Um pedido de demissão que não durou muito tempo

O deputado Ricardo Batista Leite pediu ontem a demissão do ministro da Saúde durante um debate no Parlamento. Horas depois, Rui Rio negou que tenha havido pedido de demissão.

«Face ao descalabro em que está instalado o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a única atitude séria que se poderia esperar do senhor ministro da Saúde era a sua demissão hoje aqui e agora.» Foi esta a intervenção do deputado Ricardo Batista Leite no debate agendado pelo PCP sobre a situação dos profissionais de saúde do SNS que terá levado Rui Rio a pôr as mãos à cabeça ontem de manhã.

O deputado criticou a falta de investimento do Governo no SNS depois de ter prometido, durante a campanha eleitoral, acabar com a austeridade. «Como médico não tenho memória de uma tão rápida degradação do serviço de Saúde e de um desgaste tão marcado dos nossos profissionais», disse Batista Leite.

Questionado sobre o pedido de demissão, o líder do PSD negou que tal tivesse sido um pedido de demissão. «Aquilo que me dizem que se passou na Assembleia não foi nenhum pedido de demissão», disse Rio aos jornalistas. «Aquilo que me dizem que foi o debate foi os deputados do PSD perguntarem ao senhor Ministro da Saúde se ele não quer reequacionar a sua posição no Governo face ao facto de estar a dividir a gestão do Ministério da Saúde, na prática, com o Ministro das Finanças», justificou acrescentando não ser o seu estilo pedir demissão de governantes. 

No entanto, em novembro de 2007, foi Rui Rio quem pediu a demissão do então ministro da Saúde do Governo de José Sócrates, Correia de Campos, por causa da gestão que considerou inadequada do Instituto da Droga e Toxicodependência.

A verdade também é que esta não é a primeira vez que a liderança e a bancada do PSD mostram falta de coordenação. 

Quando foi anunciado pelo Executivo a possibilidade da reposição dos cortes de 5% nos salários dos membros dos gabinetes políticos, Rui Rio concordou, Fernando Negrão não. «Se a política do Governo foi acabar com todos os cortes, não tenho nada a opor que se acabe com todos os cortes mesmo». disse o líder social-democrata a 19 de abril, depois de uma reunião com a Ordem dos Enfermeiros.  Já Fernando Negrão mostrou «preocupação» sobre o anúncio do Executivo, uma vez que «a despesa pública deve estar controlada e o primeiro a dar o exemplo deve ser o Governo». «Discordamos profundamente dessa medida», disse Negrão em nome da bancada parlamentar, ainda antes de saber que Rio havia concordado. «Penso de forma diferente», justificou.

Populismo e eleitoralismo

Adalberto Campos Ferreira, Ministro da Saúde, foi, na verdade, o primeiro a atacar o PSD e o CDS no debate. Depois da intervenção da deputada do PCP Carla Cruz, e ainda antes de qualquer um dos membros da oposição ter falado, o ministro acusou os partidos de direita de serem «cataventos» que baseiam a política «na pesquisa do motor de busca para ver o que a agenda reivindicativa do dia dá para depois fazerem o exercício cínico de verter lágrimas de crocodilo ensaiando uma rábula de defesa dos trabalhadores».

«O que nós não compreendemos nem podemos aceitar é o oportunismo populista, é este frenesim populista que assaltou aqueles mesmos que há dois anos tinham o discurso em espelho e que agora de repente rasgam vestes mostrando aflição por qual é a agenda do dia», acrescentou o ministro. No fim, Adalberto Campos Ferreira foi mais específico e dirigiu-se diretamente a Batista Leite. «O que nós vimos aqui  foi o topete de um deputado do PSD vir aqui falar das perceções ignorando a realidade e mentindo», disse, referindo-se à melhoria dos tempos médicos e às condições de acesso ao SNS.