Rui Rio e Fernando Negrão não falaram sobre o fim dos cortes nos vencimentos dos membros de gabinetes políticos. Apesar de essa ser a manchete de ontem do jornal “Público”, Negrão não imaginou que Rio ia falar sobre o tema. Até agora, a estratégia de comunicação de Rio tem sido a de evitar ir atrás das notícias do dia, tentando impor uma agenda própria. Esta semana, o tema era a saúde e o líder parlamentar não pensou que o presidente do PSD respondesse a outras questões de atualidade.
Estava quase a chegar ao final a reunião da bancada parlamentar social- -democrata quando Rui Rio falou aos jornalistas na sede do partido. Foi taxativo: “Se a política do governo for acabar com todos os cortes no tempo da troika, não tenho nada a opor a que se acabem com todos os cortes mesmo.
”Desconhecendo as declarações, Negrão saiu da reunião e respondeu à comunicação social sobre o tema que marcou o dia. “Eu vejo isso com preocupação. A despesa pública é que deve estar controlada, o primeiro a dar o exemplo deve ser o governo e, portanto, discordamos profundamente dessa medida. O governo, nos últimos anos, funcionou com esse corte, podia continuar a funcionar assim”, afirmou o líder parlamentar.
A contradição evidente fez os jornalistas questionar Negrão, mas já não havia volta a dar. “Pensamos de forma diferente”, limitou-se a responder.
Não foi a primeira vez que ficou evidente a falta de coordenação dentro do partido sob a liderança de Rui Rio. Há semanas, a deputada com o pelouro das Relações Externas, Rubina Berardo, dizia ao “Expresso” querer ouvir o governo para tomar posição sobre a expulsão de diplomatas russos; menos de 24 horas depois, Negrão convocava os jornalistas para anunciar que o PSD pedia a “expulsão imediata” dos embaixadores.
A descoordenação fez soar campainhas no PSD. Os gabinetes de Rio e Negrão estão, agora, a tentar encontrar estratégias para acertar agulhas e evitar novos passos em falta. Mas, no caso de ontem, fala-se em “azar” para justificar a forma como o PSD acabou por falar a duas vozes.
O tema é, contudo, polémico. BE e CDS vieram rapidamente criticar a decisão de reverter estes cortes, enquanto o PCP disse querer esperar para ver a proposta antes de tomar uma posição definitiva.