Não ganhou o candidato rioísta, mas Margarida Balseiro Lopes, eleita líder da JSD no passado fim-de-semana, não será uma presidente anti-Rio. A deputada, que fora secretária-geral da ‘jota’ nos últimos quatro anos, foi eleita contra André Neves, de Aveiro – apoiante declarado de Rui Rio e próximo de um vice-presidente e de um secretário-geral adjunto da nova direção do PSD.
Na primeira vez em quase dez anos que a JSD teve a liderança disputada por duas listas alternativas (Hugo Soares e Simão Ribeiro não tiveram oposição declarada), a panela transbordou por acumular de tensões. Acusações, vingaças, traições e até quiches – como lembrava com algum humor Miguel Carrapotoso no Observador –, tudo foi atirado à cara dos respetivos no congresso ‘laranjinha’. No fim, foi como se previa: Balseiro Lopes, que partia como favorita e não só pelo protagonismo parlamentar, venceu o congresso a André Neves.
A deputada, próxima de apoiantes de Rio (como Leitão Amaro ou Inês Domingues), de apoiantes de Santana Lopes (como Hugo Soares ou Teresa Morais) e até de críticos de Passos (como Pedro Duarte), soube gerir essa abrangência de proximidades e procurou construir um programa que fosse além desse contexto. Não correu mal. Busca um desprendimento de opinião (ora sem medo de «tensões» com a nova liderança, ora com um «obrigado» público muito sentido no último dia de Luís Montenegro no Parlamento), mas também uma seriedade institucional com o partido.
Tem «muito respeito» ao atual presidente do PSD, como afirmou em entrevista recente ao SOL, e separa a necessidade de autonomia da ‘jota’ de qualquer lógica de guerrilha interna. Compreendeu, por exemplo, a mudança de líder parlamentar após as diretas por «ser importante haver uma voz que represente verdadeiramente o pensamento» de Rio na Assembleia – apesar de ser muito amiga do homem que saiu com trabalho reconhecido entre os seus pares: Hugo Soares.
O rioísmo não pegou na ‘jota’, mas pegará a ‘jota’ no rioísmo?
No tempo em que só se fala em consensos, Balseiro Lopes chega como consensual no partido. Sobra o desafio maior: o mandato como presidente da JSD. Será único – a deputada já tem 28 e os trinta serão limite de idade à recandidatura – e não será fácil. A agenda para a modernização da Educação e o lançamento do debate do Rendimento Básico Incondicional são ambições elevadas. Rio, que também foi militante da ‘jota’, fez o seu discurso mais aplaudido no encerramento do congresso que consagrou Balseiro Lopes – coincidentemente filha de um jornalista, classe pouca amada pelo presidente do PSD.
A importância da JSD na «renovação» e no futuro do partido foram destacadas por Rio aí e também na tomada de posse dos órgãos distritais de Setúbal, dias depois. Na Comissão Política desta semana, a direção do partido aprovou três nomes para o instituto Sá Carneiro e são todos apoiantes de Margarida Balseiro Lopes: Alexandre Poço, seu vice-presidente, e dois jovens autarcas.
Fernando Negrão, líder de bancada que chegou com Rio, fez largo elogio à sua eleição numa intervenção desta semana em plenário. E a deputada, agora também líder da JSD, foi escolhida para fazer o discurso do PSD nas celebrações parlamentares do 25 de Abril. Outro sinal de reconhecimento. Ela é, afinal, tudo o que Rio tem sido criticado por não ter nas suas equipas: jovem, mulher e sem controvérsias.
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu-a e à sua equipa esta semana, ganhando uma prancha de bodyboard como convite à recandidatura. O SOL perguntou a Balseiro Lopes se também tem o hábito de tomar banhos de mar antes de ir trabalhar. A deputada riu-se, e não respondeu.