Quase quinze anos depois do fecho da Feira Popular, esta semana arranca um novo capítulo da vida de Entrecampos e da capital. Essa é pelo menos a perspetiva do executivo de Fernando Medina, que hoje apresentou publicamente a chamada “Operação Integrada de Entrecampos”, projeto para dar uma nova cara a 25 hectares no coração da cidade, incluindo os polémicos terrenos da Feira.
A proposta camarária, a que o i teve acesso, abrange então uma área equivalente a 25 campos de futebol. Estende-se da rotunda de Entrecampos à linha de comboio, apanhando os terrenos da antiga feira e a avenida Álvaro Pais, sendo que os lotes da antiga feira ainda terão de ser vendidos para que se cumpram na íntegra os objetivos da autarquia. Por agora, porém, o objetivo é definir os planos globais para esta zona da cidade, que deverão condicionar futuros empreendimentos privados.
Na proposta, que o vereador Manuel Salgado levará amanhã à reunião extraordinária da câmara, a intervenção urbanística prevista para Entrecampos é classificada como “a maior da atualidade no país e das mais importantes já realizadas na cidade desde a Expo98”. Ao “Expresso”, Medina apontou para um investimento na casa dos 800 milhões de euros, dos quais 100 milhões serão verbas da câmara. Entre habitação, comércio e serviços, a autarquia estima que o projeto atraia 17 mil pessoas para esta zona da capital.
Mais habitação acessível Se conhece a zona, já terá reparado em obras no recinto da Feira Popular. Fonte oficial da autarquia explicou ao i que se trata de uma empreitada relacionada com um arruamento, já a pensar no futuro projeto. O objetivo é ligar a Rua da Cruz Vermelha à Avenida da República, criando assim uma nova passagem nova de circulação.
De resto, os planos da autarquia vertidos na proposta subscrita por Manuel Salgado dão algumas pistas sobre o que será esta nova Entrecampos, a cumprir-se o programa da câmara.
A Operação Integrada de Entrecampos tem seis objetivos centrais, lê-se na proposta.
O primeiro é criar 700 fogos de habitação de renda acessível para as classes médias e 279 em regime de venda livre.
Segue-se o plano para tornar Entrecampos um “centro de serviços de referência internacional”, convergindo no atual interface de transportes todas as ligações ferroviárias da área metropolitana de Lisboa e a linha amarela do metro.
De seguida, surge a aposta em espaços de lazer: o projeto contempla a criação de um total de 24.700 m2 de novos espaços verdes, cerca de 2,4 hectares, sensivelmente metade da área do jardim da Estrela.
Entre os objetivos surgem ainda o reforço da oferta de comércio, “privilegiando as lojas de rua nos vários espaços da intervenção integrada”. Pretende-se ainda o aumento a oferta de equipamentos sociais, nomeadamente com três creches e um jardim de infância mas também maior resposta para a terceira idade, com uma unidade de cuidados continuados, centros de dia e lar. Numa vertente cultural, está prevista a preservação da memória do Teatro Vasco Santana e uma galeria de arte.
Câmara assume construção De acordo com a proposta, a maioria dos fogos de habitação destinados ao programa de rendas acessíveis serão construídos diretamente pelo município (515 em 700). Os restantes resultarão de protocolos com a Segurança Social e com a Santa Casa da Misericórdia.
No caso da Segurança Social, estão em causa projetos de reabilitação para uso habitacional de cinco edifícios na Av. da República-Entrecampos, atualmente com serviços públicos. Para esse efeito, está previsto um protocolo entre a autarquia e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que se encontra em fase de negociação, indica a proposta.
Quanto à Santa Casa, ao todo está prevista a disponibilização de 63 apartamentos.
Nos terrenos da antiga Feira Popular ficarão os imóveis de iniciativa privada, com fogos de habitação para o mercado de venda livre. O plano da autarquia prevê ainda outras novidades para esta zona da cidade como a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Av. da República.
Para já não há data para lançamento das novas hastas públicas para alienação dos terrenos da Feira. Medina apontou a entrega das primeiras chaves para 2019. Por agora, deverá seguir-se um período de discussão pública do projeto por 22 dias úteis, conforme a proposta de Manuel Salgado, que será apreciada esta quinta na reunião camarária.