no défice de 2018, para concluir que, estando este valor englobado, se estará afinal a falar de 0,3% e não de 0,7%.
"Uma diferença de 1500 milhões de euros, é isto?", questionou Catarina Martins, para ouvir António Costa defender a importância da estabilização do sistema financeiro como essencial para baixar os juros da dívida pública portuguesa e frisar que a diferença entre os 1,1% do Orçamento de 2018 e os 0,7% do Programa de Estabilidade não correspondem a qualquer folga, mas apenas à necessidade de Portugal não ter se endividar tanto como estava previsto.
"Isso não é uma folga", insistiu António Costa, que acha que a única folga que existe é a conseguida na poupança alcançada pela descida dos juros.
"Vamos poupar 74 milhões de euros no pagamento de juros. Isso é que é folga. E esses 74 milhões de euros nós reorientamos integralmente para o investimento público", insistiu o primeiro-ministro, que foi sempre repetindo não ter rasgado nenhum dos compromissos acordados com o BE durante a negociação do Orçamento.
"Ter mais défice ou menos défice não é uma questão de esquerda ou de direita, é uma questão de boa governação", afirmou Costa, considerando que o objetivo do Governo é "diminuir a dívida, que é o maior fardo que pesa sobre os portugueses".
"Reduzir a dívida não é para estarmos no quadro de honra da União Europeia, é algo para mehorar a vida dos portugueses", declarou Costa.
Catarina Martins não se deixou convencer, recordando os pressupostos do que foi negociado para o Orçamento do Estado para 2018. "Nenhum de nós achou que o défice que estava previsto no OE 2018 era despesista ou era periogoso para o país", insistiu a bloquista, lembrando que "quando negociámos o OE2018 foi considerando as metas que o Governo já tinha negociado com Bruxelas".
De resto, Catarina Martins notou que António Costa encontra no crescimento económico e no aumento emprego a razão da descida do défice e apelou a que agisse em consequência no que toca à meta do défice para este ano.
"Se é assim que o Governo pensa, não se percebe por que é que não vai mais longe no crescimento e emprego", disse a coordenadora do BE, que acha que insistir em acelerar a redução do défice "é não compreender como foi feito este caminho".
Apesar da tensão evidente entre BE e Governo, Catarina Martins deixou claro que o seu partido não quer anunciar uma rutura e está disponível para negociar.
"Tem razão. A legislatura não está no fim. Temos muito que fazer", afirmou, apresentando-se disponível para continuar a negociar, mas avisando António Costa de que a prioridade do BE é o aumento do investimento público.
"Precisamos de trabalhar mais para ter um bom Orçamento do Estado", disse Catarina Martins.