Dhlakama foi, durante a guerra civil moçambicana, o chefe dos “bandidos armados” – como a Frelimo no poder, ontem como hoje, chamava à Renamo. Em 1993, em Roma, assinou com Joaquim Chissano um tratado de paz que pôs fim a 16 anos de guerra civil. Mas a violência voltou a Moçambique e, no fim de 2015, Afonso Dhlakama fugiu para a mata, na província de Sofala, onde ontem morreu, ao que tudo indica na sequência de uma crise de diabetes, antes de conseguir ser transportado para um hospital.
Ontem à noite, o presidente moçambicano, em comunicação ao país via televisão, reagiu à morte do homem com quem preparava um novo acordo de paz: “É um momento muito mau, principalmente para mim. Estávamos a resolver os problemas deste país. Esforcei-me para transferir o meu irmão para fora do país, mas não consegui. Estou muito deprimido. Não me deram tempo… não me informaram que ele estava mal há uma semana. Disseram há um dia”, disse Filipe Nyusi, que contou que a última vez que falou com o líder da Renamo, Dhlakama lhe pediu que não houvesse falhas no caminho para a paz. “Fui infeliz. O que importa é que o país não deve parar e não devemos continuar num Estado sem oposição. A oposição não faz mal a ninguém”, acrescentou o presidente moçambicano. A verdade é que o rumor de que o velho guerrilheiro, que continuava a recusar-se a entregar as armas, teria sido envenenado surgiu nos círculos diplomáticos.
Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte do líder da Renamo. Em comunicado publicado no seu site, a Presidência anunciou que “o Presidente da República apresenta as suas condolências à família de Afonso Dhlakama, com quem se pôde encontrar em Maputo anos atrás. Em mensagem enviada ao Presidente Nyusi, o chefe de Estado expressou o seu pesar pelo falecimento do líder da Renamo, partido com assento na Assembleia da República de Moçambique, e interlocutor privilegiado nos caminhos do diálogo, da paz e da concórdia neste nosso País irmão”.
Marcelo, que visitou Moçambique há precisamente dois anos, procurou ter um papel de mediador para a reconciliação nacional entre a Frelimo e a Renamo. Aliás, dias antes de chegar a Maputo reuniu-se em Roma com a Comunidade de Santo Egídio, que procurava reconciliar as partes.
Afonso Dhlakama morre dias depois de a líder parlamentar da Renamo, Ivone Soares – sua sobrinha – ter anunciado que poderia estar para breve a saída do presidente do partido da mata da Gorongosa para retomar a vida política institucional.
“Estamos a trabalhar para que a saída do presidente Afonso Dhlakama seja para breve, com as medidas de segurança acauteladas e com o término das negociações militares que englobam garantias de que as forças residuais da Renamo vão ser acopladas dentro do exército único do Estado moçambicano”, disse Ivone Soares.
Dhlakama assumiu a presidência da Renamo no auge da guerra civil e em 1992 assinou com Joaquim Chissano, antigo presidente moçambicano, os acordos de paz em Roma que puseram fim a uma guerra civil que durou 16 anos ininterruptos e provocou centenas de milhares de mortos. É nessa altura que a Renamo passa a ser um partido político reconhecido. Mas, em 2013, a violência regressa e, em finais de 2015, Dhlakama refugiou-se na mata da Gorongosa.
Apesar dos encontros com o presidente moçambicano com vista a um acordo, o tom de Dhlakama permanecia violento. No mês passado afirmou que a Renamo só entregaria as armas quando os seus oficiais fossem integrados no comando das Forças de Defesa e Segurança. O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, contestou. “Como é que pode haver paz com armas? Não é possível paz com armas. Não há em nenhuma parte do mundo nem se pode deixar que isso aconteça”, afirmou Nyusi.
Ivone sucessora? Quem irá substituir o velho guerrilheiro que morre agora aos 65 anos? Uma das hipóteses é a sua sobrinha Ivone Soares, que já é, na prática, a presidente institucional da Renamo, ao desempenhar o papel de líder da bancada parlamentar do partido na assembleia de Maputo. A verdade é que existem duas Renamos, a institucional, a que preside Ivone Soares, e a da mata, dos velhos guerrilheiros até aqui reunidos em volta de Dhlakama.
“É um momento muito mau, principalmente para mim. Estávamos a resolver os problemas deste país. Esforcei-me para transferir o meu irmão para fora do país, mas não consegui. Estou muito deprimido. Não me deram tempo… Não me informaram que ele estava mal há uma semana. Disseram há um dia” Filipe Nyusi presidente da república de moçambique “O Presidente da República apresenta as suas condolências à família de Afonso Dhlakama, com quem se pôde encontrar em Maputo anos atrás. Em mensagem enviada ao Presidente Nyusi, o chefe de Estado expressou o seu pesar pelo falecimento do líder da Renamo, partido com assento na Assembleia da República de Moçambique, e interlocutor privilegiado nos caminhos do diálogo, da paz e da concórdia neste nosso País irmão” Comunicado do Presidente da República “É um momento muito mau, principalmente para mim. Estávamos a resolver os problemas deste país. Esforcei-me para transferir o meu irmão para fora do país, mas não consegui. Estou muito deprimido. Não me deram tempo… Não me informaram que ele estava mal há uma semana. Disseram há um dia”