Vital Moreira, ex-eurodeputado socialista, publicou ontem no seu blog pessoal um texto onde criticava o artigo de opinião do secretário de Estado da Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, publicado no jornal “Público”.
Com o título “Geringonça: Uma história afeiçoada”, o ex-eurodeputado recusou a caracterização do secretário de Estado de que o atual acordo parlamentar compõe uma “solução de governo maioritária” lembrando que em “várias ocasiões, o governo teve de beneficiar do apoio da direita contra os seus alegados aliados e noutras foi derrotado por uma aliança dos mesmos com a direita, numa ‘geometria variável’ que é típica dos governos minoritários”.
“Nada disto quadra com a noção de ‘governo maioritário’”, disse Vital Moreira reforçando o “preço político” do acordo feito com o PCP, o BE e Os Verdes: “Importa também não esquecer que o acordo da geringonça cobra um significativo preço político ao PS, na renúncia a parcelas importantes do seu programa eleitoral”, escreveu o ex-eurodeputado.
Para o ex-eurodeputado, o acordo que sustenta o governo “revelou-se sobretudo uma solução conjuntural, limitada ao atual tempo das ‘vacas gordas económicas’, enquanto o excedente orçamental permite pagar os elevados custos da política de rendimentos imposta pelos parceiros no acordo, sem impossibilitar a política de consolidação orçamental”.
Vital Moreira defende que “a retoma económica já vinha de trás, desde o final de 2013, e foi essencialmente puxada pela retoma económica europeia, pelo boom turístico e pela política monetária expansionista do Banco Central Europeu (BCE)”.
“Não foi o fim da austeridade que gerou o crescimento, mas sim o contrário”, afirmou ainda acrescentando que “a reversão mais rápida das medidas de austeridade proporcionou um aumento do poder de compra que ajudou a dinamizar a economia, introduzindo um círculo virtuoso”. Redução que já teria começado em 2015 nos salários da função pública, lembra.
O ex-eurodeputado defende mesmo que, ao contrário do que Pedro Nuno Santos escreveu, não foi a geringonça que salvou o PS mas sim a queda do governo socialista em 2011 que fez com que o PS fosse “dispensado de gerir o penoso programa de assistência externa, que ele próprio tinha negociado, tendo voltado ao governo quando o ‘trabalho sujo’ já tinha sido concluído pela direita”.