Parlamento. PSD não vai largar caso Sócrates

Negrão ouviu elogios por ter sido mais agressivo com António Costa. PSD quer responsabilizar politicamente os governantes que estiveram com Sócrates 

A decisão de levar o caso Sócrates ao debate quinzenal com António Costa teve já dois efeitos políticos: uniu os sociais-democratas e inaugurou uma nova fase nas relações entre o PSD e os socialistas.

A iniciativa de questionar António Costa sobre a mudança de estratégia do PS em relação ao caso Sócrates partiu de Rui Rio. No início da semana, o líder do PSD deu instruções a Fernando Negrão para que o assunto fosse um tema central do debate quinzenal. Rio foi o primeiro a abordar o caso Pinho quando pediu a presença do ex-ministro da Economia no parlamento para explicar as suspeitas de que recebeu meio milhão de euros do Grupo Espírito Santo quando estava no governo.

A ideia é não deixar cair o assunto e alimentar uma oposição ao governo socialista mais agressiva. “As pessoas ficaram agradadas. O PSD abandonou um estilo mais pacífico e conciliador para fazer uma oposição mais viva”, diz ao i um deputado social-democrata.

Fernando Negrão ouviu, na reunião do grupo parlamentar, na quinta-feira, muitos elogios por ter questionado o primeiro-ministro sobre o caso Sócrates. Mesmo os mais críticos desta direção aplaudiram o líder parlamentar. Várias vozes defenderam que é preciso ir mais longe e responsabilizar politicamente os ministros de António Costa que estiveram no governo de Sócrates. “O núcleo duro de José Sócrates transferiu-se para este governo”, afirmou, na SIC-Notícias, o vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, António Leitão Amaro. O ex-ministro da Justiça Aguiar Branco ou o ex-vice-presidente do PSD Miguel Morgado defenderam, na reunião do grupo parlamentar, que o PSD não pode ignorar que muitos dos ministros de Sócrates estão neste governo. “Não quer dizer que sejam culpados, mas não deixam de ser politicamente coniventes com aquilo que se passou”, afirma ao i um social-democrata, que esteve presente na reunião. Fora do parlamento, o social-democrata José Eduardo Martins defendeu mesmo que os ministros do núcleo duro de José Sócrates “não têm condições” para continuar na política. “O PS de Costa é o mesmo PS de Sócrates (…). Costa herda o pessoal político de Sócrates”, disse, no programa “O Outro Lado”, na RTP.

Os críticos da aproximação de Rui Rio aos socialistas – que foi celebrada com um aperto de mão nos acordos sobre a descentralização e os fundos comunitários – avisaram, porém, que o PSD dificilmente poderá alinhar em mais entendimentos se continuar focado no período em que Sócrates governou o país. 

Socialistas irritados Do lado do PS não faltaram sinais de descontentamento por o PSD ter levado José Sócrates para o debate. Os socialistas lembraram que, quando Fernando Negrão substituiu Hugo Soares na liderança da bancada, prometeu fazer dos debates quinzenais sessões de trabalho. “Aquilo, na quarta-feira, não foi trabalho nenhum, mas, pura e simplesmente, um exercício de retórica parcialmente ofensivo e no resto inútil. O que é importante é que todos estejamos do lado da procura da verdade”, afirmou Carlos César.

O vice-presidente do grupo parlamentar, João Torres, foi mais longe e classificou a atuação do PSD como “miserável”. “Para todos os que acreditam na institucionalidade da função parlamentar, para todos os que se reveem no princípio da separação de poderes, a palavra miserável não é bastante para qualificar as questões dirigidas ao primeiro-ministro”, escreve, nas redes sociais, o deputado socialista.

Foi a primeira vez que o processo que José Sócrates enfrenta na justiça entrou numa discussão parlamentar. “Por que razão o PS demorou mais de três anos a demarcar-se de José Sócrates e do seu comportamento?”, questionou Fernando Negrão. Costa classificou a pergunta como uma “deslealdade parlamentar”.