Quando o PS anunciou a iniciativa ’45 anos, 45 rostos’, a ideia era ir partilhando, ao longo de 45 dias os rostos que mais marcaram a história do partido. A lista das 45 figuras começou com Mário Soares e continuou com a partilha dos rostos dos fundadores Maria de Jesus Barroso e Salgado Zenha, do primeiro presidente da Assembleia da República, Vasco da Gama Fernandes, e do presidente da Assembleia Constituinte, Henrique de Barros.
A ideia era, naturalmente, incluir todos aqueles que foram secretários-gerais do partido. E, nessa lógica, José Sócrates não podia ser apagado.
Quem pensou no projeto só não podia imaginar que o rosto de José Sócrates seria o escolhido precisamente um dia depois de, pela primeira vez, se terem sucedido as críticas de destacados socialistas aos casos em que o antigo primeiro-ministro está envolvido.
João Galamba afirmou mesmo, num espaço de comentário na SIC Notícias, que o envolvimento de Sócrates em casos de suspeitas de corrupção “é algo que envergonha qualquer socialista” e que “é evidente que o partido está muito incomodado”.
“São suspeitas sobre comportamentos que, a terem existido, significam gravíssimos, mas eu não confundo suspeitas com acusações”, comentou também na SIC Notícias Augusto Santos Silva, número dois do Governo de António Costa.
Horas antes, Carlos César tinha sido o primeiro socialista a expressar esse incómodo que, até ontem, tinha ficado silenciado. Num programa na TSF, César assumia estar “envergonhado” com as notícias sobre o dinheiro que alegadamente Manuel Pinho recebia do GES enquanto era ministro da Economia “e até mais” com as que envolvem suspeitas de corrupção de José Sócrates.
Até ontem, a regra tinha a de ser evitar comentar casos judiciais, alegando a separação entre política e Justiça. Mas a proposta do BE para a constituição de uma comissão de inquérito sobre as rendas no setor energético na sequência das notícias do Observador sobre Pinho veio mudar isso.
O PS anunciou apoiar a iniciativa bloquista e depois disso sucederam-se as críticas a Pinho e Sócrates por causa das suspeitas em que estão envolvidos.
Ao SOL, fonte oficial do PS limita-se a remeter para a iniciativa evocativa dos 45 anos do partido anunciada a 18 de março, para explicar que o facto de a fotografia de Sócrates ter sido partilhada hoje não tem qualquer leitura especial.